BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal acessou conversas entre um homem apontado como líder do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, e pessoas ligadas ao grupo de Diego Hernan Dírisio, classificado como um dos maiores traficantes de armas da América do Sul.

Em relatório da operação Dakovo, os investigadores mostram como intermediadores negociavam armas com traficantes, entre eles Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor. Ele é apontado pela PF como uma das lideranças do CV.

Em um dos diálogos, o traficante brasileiro reclama da arma ofertada e diz que elas não são mais usadas no Rio de Janeiro porque são de calibre "fraco".

Dírisio e Gregório são alvo de mandado de prisão na investigação que mira o esquema que teria importado cerca de 43 mil armas para o Paraguai e movimentado cerca de R$ 1,2 bilhão em três anos.

O líder do Comando Vermelho aparece em conversas com Angel Flecha, apontado como um dos principais negociadores de armas com a IAS-PY, empresa de Dírisio que importava os armamentos, e um dos responsáveis por negociar com facções brasileiras.

Em 14 de maio de 2022, por exemplo, Flecha envia a imagem de uma pistola, informa que chegaram dez unidades modelo Arex e oferece também outro modelo calibre.380.

"Aqui no Rio a gente não usa mais esse calibre aí não, que é muito fraco, entendeu mano, 380 é fraco, a gente não usa não, entendeu, tem que ser 9, 40, 45!", responde o líder do CV.

Dias depois, em 22 de maio, Gregório reclama com o intermediário de Dírisio que a coronha dos fuzis entregues não estaria funcionando de forma adequada.

"O bagulho é ruim, que o bagulho é falsificado, não é bom, não é montado, aí poxa mano, você mandava só os top, só vinha bonitão, aí ultimamente só vem caindo a qualidade, das peças, da rajada das coisas, vem caindo, tava vindo aquela coronha bonitona, que são e que bota, agora ta vindo essa daí, os últimos que veio, veio mais ou menos", disse ele.

A reportagem não localizou os advogados dos citados na investigação. No processo que deu origem à operação ainda não consta registro de defesa dos alvos.

Os investigadores também acessaram conversas de Allan da Rocha ?conhecido como Bolt e apontado como homem de confiança do líder do CV? com Angel Flecha.

"As investigações revelaram que Allan Rocha (Bolt) foi para o Paraguai se encontrar com Angel e com outra pessoa também chamada de Alemão, para buscar as armas e introduzi-las em território brasileiro", diz trecho da decisão que autorizou a prisão dos traficantes.

Ao chegar à fronteira, o aliado do líder do CV ativou um novo chip no celular e enviou mensagens para seu chefe.

Em seguida, Gregório pergunta se ele já se encontrou com Alemão e afirma que no dia anterior, 15 de março de 2022, dois fuzis AR haviam sido apreendidos pelas autoridades brasileiras e informa sobre o envio de R$ 28 mil para novas compras.

"Em seguida 'Bolt' diz que outros 5 fuzis AR já teriam chegado em seu poder. Dessa forma pode-se inferir que o motivo do encontro de 'Bolt' com Angel e 'Alemão' seria realmente para buscar mais armas do Paraguai", diz a PF.

Segundo os investigadores, as conversas e outras provas obtidas ao longo da investigação mostram que o grupo liderado por Diego Herna Dírisio atua de forma contumaz no tráfico internacional de armas e estão "envolvidos na importação de grandes quantidades de armas da Europa e internacionalização delas em território nacional, abastecendo grandes grupos criminosos brasileiros."

As armas eram importadas de países como a Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia.

Depois que as armas importadas da Europa chegavam ao Paraguai, eram raspadas e repassadas a grupos intermediários na fronteira, como o de Angel Flecha, que então as revendiam às principais facções criminosas do Brasil.

As investigações começaram na Delegacia de Polícia em Vitória da Conquista, na Bahia, em 2020, quando dois indivíduos foram presos em flagrante com 23 pistolas de origem croata e dois fuzis com indícios de adulteração, além de munições e carregadores.


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