BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - O calor sufocante em algumas áreas da zona azul virou reclamação constante dos participantes da COP30, conferência climática da ONU em Belém, e tem levado pessoas a procurar atendimento médico nos ambulatórios instalados no local. Contra o mal-estar, leques viraram acessórios obrigatórios nos corredores.

No pavilhão da CDR30, uma coalizão pela remoção de dióxido de carbono, na área dos países, organizações e empresas, o inglês Lukas May e o francês Olivier Reinaud conversavam em frente a um ventilador. "Este é o nosso bem mais precioso", disse May.

"Nós vimos o ventilador no corredor e pedimos à organização do evento para levá-lo ao pavilhão e costumamos ficar na frente dele."

Segundo o inglês, que trabalha na Isometric, uma empresa de remoção de carbono, "está quente demais, muito abafado". "Hoje eu vesti um terno porque participo de um painel. Normalmente, eu enrolo a manga da camisa, mas amanhã posso até vir de camiseta, se continuar tão quente assim", afirmou. "Além disso, antes de sair para meus programas noturnos, vou para casa tomar banho e trocar de roupa. Porque é demais."

O calor foi criticado pela ONU em uma carta enviada à organização do evento. Nesta quarta (12), um documento da UNFCCC, braço climático das Nações Unidas, queixou-se do evento pelo que considerou falhas de infraestrutura e de segurança e exigiu que os problemas sejam resolvidos.

Entre as demandas da carta estavam o reforço da segurança do local e a resolução de problemas como alagamentos e altas temperatura no ambiente.

Em uma entrevista coletiva, nesta quinta (13), o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, disse que as preocupações da UNFCCC foram superadas e que teriam sido "sanadas completamente". "Então é um não problema agora. E devemos dizer que o ar condicionado está bem melhor hoje. Todos concordamos."

Já Reinaud, que é cofundador e diretor-geral da empresa NetZero, diz que a situação é bem ruim. "Alguns lugares da zona azul têm uma refrigeração relativamente boa, como a área das salas de negociação, mas a maioria dos locais não têm", avalia o francês, que, para aguentar o calor, diz que bebe muita água e sempre procura um ventilador.

Ele conta que escutou que parte do equipamento de climatização não estava funcionando. "Belém é muito quente e fazer a refrigeração de um espaço tão grande é provavelmente um pouco difícil. Mas o que eu acho estranho é que a sede foi anunciada há mais de um ano, então eles tiveram muito tempo para antecipar o problema."

No pavilhão Mediterrâneo, a reportagem encontrou os membros da delegação da Catalunha se abanando com leques antes de uma reunião.

"As pessoas estão suando. Nós estamos trabalhando, nos preparamos durante meses e, no final, chegamos ao nosso pavilhão e faz tanto calor que é difícil até de se concentrar", diz Gisela Torrents, técnica do escritório catalão de mudanças climáticas.

Ela diz que a situação virou até motivo de brincadeira. "Estão dizendo que este calor é premonitório das ondas de calor que passamos e passaremos cada vez mais na zona mediterrânea e em outras regiões do mundo."

A catalã conta que os leques e muita água são a única maneira de amenizar o calor. "Na zona de negociações, acho que a temperatura é mais amena, principalmente à tarde, mas nesta área faz muito calor, e passamos a maior parte do dia aqui. É horroroso."

O australiano Benjamin Mitchell, estudioso do clima e empresário, se abanava com um leque típico do Pacífico quando foi abordado pela reportagem. "Este calor é muito chocante. E depende de qual lugar você vai, apenas alguns têm ar-condicionado de verdade. Então faz muito calor. Alguns dias precisamos usar terno e está fervendo, então ficamos ensopados de suor."

Mitchell opina que o problema já deveria ter sido resolvido. "Estão gastando US$ 1 bilhão no evento. E o ar-condicionado é obrigatório. O primeiro dia, quando faltou energia, foi o pior. Houve alguns encontros na zona que considero a mais quente, depois do pavilhão da Austrália, e foi muito difícil se concentrar porque você está encharcado de suor."

MAL-ESTAR E DOR DE CABEÇA

Uma pessoa que trabalha no atendimento médico na zona azul, onde há três ambulatórios, conta que há muita gente passando mal por causa do calor. Os problemas recorrentes são desidratação, dor de cabeça e mal-estar. Desde o início da COP, esses atendimentos correspondem de 25% e 30% do total, segundo o funcionário.

De maneira geral, são prestados cerca de 30 a 40 atendimentos por dia em cada posto, para todos os casos.

Procurada pela Folha de S.Paulo para explicar por que faz tanto calor e qual é o problema com o sistema de refrigeração, a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop) disse, em nota, que "foram identificados problemas pontuais de infraestrutura, sobretudo na área dos pavilhões de países e empresas".

"As equipes técnicas estão no local realizando os reparos e adequações necessárias para garantir o pleno funcionamento das estruturas ao longo dos próximos dias", finalizou.