SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Tem alguém aí?" Por repetidas vezes, a pergunta em tom provocativo e animado do instrutor e personal trainer Tiago Coltri, 45, atravessa a música e desafia os cerca de 60 alunos de body pump, numa sala da academia ADPM (Associação Desportiva da Polícia Militar) Falcão Azul, no Belém, na zona leste de São Paulo.

O treino utiliza pesos leves e moderados (barras e anilhas) com muitas repetições. Há o apoio de colchonetes e steps. A sequência de exercícios promove condicionamento cardiovascular, perda de peso e deixa o músculos tonificados. É possível queimar cerca de 500 calorias por aula, que dura cerda de uma hora.

Na noite de terça-feira (2), a reportagem acompanhou uma aula do programa criado em 1990 por uma empresa da Nova Zelândia chamada Les Mills --presente também no Brasil e em mais de 120 países.

"O Les Mills foi um atleta olímpico da Nova Zelândia que montou uma academia em Auckland para reunir tudo o que conhecia de treino. O filho, Phillip Mills, ao voltar dos Estados Unidos, onde foi estudar, decidiu combinar música e treinamento e aprimorou o conceito durante anos. Daí nasceu o body pump. Hoje é o produto de fitness coletivo mais conhecido do mundo", conta Rafael Zimak, um dos diretores da Les Mills e responsável pelos treinamentos no Brasil.

"Esse tipo de treinamento, com pouco peso e muitas repetições, é interessante porque esgota o músculo. Isso desenvolve uma massa magra. Um dos benefícios que você vê logo de cara é a tonificação muscular. O aluno logo sente a musculatura diferente", diz o instrutor Coltri.

Qualquer pessoa pode praticar, desde que respeite os próprios limites. Gestantes e pessoas com problemas de saúde, como de coração e ortopédicos, devem buscar orientação médica antes de iniciarem a modalidade. "O recomendado é começar a partir de 15, 16 anos, porque já tem a formação óssea", afirma.

A aula começa com um aquecimento para preparar o corpo. Depois, são trabalhados os grandes grupos musculares, como peito, braços, costas, pernas e glúteos. Há exercícios tradicionais da musculação, flexões, agachamentos, afundos e abdominais. Ao final, alongamento.

Ao contrário da musculação, os movimentos do body pump são ritmados e em grupo. A música é um fator importante de motivação.

O médico Eduardo Vasconcelos, especialista em ortopedia e traumatologia da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e professor da Universidade Estadual do Ceará, alerta para o cuidado com a empolgação.

"A motivação é um dos principais pontos positivos, mas também pode ser um fator negativo, porque em excesso pode levar a executar um movimento errado e provocar lesões musculares e articulares. Então, utilizar carga adequada, seguir o proposto pela modalidade e fazer o movimento corretamente devem ser prioridades máximas de quem pratica", ressalta Vasconcelos.

"A dor e o cansaço extremo são sinais de que a execução está errada ou a carga é inadequada", diz o ortopedista. "Mas não há contraindicação, só ponto de atenção", completa.

Para oferecer o body pump e os demais programas da Les Mills, a academia precisa se filiar. Os professores recebem treinamento específico. Os exercícios e as músicas são atualizados a cada três meses.

"É um treino de força, mas mais voltado para resistência muscular. Não é para hipertrofia. O número de repetições é maior. O aluno não precisa de cargas pesadas. O pump trabalha todo o corpo. Na musculação, pode ser que não. Depende do treino", afirma Zimak.

O desejo de emagrecer e ganhar massa muscular levou a coordenadora de eventos Soraya Fátima Teixeira, 47, a acompanhar o analista de sistemas de telecomunicações Jefferson Ribeiro dos Santos, 46, seu marido, no body pump.

Em fevereiro deste ano, Soraya foi submetida a uma cirurgia para a retirada de um tumor cerebral. Desde dezembro de 2024 estava acima do peso.

"O body pump me incentivou a voltar ao treino. Comecei com as aulas online para pegar confiança e depois passei para o presencial. Em nove meses, meu corpo mudou radicalmente", conta Soraya.

Ela diz que alcançou seus objetivos em seis meses. "Faço atividade física desde os 15 anos. Sempre fui aquelas marombeiras de proteína, creatina e musculação, mas nunca conquistei um físico que eu consegui no pump. Eliminei dez centímetros de abdômen com esse treino e reeducação alimentar."

A dor nos joelhos causada por desgaste das cartilagens obrigaram a representante comercial Iris Ortolani, 43, a buscar uma atividade que oferecesse fortalecimento. O body pump apareceu como uma alternativa à musculação, prática que nunca a agradou.

"Era do tipo que pagava mensalidade de academia e não frequentava, mesmo ciente da importância e da necessidade de fazer musculação. O body pump veio na minha vida porque comecei a sentir dor nos joelhos. Fui ao ortopedista e descobri degeneração da cartilagem nos dois. O médico disse que eu teria que treinar para o resto da vida para ter condições de fazer coisas mínimas", relata.

A aula faz parte da rotina de Iris há seis anos. Hoje, ela pratica cinco vezes por semana. "É uma aula deliciosa, estimulante, dinâmica e muito legal, porque é em grupo e com música."

"Uma coisa que eu gosto de falar é que essa modalidade não substitui completamente a musculação. O ideal é que você faça o body pump, mas também um fortalecimento convencional, que vai gerar um grau de ganho de força muscular maior", diz o médico Vasconcelos.

As academias que ofertam o body pump podem ser localizadas nesse link.