MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - Pesquisadores envolvidos na busca por respostas para a mortandade de botos e tucuxis no lago Tefé, em meio ao agravamento da seca na Amazônia, vêm encontrando dificuldades para a remessa de material biológico a centros de pesquisa em Manaus e São Paulo.
A análise desse material permitirá saber o que ocorreu e guiará a tomada de decisões diante do risco de novas mortes.
Em um período de uma semana, dos dias 23 a 29 de setembro, 110 golfinhos de água doce morreram nas imediações do porto da cidade de Tefé (AM), que fica na região do médio rio Solimões. As mortes ocorreram num momento em que o rio caminha para uma seca extrema, e com superaquecimento das águas do lago -39°C, quando o normal para o período são 31°C.
A quantificação das mortes e o trabalho desencadeado a partir da mortandade são conduzidos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, sediado em Tefé e voltado a atividades de pesquisa e manejo sustentável na Amazônia. O instituto é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) enviou equipe à região para ajuda no resgate de animais e na apuração das causas da mortandade.
No lago Tefé, a estimativa do Instituto Mamirauá é que existia uma população de 900 botos e 500 tucuxis -esta é uma espécie de boto. Assim, a perda de animais até agora é de quase 8%.
Há machos, fêmeas, filhotes, jovens e adultos entre os animais mortos. A seca e o esquentamento da água são as principais hipóteses, mas outras não estão descartadas, como a possibilidade da presença de alguma toxina ou patógeno no curso d'água.
Por isso, a análise do material biológico é considerada fundamental pelos pesquisadores, até mesmo para definição do destino de animais que venham a ser resgatados.
Segundo a pesquisadora Miriam Marmontel, líder do grupo de pesquisa de mamíferos aquáticos amazônicos do Instituto Mamirauá, ainda não houve avanço sobre as causas das mortes, uma vez que amostras ainda não foram analisadas. "Há dificuldade de retirá-las de Tefé", afirmou.
Há cancelamento de voos comerciais, recusa de transporte de material biológico e falta de espaço em aeronaves, conforme Marmontel.
Por água, grandes embarcações não estão entrando na área da cidade, em razão da seca dos rios. Lanchas rápidas para Manaus estão gastando até 40% a mais de tempo por causa do esvaziamento dos rios.
"Temos material urgente para enviar a várias instituições parceiras, para análises histopatológicas emergenciais, PCR de doenças infecciosas e pesquisa de biotoxinas", disse a pesquisadora. Entre essas instituições estão a Ufam (Universidade Federal do Amazonas), USP (Universidade de São Paulo) e Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
"Se não chegar a tempo nas condições ideais, terá sido trabalho perdido", afirmou Marmontel.
No fim de semana, chuvas esparsas garantiram um esfriamento do lago e uma pequena elevação do nível das águas. Quando o rio voltar a descer, a previsão é de que ocorram novas mortes de botos.
"Temos novas equipes chegando, especializadas em resgate de cetáceos vivos", afirmou a pesquisadora do Instituto Mamirauá. "Hoje [segunda, 2], tentaremos uma captura para monitorar saúde, comportamento, possível medicação e coleta de material, para tomarmos novas decisões."
Na seca histórica de 2010, não houve mortandade de botos como a verificada na semana passada nos cursos d'água de Tefé, segundo pesquisadores do Mamirauá. Eles dizem não ter ocorrido essas mortes em outros ciclos de seca na região.
A seca na Amazônia, em especial no Amazonas, já levou 19 cidades do estado a declararem situação de emergência, entre elas a capital, Manaus.
Comunidades ficaram isoladas, há dificuldade de transporte e de acesso a alimentos e medicação. Também há casos de mortandade de peixes e animais em diferentes regiões.
O governo do Amazonas decretou situação de emergência em 55 dos 62 municípios do estado, em razão da seca severa. O governo federal também anunciou medidas de socorro para a região, como apoio à distribuição de cestas básicas.
A expectativa é que haja um agravamento da situação em outubro, mês das piores baixas dos rios amazônicos em momentos extremos, como 2010.
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