SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Um evento no Colégio Estadual Vinicius de Moraes, em Colombo (PR), gerou críticas entre políticos e organizações civis por realizar uma exposição de armamentos para os alunos, menores de 18 anos.

Durante o evento, uma mesa com um arsenal de armas foi montada. Imagens passaram a circular nas redes sociais e mostraram alguns agentes de Rondas Ostensivas de Natureza Especial, da Polícia Militar, atrás da bancada enquanto alunos olhavam as armas e até tiravam fotos delas.

O caso aconteceu na última quarta-feira (3). A instituição é uma das 312 da rede estadual que fazem parte do modelo de gestão cívico militar e recebeu naquele dia a visita de representantes da Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

A exposição de fuzis aos estudantes gerou revolta. O Sindicato dos professores e funcionários de escola do Paraná (APP-Sindicato) repudiou a ação e afirmou que a exibição de armamento pesado dentro do colégio faz parte de uma "cultura da violência".

Deputados também se disseram indignadas com o que ocorreu. A deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) e o deputado federal Tadeu Veneri (PT-PR) declararam ser "inaceitável que a educação pública do Paraná passe a ser o ódio e a violência". "Escola é para ensinar, proteger e acolher, não para militarizar, intimidar ou expor nossos jovens a violência institucionalizada", afirmou Ribeiro.

A situação foi denunciada ao Ministério Público do estado. À reportagem, o órgão afirmou nesta terça-feira (09) que recebeu a denúncia e deve apurar os fatos.

O QUE DIZ O GOVERNO

Governo afirmou que se trata de um tipo de ação tradicional em escolas, praças e eventos comunitário. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que o objetivo era fazer uma homenagem a profissionais das forças de segurança com "atividades educativas" que mostrassem aspectos do trabalho diário deles aos alunos.

Equipamentos estavam em uma área supervisionada, sem manuseio pelos alunos, disse secretaria. "A Sesp destaca que todas as atividades seguiram rigorosamente as normas de segurança e estão alinhadas ao Estatuto da Criança e do Adolescente, com foco em prevenção, informação e aproximação responsável com a comunidade escolar", finalizou. A Secretaria de Educação, por sua vez, não quis se pronunciar.

OUTRO CASO

Na semana passada, outra situação semelhante em escola cívico-militar gerou polêmica. Alunos do colégio João Turin foram filmados cantando uma música atribuída ao Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar do Rio de Janeiro, em 2023. A gravação, no entanto, só passou a circular neste mês.

O grupo de estudantes marchava em uma quadra cantando trechos da música "Homem de Preto". "Homem de preto, o que é que você faz? Eu faço coisas que assusta o satanás. Homem de preto, qual é sua missão? Entrar na favela e deixar o corpo no chão. O Bope tem guerreiros que matam fogueteiros. Com a faca entre os dentes, esfola eles inteiros. Mata, esfola, usando sempre o seu fuzil", dizia uma parte.

Referente a esse episódio, a Secretaria de Educação falou não admitir práticas que incentivem violência ou discriminação. Segundo representantes da instituição, o caso foi uma atitude isolada de uma aluna, que foi orientada a parar a gravação assim que o monitor ouviu o teor do que estava sendo gravado.

PARANÁ TEM 312 ESCOLAS CÍVICO-MILITARES

O Paraná tem 312 escolas cívico-militares, que atendem ao menos 190 mil estudantes. O modelo passou a ser implementado no estado em 2020. Nessas escolas, a gestão é compartilhada entre civis, responsáveis pela parte pedagógica, e militares da reserva, que cuidam da disciplina e rotina.

Sindicato critica o modelo. "Absurdos como esse do vídeo não são casos isolados. Desde o início deste programa (unidades cívico-militares), temos recebido e denunciado ocorrências semelhantes e até piores em escolas que adotaram o modelo cívico-militar", disse o APP-Sindicato.

O programa é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF. No ano passado, o relator da ação, Dias Toffoli, determinou que o caso fosse levado ao plenário para julgamento, mas não há prazo para que isso aconteça.