SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça fixou nesta quinta-feira (7) prazo de dez dias para que a Prefeitura de São Sebastião apresente estudo sobre o impacto ambiental e licenças para o desassoreamento do rio Sahy.
A obra faz parte do pacote de ações emergenciais para recuperação de localidades devastadas pela tempestade que matou 64 pessoas e deixou centenas de desabrigados e desalojados no município há um ano, no Carnaval de 2023.
A dragagem do leito do Sahy, porém, divide opiniões na cidade e o conflito acerca da intervenção escalou nesta semana. Um dia antes do pedido de explicação judicial, na madrugada de quarta-feira (6), a draga que seria usada para retirar sedimentos do fundo do rio ficou severamente danificada por um incêndio supostamente criminoso, segundo imagens e informações publicadas pela prefeitura.
Um morador contou à Folha que o equipamento amanheceu incendiado depois de uma noite de chuva, com alguns raios e queda no abastecimento de energia elétrica. O vigia não estava no local na hora da ocorrência, disse. No mesmo trecho do rio, um rebocador utilizado na obra colidiu e danificou uma ponte de madeira recentemente recuperada.
O desassoreamento do rio Sahy faz parte de uma grande obra que, segundo a prefeitura, poderá diminuir as enchentes nos bairros mais prejudicados pela chuva histórica do ano passado.
Tubos de drenagem com raio de até 1,5 metro levarão para o rio a água que costuma ficar represada na margem da Rio-Santos oposta à praia, perto da encosta, onde mora a população mais pobre daquela região, nos bairros Vila Sahy e Baleia Verde. Esses bairros concentraram a maioria das mortes nos deslizamentos.
Para receber o fluxo que será drenado das encostas, o leito do rio está sendo aprofundado. Paira sobre a obra o temor de ambientalistas locais de que ela destruirá porções de mangue e poderá até mesmo retirar o acúmulo de areia que forma a barra na desembocadura do rio, justamente a formação geológica que dá nome à Barra do Sahy.
O rio Sahy é um curso d'água raso envolto por uma APA (Área de Preservação Ambiental) e possui casas de veraneio nas suas extremidades.
Moradores que conversaram com a Folha também dizem que um dos objetivos da obra seria tornar o rio navegável, permitindo a construção de marinas para atender condomínios de alto padrão em construção ou em projeto.
A gestão do prefeito Felipe Augusto não respondeu ao questionamento da reportagem sobre as marinas, mas afirmou possuir estudos, sem detalhar quais. A prefeitura também justificou a obra dizendo que, antes do evento climático, o rio tinha cerca de 1 metro de profundidade e era navegável para embarcações pequenas. Com a catástrofe, passou a ter cerca de 30 centímetros. "O desassoreamento prevê a retomada de sua profundidade real", informou, em nota.
A drenagem divide opiniões entre moradores. A decisão que fixa prazo para a prefeitura apresentar documentos, por exemplo, vem em resposta à solicitação apresentada pelas associações de Amigos do Bairro do Sahy e dos Moradores da Vila Sahy.
Mas há também moradores favoráveis ao projeto, segundo Aleandre Vieira da Silva, 44, líder comunitário da Baleia Verde, um dos bairros beneficiados.
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