SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Instalado há menos de uma semana, o canteiro de obras para a construção de um novo equipamento de moradia transitória para famílias em situação de rua foi vandalizado na região de Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Ferramentas e materiais de construção foram furtados e um contêiner foi pichado com mensagens de ataque ao projeto da prefeitura, como "fora albergue" e "noia [termo pejorativo para usuários de drogas] aqui não".
Depois do episódio, ocorrido na madrugada desta quinta-feira (19), a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social registrou boletim de ocorrência e solicitou reforço de segurança à GCM (Guarda Civil Metropolitana).
O equipamento em implementação será uma nova unidade do programa Vila Reencontro, e terá capacidade para abrigar até 50 famílias com crianças quando ficar pronto. A expectativa da gestão Ricardo Nunes (MDB) é que a nova vila seja inaugurada no primeiro trimestre de 2024, mas a depredação do canteiro pode atrasar o cronograma.
"Teve destruição, quebraram blocos e sarrafos, espalharam as coisas todas, arrancaram tapumes. E picharam essas frases de cunho agressivo e preconceituoso contra a população de rua", disse o secretário Carlos Bezerra Júnior, que esteve na região nesta quinta-feira para dialogar com lideranças comunitárias que articulam abaixo-assinados para tentar barrar o programa.
Localizado na região do conjunto habitacional José Bonifácio, o terreno em que a nova vila será implementada pertence ao município e estava sem uso há 50 anos, segundo Bezerra. Informalmente, moradores utilizavam a área como praça e para a realização de uma feira.
Principal resposta da gestão Nunes ao aumento da população em situação de rua na cidade, o programa Vila Reencontro está passando por ampliação, mas enfrenta resistência de vizinhos em diferentes regiões.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a criação de novas vilas já motivou abaixo-assinados, manifestações e até boatos de que os equipamentos levariam a cracolândia para os bairros em que são implementados. O furto de materiais chegou a atrasar em mais de um mês a inauguração de uma unidade do programa no Pari, região central.
Atualmente, a cidade tem três vilas Reencontro em funcionamento, todas na região central. Os equipamentos são compostos por casas modulares de 18 m² organizadas em vilas. A gestão Nunes planeja ainda inaugurar uma nova unidade até o fim do ano e outras 11 em 2024.
Segundo a prefeitura, 28 famílias conseguiram "saída qualificada" do programa -com autonomia econômica e alternativa de moradia- até o fim de setembro.
Segundo o TCM (Tribunal de Contas do Município), cerca de 50 mil pessoas vivem em situação de rua na capital paulista. Recentemente, o órgão cobrou da prefeitura a apresentação de um plano com ações de acolhimento para a população sem-teto.
As ações da atual gestão em relação aos moradores de rua são consideradas ruins ou péssimas para 73% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha publicada no início de setembro. O percentual aumentou em relação a levantamento sobre o assunto feito em abril do ano passado (63%). Na pesquisa mais recente, apenas 8% julgaram as ações como ótimas ou boas e 18%, como regulares.
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