SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-gerente de segurança do Esporte Clube Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, teve condenações por assédio sexual e moral abafadas pela agremiação durante anos.

Paulo Sérgio de Andrade foi processado quatro vezes entre 2011 e 2021, e as penas somaram R$ 82 mil, valor pago pelo clube.

Sua trajetória no clube do Jardim Europa ?no qual é preciso desembolsar até centenas de milhares de reais para se tornar sócio? começou em 1992. Desde a contratação, ele ocupou cargos de confiança na equipe de segurança do endereço.

O caso foi revelado pela revista piauí e confirmado pela Folha. Em nota, o Pinheiros diz não tolerar nenhum tipo de assédio ou má conduta por parte de seus colaboradores e associados, além de possuir canais internos que apuram as denúncias com profundidade. Andrade não atendeu aos contatos da reportagem feitos por telefone e mensagem desde a última sexta-feira (1º).

O funcionário foi demitido apenas em 27 de fevereiro deste ano, dias após exposição de sua conduta por um conselheiro e advogado, Bruno Minioli, que levantou a ficha do encarregado após uma falha no sistema de segurança do clube.

Em janeiro de 2023, Minioli teve uma bolsa furtada após deixá-la sobre uma cadeira na praça Boulevard, espaço de convivência vizinho à sede social. Para tentar encontrar o objeto, pediu imagens do circuito interno. Recebeu, e aí surgiram mais dúvidas.

O vídeo disponibilizado estava cortado. Faltavam 17 minutos, exatamente os que abrangeriam o momento do crime e poderiam desvendar o autor. O Pinheiros argumentou especificidades na configuração do equipamento utilizado e ressarciu a vítima.

O advogado não ficou convencido e julgou muito estranha a conduta da equipe de segurança. Decidiu então investigar por conta própria Paulo Sérgio de Andrade a fim de encontrar outras inconsistências na gestão do profissional naquele setor.

DENÚNCIAS ENVOLVEM BEIJO À FORÇA E PERSEGUIÇÃO A TRABALHADORA

Quatro processos trabalhistas por assédio foram encontrados contra o antigo funcionário do clube.

O primeiro ocorreu em 2011, quando uma mulher declarou ter sido agarrada e beijada à força por Andrade, além de ter ouvido dele adjetivos como prostituta e cachorra. Julgado, o caso terminou em indenização de R$ 7.000. O Pinheiros pagou.

Em 2013, novo problema judicial. O funcionário foi condenado por um caso de racismo, com indenização de R$ 15 mil, e o clube arcou.

No ano seguinte, outra mulher abriu processo. Ela alegava ter sofrido constrangimentos quando era subordinada a Andrade e dizia ser até impedida de usar o banheiro, sendo até instruída a urinar em um copo. Nova multa foi aplicada pela Justiça, agora de R$ 10 mil.

Por fim, o funcionário foi considerado culpado em uma ação de importunação sexual a outra trabalhadora em 2021. A vítima disse ter sido perseguida e monitorada por ele através das câmeras. Foram pagos mais R$ 50 mil pelo Pinheiros.

Minioli iniciou procedimento junto ao departamento de governança e compliance do clube no início de fevereiro do último ano. O setor concluiu o caso em abril, sugerindo a demissão imediata. O chefe da segurança, porém, só foi desligado dez meses depois.

Nenhuma palavra sobre a série de delitos foi proferida pela gestão.

Pessoas ligadas à administração do clube afirmam haver um pacto de não agressão entre os ex-presidentes da sociedade. Por isso, a tendência é a de que esse assunto seja evitado. Internamente, relatam, o clima é de irritação com a exposição do caso.


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