SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O músico Luan Richard costuma dizer que vai se considerar satisfeito quando passageiros com algum tipo de deficiência visual puderem pegar ônibus sozinhos com ajuda de um aplicativo para celular. No sistema metropolitano de trens, desde o mês passado, o usuário consegue fazer isso quando embarca ou desce na estação São Caetano, da linha 10-turquesa.
Richard é um dos dois passageiros que participam de um projeto-piloto implantado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na estação do ABC paulista. O outro é Rafael Tavares. Por enquanto, o sistema está disponível apenas para a eles e não há prazo de abertura a outros usuários.
Nos testes, a empresa espalhou placas com QR codes, que são lidas pelo sistema de navegação de acessibilidade NaviLens.
Com uso de códigos inteligentes lidos por smartphone a distância e em movimento, o aplicativo fornece informações sonoras no celular, sem necessidade de estruturas adicionais ou internet, garantindo orientação precisa em ambientes com grande fluxo de pessoas.
O dispositivo é compatível com sistemas Android e iOS e será testado inicialmente apenas na estação de São Caetano do Sul.
O projeto foi apresentado na Semana de Inovação da CPTM e em seguida passou para a fase de implantação.
"O objetivo é ajudar pessoas a se locomoverem nas estações", afirma Michael Sotelo Cerqueira, presidente da CPTM, à Folha.
Segundo o executivo, a escolha da São Caetano para o projeto-piloto foi pelo fato de ela já ter acessibilidade universal, o que facilitaria os testes.
O aplicativo, afirma, não substitui outras metodologias de acessibilidade e inclusão, como piso tátil, mas ajuda a dar autonomia às pessoas.
Na prática, ao entrar na estação, o deficiente visual deve acionar o aplicativo e segurar o celular com a câmera para frente. A partir daí, o aparelho lê os QR codes espalhados pelo local e indica o caminho com precisão, a partir de mensagens de áudio, disponíveis em 39 idiomas.
O músico Luan Richard elogiou o sistema, mas afirma que as placas precisam de um ângulo melhor. E talvez seja necessário ajustes na distância entre elas e o usuário.
"Será que preciso ler uma placa que está a 30 metros de distância sendo que, de repente, pode ser mais importante para mim uma informação que está a 3 ou 4 metros?", questiona. "Isso é importante em um ambiente com vários indicativos, placas ou, códigos."
O presidente da CPTM diz que a empresa, em conversas com pessoas cegas ou com baixissima visão, concluiu que a principal dificuldade delas é descobrir a distância de um obstádculo. "Com o aplicativo ele [passageiro] consegue entender, pois a mensagem sonora diz que 'x' metros precisará virar à esquerda", por exemplo", afirma.
Por enquanto há 22 placas com QR codes espalhadas pela estação, mas a ideia é ampliar para ao menos 50 --em Barcelona, uma das cidades que inspirou o projeto da estatal paulista, há 5.000, de acordo com Cerqueira.
A companhia não sabe se o projeto será ampliado em outras estações ou linhas --inclusive pelo fato de a 10-turquesa, que faz a ligação a São Caetano, ser a única da CPTM que ainda não foi concedida à iniciativa privada pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Por enquanto, afirma Cerqueira, não houve gastos para a empresa, o que irá acontecer apenas se ocorrer a implantação. O valor não foi informado.
O modelo implantado em São Caetano do Sul deverá ser reanalisado no primeiro semestre do ano que vem.
Richard fez sugestões. Uma das críticas é que o aplicativo consome muita bateria do celular. "É preciso pensar em alguma otimização [da bateria]", afirma. "Mas minhas primeiras impressões são as mais positivas possíveis."
Para ele, é imprescindível que deficientes participem de todo o processo de desenvolvimento.