CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - A líder religiosa Sebastisana Gauto, 92, e o marido, Rufino Velasque, 55, ambos da etnia guarani-kaiowá, foram encontrados carbonizados nesta segunda-feira (17) na aldeia Guasuty, em Aral Moreira, em Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com Paraguai.

Robson Rocha, 26, sobrinho da idosa, foi preso em flagrante nesta terça (19). Segundo a polícia, ele confessou o crime. Ele não havia ainda constituído advogado.

O nome da etnia guarani-kaiowá ganhou destaque mundial quando uma carta aberta de indígenas foi interpretada como um anúncio de suicídio coletivo, em 2012, em uma aldeia no mesmo estado.

Nas redes sociais, a assembleia das mulheres guarani e kaiowá Kuñangue Aty Guasu diz acreditar que se trata de crime de intolerância religiosa por causa da atividade da idosa, curandeira e benzedeira conhecida na aldeia. Na comunidade de 670 habitantes, era "Ñande Sy" Sebastiana, termo em guarani que significa "nossa mãe".

O delegado de Aral Moreira, Maurício Vargas, descartou crime de intolerância religiosa. Segundo ele, em depoimento, Rocha confessou ter jogado cachaça no chão e depois ateado fogo na casa.

No entanto, o sobrinho não foi claro sobre como matou o casal ou qual seria a motivação do crime. "Nem ele sabe dizer ao certo, só falou que estava 'louco de droga'", disse o delegado.

O suspeito foi levado para a 1ª Delegacia de Ponta Porã e deve passar por audiência de custódia nesta quarta (20).

A equipe da Polícia Civil foi acionada durante a madrugada desta segunda-feira. Os corpos, completamente carbonizados, foram encontrados perto da casa, também destruída no incêndio, assim como objetos usados nos rituais de reza e cura.

Informações de moradores da aldeia levaram ao suspeito. A polícia apura a informação de que ele estaria traficando drogas, além de ser usuário.

O sobrinho foi encontrado próximo da área urbana de Aral Moreira. Os corpos carbonizados já foram liberados pelo IML (Instituto Médico-Legal) para o velório, que deve ocorrer na aldeia.

Coordenador regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em Ponta Porã, Tonico Benites disse que foi até a comunidade e conversou com vizinhos e familiares da idosa e não descarta a intolerância como motivação para o crime.

Benites disse que a idosa, por ser liderança religiosa tradicional, era contra o uso e a comercialização de drogas na aldeia. "Toda liderança, que defende o povo guarani, é contra o tráfico e ela falava sobre isso."

O coordenador disse que vai encaminhar pedido formal para que a Polícia Federal assuma a investigação.


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