SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mais de 30 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de idade já fizeram algum tipo de aposta online, segundo pesquisa realizada pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação) e apresentada nesta terça-feira (9).
Esse número indica que quase um a cada cinco usuários de internet no Brasil já apostaram online, de acordo com o levantamento TIC Domicílios 2025. Essa prática é mais comum entre os homens (25%) do que entre as mulheres (14%).
Realizada anualmente desde 2005, a TIC Domicílios analisou nesta edição, pela primeira vez, o comportamento dos brasileiros em relação a apostas. A pesquisa foi feita entre março e agosto de 2025 e entrevistou pessoalmente 24.535 indivíduos de todas as regiões do país ?o plano amostral utiliza informações do Censo Demográfico e da Pnad Contínua, ambas realizadas pelo IBGE.
Segundo a pesquisa, 7% disseram já ter feito, especificamente, apostas esportivas online ?esse índice sobe para 12% entre os homens e cai para 2% entre as mulheres.
Além disso, 10% dos homens disseram realizar aposta em cassino online, índice que é de 6% entre as mulheres. Além disso, 9% dos homens e 5% das mulheres afirmaram ter pago para participar de rifa digital ou de sorteio divulgado em uma rede social ou em aplicativo de mensagem.
Em relação à loteria federal, 9% dos homens e 4% das mulheres disseram já ter apostado.
Renata Mielli, coordenadora do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), considera alarmante o alcance das bets na população brasileira. Para ela, é urgente a necessidade de criar mecanismos regulatórios sobre o tema.
"É um tema que tem gerado grande preocupação de toda a sociedade, não só pelo aspecto econômico, mas até o de saúde mental. E o que vemos revelado é um número que considero bastante alarmante: temos cerca de 30 milhões de pessoas acima dos 10 anos que já realizaram algum tipo de aposta online."
Um estudo feito pelo Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) estimou que os danos associados às apostas e jogos de azar geram um custo social anual de R$ 38,8 bilhões para o Brasil.
As estimativas envolvem custos diretos para o governo e também custos sociais indiretos associados à perda de qualidade e duração de vida, avaliados em anos de vida ajustados pela qualidade. A medida é usada na área da saúde para calcular quantos anos de vida saudável uma pessoa perde devido a uma doença ou condição.
Do total, R$ 17 bilhões são de mortes por suicídio, R$ 10,4 bilhões por perda de qualidade de vida decorrente de depressão e R$ 3 bilhões em tratamentos médicos para depressão.
Em contraste, o setor de apostas arrecadou R$ 6,8 bilhões entre fevereiro e setembro de 2025, o que, conforme os pesquisadores do Ieps, significa que as apostas online podem custar à sociedade mais do que contribuem para a arrecadação tributária. O dado é da Secretaria da Receita Federal.
Apesar disso, a legislação atual destina apenas cerca de 1% da arrecadação sobre a receita bruta das empresas de apostas ao Ministério da Saúde para medidas de prevenção, controle e mitigação de danos sociais advindos da prática.