BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A advogada Janira Rocha, encarregada de solicitar uma reunião no Ministério da Justiça da qual participou Luciane Barbosa Farias, esposa de homem apontado como líder do Comando Vermelho do Amazonas, disse que existe uma exploração política sobre o caso.

Membros do Ministério da Justiça, pasta comandada por Flávio Dino, receberam Luciane, que é casada com Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas. Ele é suspeito de ser um dos principais criminosos do Amazonas, sendo preso em dezembro do ano passado.

"O que existe é a utilização desse movimento para atacar o governo. Para nós, ali todo mundo é familiar de preso e está buscando pelos direitos fundamentais das pessoas encarceradas, nós não defendemos facções criminosas. Luciane estava lá porque faz parte da Anfap [Articulação Nacional de Familiares de Presos]", disse.

Para sustentar essa perspectiva de utilização política, Rocha destacou que, durante o governo Bolsonaro, tanto ela como mães de detentos, incluindo Josefa Amaro da Silva Oliveira, mãe de Márcio Amaro de Oliveira, conhecido como Marcinho VP, foram pessoalmente recebidas pelo presidente para discutir a situação da Covid no sistema prisional.

Rocha esclareceu que foi ela quem requisitou a audiência no Ministério da Justiça e Segurança Pública com o secretário de Assuntos Legislativos na pasta, Elias Vaz. E disse que, na ocasião, mencionou apenas que duas mães que tinham perdido seus filhos e representantes de familiares de detentos estariam presentes.

A oposição tem usado a informação para atacar Dino. Deputados pediram que o ministro seja convocado a prestar esclarecimentos na Câmara dos Deputados.

"Quero saber qual a relação do ministro Flávio Dino e do Comando Vermelho. Fizemos a convocação e o pedido de impeachment do ministro da Justiça. O ministério não deveria se misturar com membros perigosos de uma organização criminosa, como o Comando Vermelho", disse o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), nas redes sociais.

Nesta segunda (13), o ministro da Justiça lançou a Força Penitenciária Nacional, corporação ligada à Secretaria Nacional de Políticas Penais. Após o evento, Dino não participou da entrevista coletiva e deixou Vaz sozinho dando explicações.

Segundo Vaz, antes do evento, Dino ligou para ele e chamou sua atenção. "Ele não ficou satisfeito, chamou a minha atenção e disse que eu teria que tomar cuidado com as pessoas que eu recebo. Eu falo isso de forma pública porque eu preciso tomar uma posição mais cautelosa", disse.

O secretário assumiu toda a responsabilidade sobre o fato e disse que ficou sabendo de quem se tratava pela imprensa. Foi Vaz quem solicitou a Rafael Velasco, secretário Nacional de Políticas Penais, que também recebesse o grupo.

"Eu quero lamentar esse episódio. Primeiro, se teve algum erro, esse erro foi de minha parte por não ter feito uma verificação mais profunda das pessoas que recebi", disse Vaz.

A segurança pública vem sendo um dos pontos de atenção do governo desde que Lula assumiu. O tema passou a causar mais preocupação após estados comandados por aliados do presidente aparecerem entre os mais violentos. A Bahia, por exemplo, comandada por Jerônimo Rodrigues (PT), passou por uma onda de violência histórica em setembro, com mais de 50 mortos pela Polícia Militar.

Com a escalada da violência, Dino chegou a anunciar, no início de outubro, um plano de enfrentamento ao crime organizado, mas até o momento não houve detalhamento de como a proposta será implementada. Na mesma data do anúncio, assinou portaria para reforço da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e envio da Força Nacional ao Rio.

A falta de uma resposta mais efetiva colocou Dino na mira e reacendeu o debate acerca da divisão do Ministério da Justiça em dois, separando-o da Segurança Pública.


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