A partir desta terça-feira (19) até 5 de novembro, Brasília será, pela primeira vez, uma das sedes da Bienal Internacional de Arte Contemporânea do Sul, a BienalSur, coordenada, desde 2017, pela Universidad Nacional de Tres de Febrero, na Argentina.  

A quarta edição do evento cultural, que ocorrerá nos cinco continentes, chega ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com título “Signos na Paisagem”.  Serão expostas as obras de 11 artistas, de seis países.  

Na abertura da exposição, o diretor-Geral da BienalSur, o sociólogo argentino Aníbal Jozami, explicou que a tônica da exposição traz a preocupação dos artistas contemporâneos com as questões ambientais.

“Da mesma maneira que, nas edições anteriores, foram tratados problemas como de migrações, de igualdade de gênero e de questões sociais, nesta edição, os artistas adotaram como tema principal o meio ambiente. Por isso, essa mostra e, praticamente, todas as 175 mostras diferentes da Bienal Sur 2023, em diferentes lugares do mundo, têm como tema predominante a necessidade de conservar a Terra.” 

O objetivo da Bienal Internacional é levar o público a refletir sobre as formas de como o ambiente natural está sendo modificado, há séculos, pela ação humana, seus impactos no planeta e a exigência de atenção especial ao tema. 

Para os organizadores, as obras podem despertar emoções, hábitos de pensamento e sentimentos necessários ao enfrentamento da crise climática, que ano a ano provoca mais eventos extremos e com maior intensidade. 

Diversidade 

A Bienal Sur 2023 é apontada como a mostra cultural mais extensa do mundo. Isto porque, a partir da sede da Bienal, na cidade de Buenos Aires, na Argentina, batizada de Quilômetro Zero, até o ponto mais distante, o Japão, o público pode percorrer 18.370 km, onde estão as 175 sedes do evento, localizadas em mais de 70 cidades, de 28 países. O evento reúne as expressões artísticas de mais de 400 artistas.

As 175 exposições começaram a ser abertas em julho e estão sendo inauguradas, desde então, em vários endereços. A curadora mostra e diretora artística da Bienal Sur 2023, Diana B. Wechsler, explica a dinâmica do evento mundial.

“A essa altura, a BienalSur, que é o projeto cultural mais extenso do globo, começa a estar simultaneamente em todo o planeta, entre setembro e outubro. Isso faz de cada espaço um centro e, ao mesmo tempo, o conecta de maneira global. Então, essa relação entre o local e o global é parte do que a Bienal Sur busca como experiência cultural.” 

No Brasil, a BienalSur 2023 tem outras sedes, além da capital federal. São elas:  a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS); Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba (PR); Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro; Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre (RS); Museo de Arte Contemporânea de Sorocaba, Sorocaba (SP); Memorial da América Latina, São Paulo (SP). E, ainda, na Embaixada do Brasil, na capital portenha, na Argentina. 

 

Brasília (DF) - Obra da BienalSur 2023, no CCBB. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Obras e projetos 

A BienalSur abre chamadas internacionais, sem temas pré-estabelecidos. A partir das chamadas livres e com formato inédito, os próprios artistas delineiam quais serão os grandes eixos temáticos de cada edição, e que vão nortear as escolhas dos trabalhos pela curadoria.  

Em 2023, a temática do meio ambiente ganhou corpo e, atualmente, está presente nas esculturas, performances ao vivo, fotografias, pinturas, montagens, entre outras expressões artísticas expostas na maior parte das 175 sedes desta edição. 

O secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Laudemar Aguiar, destacou a importância da BienalSur ter sedes no Brasil, além dos intercâmbios de ideias, de culturas e dos movimentos de aproximação entre as nações do sul global.

“Temos que ser mais protagonistas em coisas que nós não estamos sendo, ainda, e que queremos ser, como por exemplo, os protagonistas em questões do meio ambiente e a sustentabilidade.  Isso é o que tem acontecido no início desse governo [do presidente Lula].” 

Após a abertura das chamadas internacionais, por seis meses, artistas, instituições ligadas às artes e curadores de diversos pontos geográficos do planeta trabalharam em esquema colaborativo para definir o que, agora, está sendo exposto ao público e em quais formatos. 

A curadora Diana B. Wechsler explica que as artes tentam propor alternativas aos problemas vividos e são um importante espaço de reflexão, diante dos problemas da vida contemporânea 

Em Brasília, a BienalSur apresenta ao público obras em que estão presentes elementos como água, ar, terra, fogo, memórias olfativas e auditivas. Entre os trabalhos expostos estão o da fotógrafa e artista plástica brasileira Rochelle Costi, falecida em 2022, autora de Casa & Jardim com registros de insetos encontrados na área externa de sua casa/ateliê. 

Brasília (DF) - Obra da artista plástica brasileira Rochelle Costi. Foto: José Cruz/Agência Brasil

E também pode ser conferida a série Silence, com 16 fotografias digitais do meio urbano, de Dias & Riedweg, do Brasil, captadas em 2020. 

Na inauguração do espaço, três artistas estrangeiros estiveram presentes para explicar ao público o contexto da criação de suas obras. O artista saudita Hatem Al Ahmad fez uma performance ao vivo, em seu vídeo em que membros da comunidade Abha (Arábia Saudita), cuidam das árvores de um bosque local, em um ritual que reconecta o tempo e as boas práticas de convivência com o ambiente natural. 

Já a uruguaia Silvia Alejandra Gonzalez Soca, autora da Moebius, apresentou sua obra viva em que sementes de chia, linhaça foram plantadas na terra que ela coletou nos jardins do CCBB- Brasília. O material orgânico, regado de tempos em tempos, serviu também fazer moldes do rosto da própria artista e que dividem o espaço da obra com os brotos que germinam.

Em entrevista à Agência Brasil, a artista explicou que a obra se modifica constantemente. “É uma peça que nos leva a repensar as formas que habitamos, a forma que cuidamos de nós e dos outros seres que habitam os mesmos territórios. De alguma maneira, nos remete aos rituais muito ancestrais, que tem a ver com esse olhar de onde estamos e como cuidar dessas sementes, esses alimentos para que a vida possa continuar crescendo”. 

A uruguaia ainda valoriza o papel das mulheres. “As mulheres sempre foram as grandes cuidadoras da terra, das sementes, dos rituais vinculados ao plantar, de estar na casa, no lugar. Pessoalmente, Moebius me leva à minha mãe e à minha avó, mulheres rurais do centro de Uruguai.”

Público 

O público que compareceu à abertura da BienalSur,  foi formado, sobretudo, por estudantes de universitários de Artes e artistas locais que contribuíram, na última semana, para a exposição das obras. 

É o caso da curadora e gestora cultural da galeria de arte A Pilastra, Gisele Lima, que apoia a arte no Distrito Federal. “A exposição está inexplicavelmente linda. Tem trabalhos únicos que trazem, de fato, matéria orgânica viva para dentro de uma galeria, que também é outro ponto diferencial.” 

Gisele Lima trouxe a filha, de dois meses, e a mãe, a pedagoga aposentada Maria Luísa Rocha. Ela aprovou o que viu. “Eu amei porque tem a discussão sobre todo esse momento que a gente tem vivido: essa questão do clima, da vegetação, da preservação ambiental”. 

A estudante universitária de Teoria Crítica e História da Arte, Sabrina Lima, esteve em contato com os artistas enquanto eles montavam as obras. “O público vai reagir muito bem, principalmente, por ter várias instalações com algo que, mesmo que não se possa tocar, mas, é permitido ter mais contato, por não ter um vidro, e nem outra barreira física.” 

A estudante universitária de Artes Visuais, Sônia Helena, trabalhou como assistente dos artistas também e dimensionou a experiência. “Achei muito frutífero conhecer as artistas, trabalhar junto a elas. Como estudante de artes, foi muito bom ter essa gama de artistas de diferentes países, com diferentes conceitos, aqui dentro.” 

BienalSur na Amazônia

O secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Itamaraty, o embaixador Laudemar Aguiar, sugere que a 5ª edição do evento ocorra na mesma época da 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).  

À reportagem da Agência Brasil, o embaixador Laudemar Aguiar defendeu o desenvolvimento sustentável e aprofundamento do conhecimento sobre o maior bioma do Brasil.

“As pessoas, muitas vezes, pensam que sustentabilidade é só a preservação do meio ambiente. Mas, vai além. O desenvolvimento sustentável é a preservação do meio ambiente, mas também tem a inclusão social, o desenvolvimento social e desenvolvimento econômico: um tripé. Temos quase 30 milhões de habitantes, na Amazônia. Nós temos que incluir essas pessoas nesse processo de sustentabilidade, que não é só de preservar as árvores”, defende o embaixador do MRE, Laudemar Aguiar. 

O diretor geral de Bienal Sur, Aníbal Jozami, aceitou o convite para ter uma sede do evento na Amazônia em 2025.

Serviço: 

Bienal Sur - exposição Signos na Paisagem  
Local: Galeria 4, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - Brasília
Horário: terça a domingo, das 9h às 21h 
Entrada gratuita com retirada de ingresso no site e na bilheteria física no local 

Tags:
Bienal Sur | CCBB | Geral | meio ambiente


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