SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de ter crescido o apoio à descriminalização do aborto desde 2022, apenas 6% dos brasileiros entrevistados em pesquisa Datafolha defendem que mulheres devem ter o direito de interromper a gravidez em qualquer situação.

O apoio à descriminalização saiu de 33%, em 2018, para 42%, em 2024. Em 2007, o percentual era mais alto e representava mais da metade dos brasileiros (52%).

O levantamento foi realizado com 2.002 pessoas de 147 municípios do Brasil em 19 e 20 de março e está sujeito a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.

Entre as mulheres, as que afirmam que o procedimento deveria ser permitido em qualquer situação representam 7%, enquanto as que defendem que a permissão para o aborto continue como é hoje são 40%.

No caso dos homens, 43% endossam a afirmação de que a permissão para o procedimento deve permanecer como é, e 6% afirmam que deve ser permitido em qualquer situação.

O mesmo percentual de homens e mulheres defendem que o procedimento seja totalmente proibido (35%).

Quanto maior a idade dos entrevistados, independentemente do gênero, menor o percentual daqueles que defendem a liberação irrestrita ao aborto. Enquanto 10% dos jovens de 16 a 24 anos são favoráveis a autorização em qualquer situação, apenas 5% daqueles com 60 anos ou mais declaram apoio.

Hoje, o Brasil permite o aborto em casos como estupro, risco para a vida da gestante e, por jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal), anencefalia fetal. Qualquer outra situação é considerada ilegal e tem pena prevista de até quatro anos. Reportagem da Folha mostrou que mesmo brasileiras que têm direito ao aborto legal encontram dificuldades para acessá-lo: menos de 2% dos municípios do país têm hospitais de referência.

Segundo o Datafolha, 42% dos brasileiros afirmam que a legislação deve continuar como é hoje, ante 39%, em 2022, e 34%, em 2018.

O percentual dos que defendem que a prática deve ser ampliada e permitida em mais situações foi de 18%, em 2022, para 15%, neste ano ?oscilação que indica empate técnico pela margem de erro. Os que avaliam que o aborto deve ser permitido em qualquer situação são 6% em 2024, enquanto eram 8% em 2018, números que também apontam empate.

Aqueles que afirmam que o procedimento deve ser proibido em qualquer situação são mais de um terço da população, o que representa 35% dos entrevistados. Em 2022, eram 32%, e no ano de 2018, 41%.

Com relação à religião dos participantes, 21% dos espíritas defendem que a legislação seja ampliada, ante 13% dos católicos, e 12% dos evangélicos. Eles lideram, ainda, entre os que avaliam que o aborto deve ser permitido em quaisquer circunstâncias, com 10%, enquanto católicos são 5%, e evangélicos representam 3%.

Os evangélicos são mais favoráveis à proibição total do procedimento ?44% deles compartilham dessa opinião, enquanto católicos são 34%, e espíritas, 32%.

No Brasil, católicos são maioria. Segundo dados do Censo de 2022, 51% da população se declara parte da religião, enquanto 26% dos brasileiros afirmam ser evangélico.

No caso do posicionamento político dos entrevistados, entre aqueles que declaram voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022, 19% afirmam que gostariam que o aborto fosse permitido em mais situações, e 8% declaram apoio à autorização em qualquer contexto.

Já entre os eleitores de Jair Bolsonaro (PL), apenas 8% apoiam a ampliação das situações em que o procedimento é autorizado, e 4%, que fosse irrestrito. O cenário se aprofunda entre aqueles que afirmam se identificar com o PL: 4% gostariam que a interrupção da gravidez fosse permitida em mais situações, ante 1%, em qualquer situação. Destes, 42% são a favor da proibição total do procedimento.

Entre os simpatizantes do PT, 20% gostariam que o direito ao aborto fosse ampliado, 8% apoiam autorização irrestrita e 32% afirmam que deveria ser totalmente proibido.

Quanto mais escolarizado o entrevistado, menor a tendência a ser a favor da proibição total do procedimento. Entre aqueles com ensino fundamental, metade (50%) compartilha dessa posição, enquanto 19% daqueles com ensino superior são favoráveis ao veto integral.

A ampliação do direito ao aborto é endossada por 9% daqueles que estudaram até o ensino fundamental, 17% dos entrevistados que finalizaram o ensino médio e 19% dos participantes com ensino superior.

Aqueles com menor renda têm maior tendência a apoiar a proibição total da prática. O número é de 41% entre os que ganham dois salários mínimos, mas cai para 26% quando os entrevistados recebem de dois a cinco salários.

O percentual vai para 29% entre aqueles que ganham mais de cinco salários mínimos, mas menos de dez, e diminui entre os que ganham mais de dez (22%).

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