CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - Um delegado de Indaiatuba (a 109 km de São Paulo) foi preso nesta terça-feira (26) sob suspeita de comandar um grupo que extorquia dinheiro de empresários da cidade para que supostas investigações contra eles não acontecessem. Outros 12 foram presos, entre investigadores, advogados e funcionários públicos.

José Clésio Silva de Oliveira Filho é delegado-titular do 1º Distrito Policial da cidade. Mariana Buessio Torres, que defende o delegado e um dos investigadores suspeitos, declarou que não vai se pronunciar por enquanto, porque os autos estão sob segredo de Justiça. Os nomes dos demais presos não foram divulgados.

O suposto esquema no interior de São Paulo é investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de Campinas, que deflagrou a Operação Chicago, com apoio do 1º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), da Polícia Militar.

Segundo a Promotoria, o grupo fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios para cobrar pagamentos como preço de "resgate" de eventuais prisões decretadas ou como garantias de não investigação.

"Em muitos casos, com mandados de prisão forjados, as vítimas eram levadas para o distrito policial, onde acontecia a cobrança de propina, sob ameaça de não sair do DP", disse, em entrevista coletiva o promotor Paulo Guilherme de Lima. Segundo ele, havia até uma "sala de extorsão" na delegacia.

O Gaeco afirma ainda que pelo menos dez empresários foram vítimas dos crimes, em especial das extorsões, no período de aproximadamente um ano. Os valores variam de R$ 1 milhão e R$ 3 milhões por vítima.

Os alvos das extorsões eram selecionados conforme a capacidade financeira. De acordo com o promotor, empresários com comércios antigos na cidade eram os principais escolhidos. "Depois desta seleção, existia uma 'equipe de investigação' composta por policiais civis, guardas e funcionários da prefeitura que, literalmente, invadiram os estabelecimentos para pegar dinheiro", explica Lima.

Em uma das ações, o grupo levou R$ 300 mil do dono de uma loja e ainda forjou uma prisão em flagrante por porte ilegal de arma, que nunca foi localizada, segundo a Promotoria.

Além do delegado, são suspeitos de envolvimento no esquema dois investigadores, um escrivão, três advogados, dois guardas-civis e três funcionários públicos comissionados da prefeitura. Eles foram presos temporariamente. Um quarto funcionário em cargo de comissão é considerado foragido.

Também foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão na delegacia, na casa do delegado e em outros endereços em Indaiatuba e Itu. A Justiça bloqueou R$ 10 milhões em bens dos investigados, incluindo 15 veículos.

Nas buscas foram encontradas drogas, armas e munição. "Foram localizadas duas pistolas, um revólver, um rifle, 150 munições de diversos calibres, 59 caixas de anabolizantes, R$ 5.000, algumas porções de maconha, crack e cocaína em posse de três dos alvos dos mandados de prisão", afirmou o major Augusto José Martinelli, comandante do 1º Baep.

A Prefeitura de Indaiatuba declarou decidiu abrir procedimento para apurar administrativamente as denúncias do Ministério Público. "A prefeitura ainda não foi oficiada sobre o caso. De forma antecipada e para colaborar com a operação do Gaeco, foi aberto procedimento administrativo e afastados os envolvidos", afirmou, em nota.

A SSP (Secretaria de Segurança Pública) do estado não quis comentar o caso, apesar do questionamento da reportagem sobre como vai ficar o atendimento na delegacia, já que o titular e parte da equipe foram presos. "A operação é realizada pelo Gaeco, e os detalhes devem ser verificados com o órgão", respondeu, em nota.

O delegado-assistente deve comandar, interinamente, as funções do 1º DP.


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