BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) - O novo presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Olival Freire Junior, 71, afirmou que lançará ainda neste mês uma nova chamada do programa Conhecimento Brasil, com um valor aproximado de R$ 624 milhões em quatro anos. Em entrevista à reportagem na última terça (9), poucos dias após assumir o posto, ele também disse que pretender ampliar a comunicação do órgão com a sociedade.

O programa em questão foi lançado sob a presidência do antecessor Ricardo Galvão -o físico permaneceu à frente do CNPq de 2023 até outubro deste ano- para atrair pesquisadores brasileiros que estavam fora do país ou que concluíram parte de sua formação no exterior.

O novo edital, segundo Freire Junior, visa a fixação de pesquisadores e é destinado a cientistas com doutorado. O projeto recebeu o nome de Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Brasil (Profix-CB). As bolsas serão de R$ 13 mil mensais (por quatro anos), custeadas pelo FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), fundo que tem sido essencial no financiamento das pesquisas.

A chamada terá cerca de mil bolsas e será feita em parceria com as fundações de amparo à pesquisa dos estados e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). As fundações vão ter até fevereiro de 2026 para manifestar interesse em participar do programa. A expectativa, segundo o CNPq, é que elas possam iniciar em março as chamadas nos estados.

"As áreas de conhecimento espelham as prioridades da Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia, mas cada fundação vai poder indicar quais são as prioridades que ela tem para absorver e como ela fará a seleção", afirmou Freire Junior. "Nós vamos, portanto, poder lidar com esse foco de prioridades regionais."

A Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia referente ao período 2024-2034 está em consulta pública no momento. Ela apresenta 4 eixos estruturantes e diversas áreas prioritárias em cada um deles, como energias renováveis, bioeconomia, IA (inteligência artificial), computação quântica e novos materiais, minerais estratégicos e críticos, redução das desigualdades, e inclusão e diversidade, entre outros.

Freire Junior apontou que as bolsas não terão, necessariamente, os mesmos benefícios que foram apresentados no edital anterior do Conhecimento Brasil, mas que as fundações estaduais poderão prover auxílios adicionais aos seus escolhidos, com variações de lugar para lugar.

"Cada estado terá um número de bolsas de modo que não correremos o risco, por exemplo, de um edital como esse levar a uma excessiva concentração nos grandes centros de ciência e tecnologia que estão no Sudeste do país", afirmou Freire Junior.

Foi exatamente isso que aconteceu na primeira experiência do Conhecimento Brasil, em meados deste ano. Cerca de 51% dos valores aprovados no programa, como um todo, foram destinados para instituições de pesquisa e ensino do Sudeste, com destaque para USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), segundo análise feita pela Folha de S.Paulo.

Segundo o novo presidente do CNPq, a avaliação do Conhecimento Brasil até aqui é extremamente positiva. Ele afirmou que, antes do programa, o conselho não tinha conhecimento sobre os pesquisadores que estariam dispostos a retornar ao Brasil.

"Eu vou lhe dizer com franqueza: se nós tivéssemos tido 200 bons candidatos selecionados, eu estaria feliz", disse Freire Junior, que, antes da presidência do CNPq, ocupava a diretoria científica do órgão. Foram selecionados 567 de mais de 1.000 inscritos na primeira fase do programa. "Foi acima das nossas expectativas."

CONHECIMENTO BRASIL PARA ATRAIR ESTRANGEIROS

Galvão, ex-presidente do CNPq, havia anunciado que um novo edital do programa Conhecimento Brasil buscaria atrair experientes pesquisadores estrangeiros para o Brasil. A ideia era lançar a chamada ainda neste ano, o que não deve mais acontecer.

Freire Junior afirmou que o interesse específico desse edital é em cientistas dos Estados Unidos -o país, neste primeiro ano do novo governo republicano Donald Trump, tem sofrido com profundos cortes na pesquisa. "O que nós estamos fazendo nesse momento é uma conversa, especialmente com setores da indústria, setores de laboratórios, para a gente identificar qual é o perfil desse pesquisador estrangeiro que esses setores teriam interesse em atrair", disse.

Por envolver questões de visto e diplomacia, o edital ainda está sendo desenhado. Apesar disso, Freire Junior afirmou que a chamada permanece como um compromisso do CNPq.

MAIS COMUNICAÇÃO

O novo presidente do CNPq é elogioso em relação à administração anterior e disse que sua gestão é de continuidade, apesar de ele e Galvão terem estilos diferentes.

"Por exemplo, o Galvão, atualmente, como deputado, está mais ativo nas redes sociais, mas ele era mais cuidadoso com as redes sociais. E a minha percepção é de que hoje os gestores têm que estar sintonizados nas redes sociais", afirmou Freire Junior.

A atenção ao que se fala na internet é exemplificada por ele com um caso do último final de semana. Segundo Freire Junior, a partir de interação nas redes sociais, foi identificado um problema de atraso em bolsas de dois convênios com o Ministério da Saúde. Em seguida, a situação já teria sido resolvida.

Ele afirmou também ser necessário mais comunicação -sobre o que está sendo feito- e interatividade do conselho com a sociedade. Nesse ponto, ele disse que não se tratava de um "problema propriamente do Galvão, eu acho que é um problema de todo o governo".

"A comunicação que a gente faz desses resultados ainda é insuficiente", disse Freire Junior.

O novo presidente do CNPq afirmou que, pensando nisso, em reunião com o presidente Lula (PT), na última sexta (5), apresentou uma ideia como parte das comemorações de 75 anos do conselho em 2026.

"Eu propus ao presidente que a gente comemorasse fazendo um encontro dele com o que eu chamei de 'chão de fábrica da ciência'", afirmou Freire Junior. A ideia é que alguns pesquisadores tivessem acesso ao presidente para uma conversa, na qual poderiam falar de problemas e pontos positivos da administração no que diz respeito à ciência.

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