RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (4) em Minas Gerais um assessor de investimentos que teria causado prejuízo de R$ 11 milhões aos seus clientes.
Preso sob a suspeita de gerir um esquema fraudulento, Frederico Goz Biagi, 53, vivia em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Antes de abrir uma empresa própria com algumas das vítimas, Biagi atuou de 2020 a 2023 em um escritório de assessoria de investimentos.
Procurada, a defesa dele não respondeu até a publicação desta reportagem.
A denúncia à Polícia Federal teria sido feita pelos sócios, que perceberam os desvios. Biagi foi preso em Poços de Caldas (MG) pela Operação Stop Loss, da PF, acusado de crimes contra o sistema financeiro nacional. Foram cumpridos três mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva em Ribeirão, São Paulo e Rio de Janeiro.
Os crimes, segundo a PF, aconteceram de janeiro de 2023 a janeiro de 2024 e a denúncia dos sócios foi feita em setembro do ano passado, quando teve início a investigação.
Biagi lesou não só a própria sócia, com quem mantinha um relacionamento, mas também membros da família dela, conforme a PF.
A polícia chegou a dez vítimas até agora e espera que o suspeito indique mais pessoas que possam ter sido enganadas. Biagi permaneceu em silêncio no momento da prisão e ainda não se manifestou.
Em nota, a PF informou que "o preso captava recursos de terceiros prometendo altos rendimentos e supostas aplicações em operações financeiras", mas "utilizava o dinheiro em benefício próprio, realizando operações de day trade que resultaram na perda dos valores investidos".
As transações, no começo, eram feitas em nome do próprio investigado e "passaram posteriormente a ser movimentadas por uma empresa criada com as vítimas", em 2023, intensificando os desvios.
Segundo o delegado da PF Marcellus Henrique de Araújo, as vítimas eram mulheres com idade média de 50 anos, mas também homens que atuam em funções como advogados e médicos, bem como aposentados.
Uma cliente atendida por ele à época e direcionada depois para outro assessor disse à Folha que Biagi foi muito didático e cordial. Segundo ela, o assessor, posteriormente, sumiu, a carteira passou para outro profissional e ela nunca mais soube de Biagi.
Conforme a polícia, os investimentos eram desviados para uma conta paralela, e as vítimas recebiam extratos fraudados, sendo levadas a recolherem tributos indevidamente junto à Receita Federal sobre lucros fictícios.
Biagi segue detido e pode responder por crimes como gestão fraudulenta, apropriação de recursos de investidor, manutenção de investidor em erro e fraude à fiscalização mediante inserção de dados falsos em documentos contábeis. Somadas, as penas para essas condutas podem variar de 10 a 37 anos de reclusão.
PF BUSCA EXTENSÃO DOS DANOS
A PF informou que tenta identificar a extensão total dos danos, localizar todas as vítimas e verificar a possível participação de terceiros nas práticas criminosas.
Nas redes sociais, os perfis de Biagi foram apagados, mas há, no perfil da empresa Blue3 Investimentos Ribeirão Preto, um vídeo de um programa local de março de 2017 no qual ele fala sobre como investir.
"A principal mensagem é que o brasileiro não pode deixar o seu plano futuro, o planejamento financeiro da sua família nas mãos do governo. A previdência pública está numa crise muito grande, por vários fatores, e devem acontecer algumas reformas, os brasileiros vão ter que se preocupar com uma previdência complementar", disse Biagi no vídeo.
Por meio de sua assessoria, a Blue3 reforçou que "Frederico Goz Biagi não possui qualquer vínculo com a instituição há quase uma década, tendo uma passagem breve na antiga estrutura societária (BlueTrade)."
A empresa informou ainda "que opera em conformidade com os mais rigorosos padrões de governança e compliance" e que, embora "o fato não tenha relação alguma com a companhia e suas atividades", a empresa "mantém seu compromisso com a transparência e permanece à disposição para colaborar com as autoridades sempre que necessário".