RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Wilton Quintanilha, o Abelha, considerado um dos principais líderes do Comando Vermelho, é um dos homens mais procurados nas operações que ocorrem nesta semana no Rio de Janeiro. O traficante, no entanto, pode ficar solto caso consiga em breve sair do estado.

O nome dele não está no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão), apesar de ele ser considerado pela Justiça fluminense como foragido. A reportagem monitorou o banco nas últimas duas semanas e os documentos não constavam como disponíveis.

A reportagem procurou o Tribunal de Justiça na manhã para perguntar sobre a ausência do nome do sistema. Recebeu como resposta que, após o questionamento da reportagem, fez a inclusão das informações. Os dados, no entanto, ainda não apareciam no sistema na tarde desta terça (10).

O BNMP é um órgão vinculado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e reúne todos os mandados nacionais. Assim, caso um procurado transite por estados ou tente passar pela fronteira brasileira, será detectado como foragido, se a identidade for verificada.

A reportagem procurou o CNJ sobre a retirada dos mandados do sistema, quando ocorreram e qual foi a motivação. Por intermédio da ouvidoria, o órgão afirmou que encaminhou a demanda ao setor responsável.

Com a ausência dos mandados no banco, Abelha somente pode ser preso fora do estado do Rio se for reconhecido por uma autoridade que solicite ao governo fluminense a situação judicial. Somente com a consulta por meio de documentos, fora do estado seu nome não aparece como procurado.

No banco de dados das polícias fluminenses constam três mandados ativos de prisão preventiva para Abelha, que estão públicos.

Um delegado da cúpula da Polícia Civil disse que pedirá à Polinter (Divisão de Capturas da Polícia Interestadual) que apure junto ao sistema nacional o motivo da ausência dos pedidos de prisão.

SAÍDA DE PRESÍDIO COM MANDADO ATIVO

Nesta segunda (9), primeiro dia da Operação Maré, um policial militar foi preso com 151 quilos de cocaína, na avenida Brasil. Segundo investigadores, ele seria homem de confiança de Abelha e realizava a segurança da droga.

Abelha saiu pela porta da frente do Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio, em 2021, mesmo com mandado de prisão ativo. Ainda restavam 18 anos de prisão pelo crime de um homicídio; ele já havia cumprido 19 anos preso, incluindo uma passagem por presídio federal.

A Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) afirmou, na ocasião da sua saída, que houve falha de comunicação entre o Judiciário e o complexo penal. Assim que passou pela porta da frente do presídio, Abelha recebeu um aperto de mão do então secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro, fato gravado pelas câmeras do presídio.

Montenegro foi preso em agosto do mesmo ano pela Polícia Federal, suspeito de negociar com chefes do Comando Vermelho. Em março de 2022, o TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) trancou a ação penal.

Ao sair da prisão, o criminoso foi em um shopping e, logo depois, recebido com festa no Complexo da Penha, zona norte. O anfitrião da recepção, segundo investigadores, teria sido Edgar Alves, o Doca ou Urso, apontado como chefe da quadrilha no conjunto de favelas. Abelha, de acordo com agentes penitenciários, era padrinho de Urso na prisão.

Juntos, Abelha e Urso começaram uma expansão para a zona oeste, de acordo com denúncias à Justiça. Ainda de acordo com investigações, Abelha coordenou invasões à distância em áreas de milícia em uma disputa que já deixou cerca de 50 mortos nos seis primeiros meses desse ano. O objetivo dos criminosos é Rio das Pedras, berço da primeira milícia do estado, criada na década de 1990.

Lá, o transporte de vans tem um lucro estimado de R$ 3 milhões por mês, de acordo com um delegado.

Atualmente, o traficante tem um mandado de prisão por associação ao tráfico e dois por homicídios. Um deles se refere ao assassinato de Ana Cristina Silva, 25, morta no morro de São Carlos, região central do Rio, em 2020.

A vítima trabalhava dentro de um bar quando foi atingida ao proteger o filho de três anos. Segundo investigação, o criminoso coordenou de dentro da cadeia a invasão do Comando Vermelho à favela, de uma quadrilha rival.

Em liberdade, Abelha costuma ir a bailes funks e fundou um time de futebol em homenagem ao filho morto em operação policial, de acordo com investigadores. Pablo Quintanilha tinha envolvimento com o tráfico, segundo a polícia, e morreu em confronto com agentes da Polícia Militar. Em sua homenagem, Abelha utiliza um cordão com a inscrição "Pablo Vive". A mesma frase pode ser vista em áreas da facção.

A polícia apura possível participação do criminoso no "tribunal do tráfico" que teria decidido pela morte dos supostos homens apontados como assassinos do grupo de médicos em um quiosque na Barra da Tijuca.


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