SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A expectativa da família de Tainara Souza Santos, 31, atropelada e arrastada por cerca de 1 km na zona norte de São Paulo por um ex-namorado, é que ela se recupere e viva com felicidade com o apoio de familiares e amigos.
A vítima, mãe de dois filhos, teve as duas pernas amputadas e está em coma induzido há mais de uma semana. Ela passou por cirurgia na segunda-feira para implementação de pinos no quadril e de sonda para se alimentar.
"Ela vai ser feliz de novo", disse Lúcia Aparecida Souza da Silva, mãe de Tainara, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. "Ela tem muito amor, vai ter muito carinho da gente, das amigas, dos familiares. De todo mundo."
Lúcia também pediu um basta a casos de violência contra mulheres, lembrou dos momentos em que ensinou a filha a andar quando ela ainda era bebê e declarou: "Eu vou ser as pernas dela, agora."
O caso
Douglas Alves da Silva, 26, atropelou Tainara na manhã deste sábado (29) no Parque Novo Mundo, na zona norte de São Paulo. Ele a atingiu com um Golf preto em uma avenida que dá acesso à marginal Tietê e continuou dirigindo mesmo com o corpo dela preso ao veículo.
Câmeras de segurança registraram o atropelamento. Motoristas que estavam nas proximidades também filmaram o carro com o corpo da mulher sendo arrastado em um trecho da marginal Tietê.
Após o atropelamento, policiais militares recorreram a imagens de câmeras de segurança e dados de radares da região para identificar o suspeito. Os PMs chegaram a um endereço que seria o dele, mas ele não estava lá.
Segundo o boletim de ocorrência, o atropelamento ocorreu perto de um bar, e as pessoas que estavam nele presenciaram todo o episódio.
Um funcionário do estabelecimento disse à polícia que o motorista agiu de forma intencional, atropelando e passando por cima da vítima. Quando a mulher já estava sob o veículo, o motorista ainda teria puxado o freio de mão e feito movimentos bruscos com o carro.
Familiares de Tainara e um advogado da família afirmaram que eles tiveram um breve relacionamento, que já havia terminado por iniciativa dela.
O advogado Marcos Leal, que defende Douglas, afirmou que ele não tinha intenção de atingir Tainara, mas sim o homem que caminhava ao seu lado na saída de um bar. Ele alega que Douglas não conhecia Tainara e nunca teve uma relação com ela -o que contradiz relatos da família de Tainara e de um amigo de Douglas que estava dentro do veículo no momento do atropelamento.
O passageiro do carro afirmou que Douglas ficou furioso ao chegar a um bar e ver Tainara na companhia de outro homem. Disse também que ele teve a intenção de atingí-la. O motorista foi preso no dia seguinte ao crime.
Feminicídio bate recorde
Em 2025, o número de feminicídios registrados na cidade de São Paulo chegou a 53 casos, o maior da série histórica -o recorde acontece mesmo com dois meses ainda para terminar o ano. Em 2024, foram 51 casos de feminicídio de janeiro a dezembro, até então o maior número já registrado.
De acordo com um levantamento do Instituto Sou da Paz, a capital paulista foi o cenário de 1 a cada 4 feminicídios consumados no estado. Na comparação dos dez primeiros meses de 2025 com o mesmo período do ano passado, a alta é de 23% na cidade. Em relação a 2023, o crescimento foi de 71%.
Os dados reforçam a tendência histórica da violência contra a mulher: a maioria dos casos ocorre dentro de casa (67%) e as vítimas são assassinadas com armas brancas ou objetos contundentes -instrumentos usados em mais da metade dos crimes no estado.