SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os espancamentos e castigos no espaço de reabilitação onde Onésio Júnior, 39, morreu, na última segunda-feira (25), eram frequentes, segundo a filha de um paciente e um ex-coordenador no local. A Comunidade Terapêutica Kairós Prime fica em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo.
Cinco homens, funcionários da unidade, com idades entre 26 e 65 anos, foram presos sob suspeita de envolvimento na morte do paciente. A Polícia Civil não divulgou os nomes deles e não soube informar se eles já apresentaram defesa.
A reportagem procurou o dono da comunidade, Ueder Santos de Melo, por meio de mensagem e ligações, porém não recebeu resposta.
Na terça-feira (26), a Kairós afirmou que não aceita agressões. "A polícia já está apurando os fatos e estamos à disposição da Justiça para todo e qualquer esclarecimento. Não somos coniventes com nenhum tipo de agressão", declarou.
Carolina Costa diz que o pai dela, internado na unidade desde abril, relatou problemas. "Ele só podia ligar uma vez por semana. Até que um dia ele falou mal da qualidade da comida e começou a dizer que o sistema era bruto lá, que batiam, que espancavam. Mas não acreditei. Pensei que era desculpa para sair de lá."
Ela afirma ter feito contato com a clínica e recebido fotos mostrando café da manhã, almoço, atividades, como prova de bom tratamento. "Comecei a desconfiar quando percebi fotos repetidas. Percebia que estavam mandando fotos de dias anteriores como se fosse daquele dia."
O pai, segundo a filha, dizia que tudo era motivo para baterem nos internos. "Ele dizia que, se reclamassem da comida ou se tentassem fugir, apanhavam. Tudo era motivo. Ele nunca apanhou, mas via outros sendo amarrados e espancados com ferro, madeira. Até que me ligou e contou do homem que morreu de tanto apanhar. Só aí fui descobrir que era tudo verdade", conta Carolina.
Ivonildo Coutinho, 49, que se apresenta como terapeuta holístico e técnico em dependência química, diz que trabalhou na clínica por três meses, até julho, e tentou mudar a cultura da violência.
"O dono, o Ueder Santos de Melo, me contratou porque ele sabia das agressões e disse que queria acabar com isso que tava acontecendo em todas as clínicas. Fui trabalhar na Gold, que fica em Juquitiba. Lá tinham agressões, mas não era tão grave", afirma o ex-funcionário.
De acordo com ele, depois de uma semana, o dono da clínica o transferiu para a Kairós Prime porque lá as agressões eram piores.
"Lá precisava de mais voz ativa para acabar com isso. Eu avisei que não ia aceitar mais as agressões. O clima era muito opressor, todos os pacientes acuados, com medo. Eles gritavam com os pacientes. Eu via batendo e impedia, cansei de salvar gente que eles jogavam na piscina de madrugada", afirma.
"Eles levavam para a enfermaria para amarrar e espancar lá porque não tinha câmera. Eu fazia de tudo para os pacientes não irem para lá porque eu não ia conseguir impedir", diz Coutinho.
Segundo ele, eram sete funcionários para dar conta de 95 pacientes, em média, mas a maioria sem formação. "A maioria é ex-paciente da própria clínica que trabalha lá como monitor."
Coutinho diz que por algum tempo conseguiu fazer com que as agressões parassem, mas que não tinha apoio da coordenadora do espaço.
"Ela disse para o Ueder que era ela ou eu. Ele optou por ela e eu fui para outra unidade. Mas me demiti porque sabia que as agressões iam continuar", afirma.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que a Polícia Civil investiga a responsabilidade do dono da clínica na morte do paciente e investiga as agressões.
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