SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Líderes de um dos maiores territórios quilombolas da América Latina -o quilombo Kalunga, em Goiás- se reuniram no dia 15 de fevereiro com representantes da Prefeitura de Cavalcante e com o IFG (Instituto Federal de Goiás) para avaliar a criação de um campus da instituição na cidade.

Boa parte do território de Kalunga está em Cavalcante, o que facilitaria o acesso da população quilombola ao ensino do instituto federal. Ao todo, a área do quilombo está contida no perímetro de três municípios: Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás.

A região é onde está a Chapada dos Veadeiros, unidade de conservação e ponto turístico do estado.

A reunião, que durou mais de três horas, aconteceu no plenário da Câmara Municipal de Cavalcante com mais de 160 pessoas, incluindo o presidente da Associação Quilombo Kalunga, Carlos Pereira, o prefeito de Cavalcante, Vilmar Kalunga, a reitora do IFG, Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, pró-reitores e diretores dos campi da Cidade de Goiás e Uruaçu, além de representantes da área de educação do governo estadual.

Segundo a prefeitura, a administração vem trabalhando desde maio de 2023 para trazer o IFG para Cavalcante. O pré-projeto elaborado na reunião destaca a importância de investigar os potenciais de agroecologia, turismo de base comunitária, tecnologias ancestrais, saúde, meio ambiente, entre outros, visando criar um modelo de desenvolvimento sustentável para a região.

"É uma demanda do município buscar trazer o IFG para dentro do nosso município. É um polo que dá oportunidade para os jovens ", diz Adriano da Silva, 26, uma das lideranças do Kalunga.

"A gente busca já há uns anos, a implantação de uma universidade em Cavalcante que tenha uma facilidade para os nossos jovens estudarem, um ensino médio integrado ao técnico ou uma pós-graduação, com uma facilidade maior, sem precisar se deslocar, sem precisar ir embora da cidade ou do território", explica.

Somando com os quilombolas que residem em Monte Alegre e Teresina, o quilombo Kalunga é uma região populosa, com 9.000 a 11 mil pessoas, segundo o mapa de conflitos da Fiocruz.

A obrigatoriedade de sair da cidade para ingressar no ensino federal e a barreira financeira impedem boa parte dos jovens locais de acessar este campo de estudo.

"Várias pessoas querem ir para a universidade, mas é difícil morar fora. A parceria entre a Associação Quilombo Kalunga e a prefeitura e a reitora do IF Goiás é tudo para a gente buscar como fazer o IF chegar até nós. Nesse momento, a gente é um corpo único lutando para que o IF seja implantado dentro do nosso município e a gente tenha mais oportunidade e conhecimento", diz Silva.

"Cavalcante tem uma população de migrantes e quilombolas articulada e ávida de conhecimento. E saberá irradiar e receber saberes pela Chapada dos Veadeiros", afirma o prefeito Vilmar Kalunga.

A Prefeitura de Cavalcante enviou ofício à reitora do IFG formalizando o pleito, com justificativa e apresentação das possíveis áreas que poderiam ser doadas para a implantação do campus. Ao mesmo tempo, o IFG, por meio do Observatório do Mundo do Trabalho, realizou estudo técnico inicial.

O governo federal tem projeto de expansão da rede em cem campi em 2024 e 2025.

Goiás será um dos estados contemplados, e Cavalcante é um dos municípios elegíveis.

No entanto, o quantitativo e os municípios escolhidos só serão conhecidos quando anunciados pelo presidente Lula, o que deve ocorrer até a primeira quinzena de março.

Após o anúncio do presidente, a equipe técnica da reitoria fará os estudos necessários e apresentará ao MEC (Ministério da Educação) o projeto de implantação dos novos campi do IFG.

O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é considerado como o maior território de descendentes quilombolas do Brasil. O território é reconhecido pela Fundação Cultural Palmares. É também conhecido pelas atrações turísticas como cachoeiras e outras áreas do cerrado. A comunidade está na região há 250 anos.

Ele é formado por 39 comunidades em um território de 262 mil hectares. Porém apenas 34 mil hectares foram definitivamente titulados.

A comunidade é reconhecida como sítio histórico e patrimônio cultural e certificada como remanescente de quilombo. Em 2009, foi declarado o interesse social, para fins de desapropriação, dos imóveis abrangidos pelo território.

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