SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mesmo álbum com imagens originais da série "Jazz" do artista francês Henri Matisse, que teve exemplares roubados por criminosos armados neste domingo (7) na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no centro de São Paulo, já havia sido furtado do acervo municipal. Adquiridas no final da década de 1940, as ilustrações estavam em posse da biblioteca há dez anos.
A data exata do furto não é conhecida. As imagens, que deveriam estar com a biblioteca municipal paulistana, foram encontradas no fim de 2006 pela Polícia Federal da Argentina no fim de 2006. A obra estava em um lote de cerca de 60 livros raros que, segundo o noticiário da época, haviam sido furtados de diversas instituições brasileiras.
Os ladrões estariam tentando cruzar a fronteira com a Argentina em Foz do Iguaçu (PR) quando foram barrados por autoridades da alfândega vizinha. A PF informou, à época, que "Jazz" era, de longe, a peça mais cara do conjunto de obras apreendidas.
A Biblioteca Mário de Andrade passou seis anos com a versão falsa em seu acervo, chegando a emprestá-la para uma mostra em homenagem a Matisse na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2009, mostra um texto publicado pela Folha de S.Paulo em 2015.
O livro de Matisse só foi devolvido ao acervo paulistano cerca de nove anos após a apreensão. Primeiro, ficou cerca de cinco anos em posse das autoridades argentinas. Apenas em 2011 o lote completo foi retirado do país vizinho pelo delegado Fabio Scliar, da Polícia Federal.
Foi só no ano seguinte que a versão original de "Jazz" foi descoberta no meio do material apreendido. Após ser notificada pela PF, a Biblioteca Mário de Andrade inicialmente alegou que os Matisse originais estavam em seu acervo e teria recusado a ideia de que eles haviam sido furtados.
Um exame pericial nas obras comprovou que aquelas encontradas na fronteira eram as originais, e as que passaram anos no acervo da biblioteca eram falsificações "grosseiras", segundo informou a PF à época.
De 2011 a 2015, o álbum ficou depositado no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Em agosto de 2015, o então diretor da Mário de Andrade, Luiz Armando Bagolin, foi pessoalmente retirar a obra e trazê-la de volta a São Paulo.
Isso ocorreu após um impasse, no qual PF e Ministério Público Federal relutavam em devolver o acervo. Apesar da suspeita de que funcionários da biblioteca tenham colaborado para o furto, nada foi comprovado.
Os quadros de "Jazz" eram o grande destaque de uma exposição que comemorava o centenário da biblioteca paulistana. A exposição estava em seu último dia.
A série foi um marco no processo de institucionalização da arte moderna em São Paulo. A aquisição da obra foi um pontapé inicial para o processo que levou à criação do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). A exposição, inclusive, fazia um resgate da ligação histórica entre as duas instituições
COMO FOI O ROUBO
Dois homens armados invadiram a biblioteca, que fica no bairro Consolação, na região central de São Paulo, por volta das 10h15 deste domingo (7). Armado, um dos criminosos anunciou o roubo ao mostrar a arma debaixo da blusa para uma das seguranças da biblioteca, que não portava arma.
Ela foi levada para uma sala onde foi obrigada a entregar o rádio de comunicação e o celular. Enquanto isso, o outro suspeito retirou os oito quadros da parede. Não houve vítimas nem relatos de tiros disparados.
Os suspeitos fugiram em direção ao metrô Anhangabaú, segundo a corporação. Um dos ladrões estava trajado com calça jeans surrada e camisa vermelha. O outro vestia calça jeans, blusa de moletom azul e boné azul.
No momento do roubo, a biblioteca estava aberta ao público. Este domingo era o último dia da mostra que reúne livros raros e obras das décadas de 1940 e 1950 e fotografias que retratam a produção moderna no país.