SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O ex-empresário preso acusado de atirar e matar um gari em Belo Horizonte voltou a mudar de versão sobre o crime.

Renê Nogueira Junior disse que Laudemir de Souza Fernandes pode ter sido vítima de uma guerra de facções. A declaração aconteceu durante uma entrevista para a TV Record -a primeira desde que foi preso.

O homem disse que o crime pode ter ligação com a atuação de traficantes de um bairro próximo ao local da morte. O gari foi morto no bairro Vista Alegre, vizinho do Cabana do Pai Tomás, que tem atuação de uma facção criminosa.

O ex-empresário falou ainda que já tinha sido abordado por traficantes armados na região e que o local é perigoso. Ele pediu a reabertura da investigação da morte por parte da Polícia Civil de Minas Gerais considerando a informação.

"Ela é dominada por uma facção, e ali dentro é realmente muito perigoso. Quando, à primeira vista, eu vi isso [informação da morte do gari], pensei: 'Isso foi uma guerra de facção'", disse Renê Nogueira Júnior.

Renê foi questionado por que estava armado no local. Ele "e outras 300 pessoas" estariam, relatou.

O ex-empresário disse que foi apontado como o atirador por testemunhas por conta de interesses financeiros. Ainda segundo disse, as pessoas testemunharam contra ele por medo de represália de traficantes. Contudo, provas colhidas vão contra a versão, que mostram imagens do carro do homem no local e ele portando a arma utilizada no crime -que pertencia a sua mulher, a delegada Ana Paula Balbino.

A defesa da família do gari disse que as alegações não têm qualquer respaldo. O advogado Tiago Lenoir disse que a versão "contraria absolutamente todas as provas produzidas em juízo. Trata-se de uma versão tardia, isolada e já completamente descartada pela dinâmica real dos fatos".

A Polícia Civil de Minas Gerais disse que o inquérito correu "em conformidade" com os preceitos constitucionais. Ao UOL, o órgão informou que "o Inquérito Policial tramitou em conformidade aos preceitos constitucionais e legais vigentes, respeitando a ampla defesa e o contraditório do investigado, sendo concluído e remetido à Justiça para as medidas legais cabíveis".

Esta é a terceira versão apresentada por Renê sobre o crime. Anteriormente ele falou que o caso havia sido um acidente, além de narrar que atirou para o alto após uma discussão com um grupo de garis, e que só soube da morte horas depois.

Ele negou que tenha atirado contra o gari. O preso disse que "teve a oportunidade de atirar em outras pessoas" no dia do crime, mas que não fez isso. O relato aconteceu durante seu interrogatório em audiência de instrução.

O réu disse à Justiça que ficou cerca de 30 minutos parado no trânsito antes do crime e que "jamais atiraria em alguém por isso". Nogueira é réu confesso pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, em agosto deste ano. O empresário está preso desde o dia do crime.

Ele disse que confessou o crime por ter sido ameaçado por policiais. O ex-empresário relatou que os agentes teriam dito que poderiam prejudicar sua esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino, caso não fizesse o que eles queriam.

O réu disse que estava andando armado por conta de ameaças de um antigo sócio, que seria envolvido com o jogo do bicho na capital mineira. O UOL tenta contato com a Polícia Civil de Minas Gerais para colher informações sobre o boletim de ocorrência contra o antigo sócio.

Empresário discutiu com a motorista do caminhão de lixo, e Laudemir e outros garis saíram em defesa da colega. O empresário pegou a arma e atingiu a vítima na região torácica. O coletor foi socorrido e encaminhado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas morreu.

Renê fugiu do local do crime e foi preso enquanto treinava em uma academia de alto padrão. A prisão ocorreu horas depois do assassinato, no bairro Estoril, área elitizada da capital mineira.

Fraude processual por suposta tentativa de enganar a polícia. Ainda segundo a promotoria, ele pediu à esposa para que entregasse arma diferente daquela usada no crime. Ana Paula, porém, não atendeu ao pedido do marido.

Promotoria prevê que uma decisão definitiva do caso seja tomada no prazo de um ano. "Acredito que, talvez, em menos de um ano, nós possamos ter talvez uma decisão de pronúncia, se houver prova para tanto", esclareceu o promotor Claudio Barros.