SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Menos de um mês após o escândalo envolvendo a antecipação de perguntas do Enem 2025, as apostilas do estudante de medicina Edcley Teixeira voltaram a apresentar ao menos cinco questões muito semelhantes as que apareceram nas provas deste domingo (7), durante o segundo dia de aplicação do Enem na Grande Belém.

A reportagem fez a comparação a partir de cópias dos materiais digitais divulgados por Edcley em suas mentorias e em pastas virtuais, como a "Estarão no Enem", que foram removidas das redes sociais após a circulação das primeiras informações sobre o caso.

Alguns desses arquivos também eram compartilhados em grupos e perfis na internet, de onde a reportagem coletou parte do conteúdo.

Em uma das comparações, a questão de química sobre o GNV (Gás Natural Veicular) mostra coincidências evidentes. Tanto no material de Edcley quanto na prova aplicada neste domingo, o enunciado descreve a combustão do metano, indica densidade, composição e pede o cálculo da energia liberada com base em energias de ligação químicas. As tabelas apresentadas e até as alternativas seguem o mesmo formato, com diferenças numéricas mínimas.

O mesmo ocorre na questão de matemática sobre recipientes cilíndricos, que discute a razão entre raios de dois cilindros com áreas laterais equivalentes e volumes distintos. A versão do material de Edcley reproduz a mesma lógica do problema oficial, alterando apenas a ambientação do enunciado -no caso, substituindo o contexto doméstico por uma situação de design industrial.

Em outros exemplos, as alterações se limitam a números, figuras, dados ou nomes de variáveis, mantendo o mesmo raciocínio exigido para a resolução.

Procurado na noite de domingo para comentar o novo episódio, o Inep afirmou que mantém o posicionamento já dado anteriormente (veja mais abaixo).

A aplicação em Belém, Ananindeua e Marituba reuniu mais de 95 mil candidatos e foi organizada de forma especial, em razão da COP30, conferência do clima da ONU realizada no Pará em novembro.

Edcley, aluno de medicina da Universidade Federal do Ceará, ganhou notoriedade após antecipar perguntas da aplicação geral do Enem 2025 -e também de provas de 2023 e 2024.

O universitário nega qualquer vazamento e afirmou, em vídeos no YouTube, basear suas previsões em questões de pré-testes oficiais usado pelo Inep para calibrar futuros itens do exame.

À Folha de S.Paulo o estudante atribuiu sua capacidade de prever mudanças no exame à experiência acumulada em 13 participações no Enem e disse aplicar um "método de percepção algorítmica", baseado na leitura de editais e na observação de padrões linguísticos nas questões.

"Percebi que certas palavras se repetiam nos textos. Essa repetição influencia o comportamento dos candidatos de diferentes níveis de proficiência", afirmou.

O MEC (Ministério da Edcuação) já havia anulado três questões do Enem 2025 e acionado a Polícia Federal após a divulgação de vídeos em que o estudante mostrava perguntas semelhantes às aplicadas na prova nacional de novembro.

Na ocasião, o presidente do Inep, Manuel Palacios, afirmou que as coincidências eram resultado da memorização de questões pré-testadas e que o episódio não comprometia a segurança nem a validade das notas.

Além das semelhanças nas questões, Edcley também antecipou o novo formato de perguntas do Enem 2025, conhecido como testlet -um conjunto de cinco itens ancorados em um mesmo texto-base. O modelo estreou oficialmente nesta edição e voltou a aparecer na prova aplicada no último domingo (30), no Pará.

A reportagem teve acesso a publicações feitas por Edcley em dezembro de 2024, nas quais ele descrevia o formato com base em editais e documentos públicos do Inep. Procurado, o universitário confirmou que escreveu sobre o tema e afirmou que "os editais mostravam que viria um novo tipo de teste".

Palacios declarou que a adoção do testlet "nunca foi sigilosa" e faz parte da modernização da prova. Segundo ele, o formato mantém as mesmas habilidades avaliadas e tende a tornar o exame mais contextualizado e preciso.