BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, comparou o crime organizado ao aquecimento global, às guerras, à corrida armamentista, às migrações descontroladas, às pandemias e ao terrorismo em termos de preocupação global. Apesar disso, ele rejeitou a equiparação entre as atividades dessas facções e as de grupos terroristas.

Lewandowski falou em audiência da CPI (comissão parlamentar de inquérito) do Senado criada para investigar a atuação do crime organizado.

"A criminalidade não é mais local, não é nem mesmo nacional, me refiro ao crime organizado, mas é global", disse ele.

"É um fenômeno que preocupa tanto quanto aquecimento global, quanto as guerras regionais, a corrida armamentista, inclusive a corrida por armas nucleares. Preocupa tanto quanto as migrações que fugiram do controle sobretudo na Europa", declarou Lewandowski.

"O crime organizado hoje é um problema tão grave quanto as crises econômicas recorrentes, quanto as epidemias que fogem do controle, como aquelas que vivemos na pandemia da Covid-19. Como o terrorismo, embora o crime o organizado não tenha, na minha acepção, nada a ver com terrorismo, são fenômenos diferentes", afirmou o ministro.

A comparação entre crime organizado e terrorismo é politicamente importante porque forças de direita, de oposição ao governo Lula, defendem uma equiparação entre as duas atividades. O debate teve destaque durante a tramitação do projeto antifacção na Câmara, mas a equiparação ficou fora da proposta aprovada.

Lewandowski também disse que o crime organizado está infiltrado na política. Ele declarou que, nas eleições municipais de 2024, houve um esforço das autoridades para evitar a chegada de criminosos a cargos eletivos.

"Já fiz um apelo aos presidentes dos partidos, que só uma atitude repressiva, policial, ou só os cuidados da Justiça Eleitoral não são suficientes. Os presidentes dos partidos políticos têm a responsabilidade de fazer a triagem [dos candidatos]", declarou Ricardo Lewandoswki.

O ministro da Justiça disse que o efetivo da Polícia Federal é pequeno para fiscalizar a entrada de drogas no Brasil. Também reclamou de contingenciamentos na área da segurança pública, fazendo a ressalva de que essa situação é comum em diversos governos, não só no atual.

"Sem uma verba perene, substantiva, para a segurança pública, não é possível enfrentar o crime organizado", declarou Lewandowski.

Lula e seus aliados perceberam que a segurança pública deverá ser um dos temas principais da eleição do ano que vem, e procuram uma marca para apresentar ao eleitorado nessa área.

Governistas costumam defender operações como a Carbono Oculto, deflagrada no fim de agosto, que mirou estruturas de lavagem de dinheiro supostamente ligadas ao PCC (Primeiro Comado da Capital) sem enfrentamento armado com os investigados.

A disputa política em torno do tema ficou clara depois de uma operação policial deixar 121 mortos no Rio de Janeiro e impulsionar a popularidade do governador do estado, Cláudio Castro (PL-RJ). Dias depois, o político minimizou a Carbono Oculto.