SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi a partir da sugestão de uma usuária que a linha 5-lilás do metrô de SP criou uma rampa móvel, mais ágil, para ser colocada nos trens caso haja necessidade do passageiro com deficiência no momento do embarque e do desembarque nas estações. O procedimento é feito várias vezes por dia, sobretudo para quem usa cadeiras de rodas motorizadas.

Em uma outra situação, a mãe de uma criança autista pediu para verificar a possibilidade de diminuir o volume do alerta sonoro das portas, durante abertura e fechamento, para maior conforto de pessoas do espectro. Após estudo técnico, o ajuste foi realizado em trens das linhas 1 e 2, azul e verde.

As medidas se somam a diversas outras que levaram o modal de transporte paulistano a ser reconhecido e premiado entre os mais acessíveis do mundo, com suas 91 estações podendo ser transitadas por todos, algo que não é realidade nas principais capitais do planeta.

Na lista de metrôs símbolos em garantia de acesso pelo mundo estão também os de Singapura, no sudeste asiático, o de Tóquio, no Japão, e o de Vancouver, no Canadá.

O fato de ser mais contemporâneo que metrôs de cidades como Paris, na França, e Nova York, nos EUA, ajuda na conquista paulistana, uma vez que as primeiras linhas têm 50 anos, nem metade das londrinas, por exemplo, de 1863.

Mas não apenas o tempo ajudou. A pressão social por inclusão, os avanços na legislação e a ascensão da acessibilidade como cultura e pilar estratégico impulsionaram a conquista, mas ainda há falhas e desafios.

Na última sexta-feira (5), celebrou-se o Dia da Acessibilidade e, na quarta-feira (3), o Dia Internacional da Pessoa Com Deficiência.

Nas seis linhas em operação hoje no Metrô, são ao menos 280 elevadores, 700 escadas rolantes, três salas sensoriais para regulação de pessoas neurodivergentes, piso de orientação para cegos em todas as estações e sinalização com linguagem símples, na estação Hospital São Paulo (linha 5-lilás).

Destacam-se também avisos luminosos para surdos nos trens, três postos de atendimento exclusivos para pessoas com deficiência que servem tanto para informações como para pequenos reparos em mecanismos de acessibilidade e relevo em braile em corrimões e rampas.

Um grande diferencial brasileiro, porém, é a possibilidade de o usuário pedir assistência personalizada para embarcar em um ponto e desembarcar em outro com auxílio de um funcionário treinado.

Qualquer pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida que não tiver autonomia para viajar sozinha pode lançar mão do serviço gratuitamente logo no bloqueio das estações.

Por dia, são quase 1.800 atendimentos diários monitorados por uma sala de controle que funciona desde a abertura do metrô, ainda de madrugada, 4h40, até o fechamento, 0h.

A logística e questões arquitetônicas, porém, não são o maior desafio para manter o posto de destaque em acessibilidade. Para quem está à frente do comando das operações, o grande entrave é o comportamento dos viajantes sem deficiência.

"O desafio mais importante que temos é conscientizar as pessoas que elas precisam respeitar o direito dos outros. Elevadores são de uso prioritário para pessoas com deficiência, mas muitos passageiros que não teriam necessidade de utilizar acabam utilizando. Isso tira a vez daquele que necessita. É um trabalho muito grande do quadro da nossa comunicação", afirma Antonio Marcio Barros Silva, diretor das linhas 4 e 5, administradas pela Motiva.

A dificuldade de se fazer respeitar assentos reservados, de facilitar a entrada de pessoas com deficiência nos trens e de evitar que usuários fiquem sobre a faixa de orientação de pessoas com deficiência visual, por exemplo, fez o Metrô realizar, neste ano, uma campanha por mais gentileza.

"Temos uma questão de [falta de] gentileza forte. Em nossa campanha, em alguns trens, para chamar a atenção, trocamos a sinalização dos assentos preferenciais por setas em várias direções, mostrando que todos os lugares devem ser prioritários, desde que haja educação, que a pessoa seja gentil", diz Melissa Belato Fortes, chefe do departamento de relacionamento com passageiro.

Para o especialista em gestão pública Leandro Ribeiro Silva, cadeirante e usuário da rede de trens, o serviço é bom, especialmente se comparado a outros meios de transporte da capital. Ele destaca a qualidade do atendimento para pessoas que precisam de apoio dentro das plataformas e diz que os funcionários, na maioria das vezes, atuam com boa vontade.

Segundo ele, o que ainda afeta a qualidade de acessibilidade no metrô é a falta de padronização de alguns equipamentos, como elevadores com botões mais altos ou mais baixos e o vão entre o trem e a plataforma, que também pode mudar de largura dependendo da estação.

De acordo com o Metrô, os planos são de modernizar equipamentos mais antigos e ampliar a gama de serviços acessíveis nos próximos anos, com mais avanços inclusivos.

A empresa também afirma que mantém equipes de forma permanente tanto para manutenção dos dispositivos fundamentais às pessoas com deficiência, como para agir o mais rápido possível durante eventuais falhas, o que também gera reclamação de usuários.

Equipes de funcionários têm recebido treinamentos para atuar com o público com deficiência também em situações de emergência, como a ocorrida em janeiro, na estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna, da linha 1-azul, que alagou.