SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O desempenho dos estudantes do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país supera a média nacional brasileira nas três áreas avaliadas (matemática, leitura e ciência) pelo Pisa 2022, exame internacional da educação básica.
No entanto, ainda que apresentem uma pontuação maior, nenhuma das regiões do país consegue atingir a média dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A análise mostra que a região Sul possui as maiores pontuações. Em matemática, a média foi de 394 pontos, 15 a mais que a média nacional, de 379, mas ainda 78 pontos distante da média da OCDE (472).
O Nordeste e o Norte, porém, apresentaram notas abaixo da nacional nas três áreas. Em matemática, por exemplo, elas tiveram média de 363 e 357, respectivamente --notas abaixo das registradas, por exemplo, por palestinos e pela Indonésia (366), Marrocos (365) e Uzbequistão (364).
Em leitura, as médias das duas regiões foram 382 e 392, respectivamente, o que as deixariam entre Chipre (381), Arábia Saudita (383, Cazaquistão (386) e Malásia (388). Em ciências, tiveram 380 e 386, no nível de Macedônia do Norte e Azerbaijão (380), Indonésia (383) e Geórgia (384).
Em avaliações nacionais, alguns estados do Nordeste, como Ceará e Pernambuco, costumam figurar entre os com maior desempenho na rede pública do país. A amostra do Pisa, no entanto, não permite separar os dados por estado.
Para Ernesto Faria, diretor-executivo do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), os dados por região mostram um cenário preocupante no país.
"Nenhuma grande região desponta com um ensino de qualidade no Brasil. Há sim muita desigualdade, mas nem mesmo a região Sul chega ao patamar do Chile", diz.
Com os 394 de matemática, o Sul se igualaria à Tailândia, que está sete posições à frente do Brasil no ranking Pisa 2022, mas estaria atrás de países como México (395), Azerbaijão (397), Montenegro (406), Malásia (409), Uruguai (409) e Chile (412).
O Sudeste, região mais rica do país, obteve o segundo melhor desempenho. Ainda assim, apresenta números baixos. Em matemática, teve média de 388 pontos --84 abaixo da média da OCDE. Se fosse um país, essa pontuação o colocaria apenas três posições à frente do Brasil, depois de Colômbia (383) e Costa Rica (385), mas atrás de Macedônia do Norte e Arábia Saudita, ambas com 389 pontos.
Já o Centro-Oeste, com 384 pontos em matemática, ficou 88 pontos distante e ficaria justamente entre Colômbia e Costa Rica.
"Fica claro que matemática é a grande urgência, em especial na rede pública", diz Faria.
Historicamente, é na matemática que o Brasil enfrenta maior dificuldade para garantir o aprendizado adequado aos seus alunos. Nas últimas duas décadas, as notas mais baixas do país foram nessa área do conhecimento.
Os dados do Pisa 2022, divulgados nesta terça (5), mostraram que a média brasileira foi 5 pontos menor em relação a 2018, quando o país tinha nota de 384. Em 2012, a média nacional chegou a ser de 389 pontos.
Mas, mesmo nas outras duas áreas avaliadas, Sul, Sudeste e Centro-Oeste também não conseguem alcançar a média da OCDE. Em leitura, por exemplo, a média do Sul de 427 pontos supera a brasileira em 17 pontos, mas fica 49 pontos abaixo da média da OCDE (de 476 pontos). Fosse um país, o Sul estaria apenas seis posições à frente do Brasil, entre Qatar (419) e e Romênia e regiões da Ucrânia (ambos com (428).
Também apresenta a melhor pontuação em ciências (421), mas que também está 64 pontos abaixo da média dos países membros (485). Nesse caso, o Sul estaria 12 posições à frente do Brasil, empatado com a Bulgária e logo atrás do Cazaquistão (423).
Fabio Senne, coordenador de pesquisas TIC no Comitê Gestor da Internet no Brasil, aponta para uma possível explicação dessa defasagem dos resultados de uma região para outra, embora não seja determinante, enfatiza: a melhor infraestrutura presente nas regiões Sul e Sudeste, em comparação às demais.
"Pegando os dados de internet, o Sul e o Sudeste são onde tem mais adoção de uso de internet, por exemplo. Esse tipo de fator ou condição de conectividade pode fazer a diferença porque muitos domicílios não tinham acesso ou a rede não estava preparada para atender a todos os usuários", diz Senne, destacando que a condição socioeconômica é determinante, uma vez que estudantes de regiões mais desfavorecidas tiveram de abandonar a escola para ajudar a família durante a pandemia.
"Nas pesquisas que fizemos durante a pandemia, quando perguntávamos por quais motivos o estudante não ia à escola, tivemos como respostas procurar emprego, a família perdeu a renda, cuidar dos irmãos..."
O Pisa 2022 avaliou 690 mil estudantes de 15 anos, em 81 países e regiões do mundo. No Brasil, a prova foi aplicada para 10.798 alunos de 599 escolas.
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