SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Os ventos do ciclone extratropical que atingiu a Grande São Paulo ontem deixaram mais de 1,3 milhão de imóveis sem energia. Em cenários assim, uma opção é recorrer a geradores de energia. Mas será que esse tipo de equipamento realmente compensa o investimento?

VALE A PENA COMPRAR UM GERADOR DE ENERGIA?

Compra depende do perfil de consumo e da frequência de falta de energia. Segundo o professor de engenharia elétrica Alexandre Nunes, da Universidade Cruzeiro do Sul, "para uma residência, especialmente em áreas que sofrem com apagões frequentes, investir em um gerador pode valer a pena". Geradores garantem a continuidade de serviços essenciais, como iluminação e refrigeração, durante longas quedas de energia.

Os geradores convertem energia mecânica em eletricidade por meio de combustíveis. Utilizando gasolina, diesel ou gás natural, os geradores alimentam um motor que, por sua vez, aciona um alternador. Isso permite que aparelhos elétricos funcionem mesmo com a rede de energia inoperante, explica Edval Delbone, do Instituto Mauá de Tecnologia: "O gerador de energia transforma energia mecânica em elétrica, funcionando como um conversor eletromecânico".

Geradores a diesel são mais robustos e eficientes a longo prazo. Esses modelos têm maior durabilidade e exigem menos manutenção, porém, são mais caros e mais poluentes. "O diesel é menos inflamável e tem uma densidade energética maior", ressalta Delbone, embora ele também alerte para o impacto ambiental.

Geradores a gás são opções mais sustentáveis, mas mais caras. Apesar de exigirem um investimento inicial maior, os geradores a gás emitem menos poluentes e têm menor impacto ambiental.

"O recente apagão mostrou que estamos diante de uma triste realidade, ou seja, com as mudanças climáticas, aumentou os riscos de chuvas de ventos fortes, com um sistema de distribuição predominantemente aéreo e muita demora para o retorno do fornecimento de energia depois de um apagão", disse Edval Delbone.

CABE NO BOLSO?

Os custos variam conforme o tipo e a potência do gerador. O custo médio de um gerador para uma residência com quatro pessoas varia conforme a potência necessária, o tipo de combustível e as características da residência. Os valores podem ir de cerca de R$ 1.500 a R$ 12.000 em modelos "residenciais".

"Em casas, é possível instalar geradores com maior capacidade e autonomia. Já em apartamentos, existem opções mais compactas e silenciosas. No entanto, é importante considerar os custos de aquisição, manutenção e combustíveis, além de verificar o espaço disponível e as regulamentações do condomínio ou bairro", disse Alexandre Nunes.

O consumidor comum deve avaliar cuidadosamente se o investimento é realmente necessário. Muitas vezes, uma solução menor, como um no-break, pode ser mais viável para pequenas cargas, como computadores e roteadores, evitando os custos elevados de manutenção de um gerador. A explicação é do professor Rubens Alexandre de Faria, doutor em Engenharia Elétrica e Informática Industrial e professor titular do Departamento Acadêmico de Eletrônica da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

A escolha de um gerador deve ser feita com base nas necessidades reais de consumo da residência. Faria explica que é essencial determinar quais aparelhos serão mantidos em funcionamento durante um apagão, como geladeiras, iluminação ou equipamentos médicos. Esse cálculo exato ajuda a evitar gastos desnecessários com geradores mais potentes do que o necessário.

"Além do custo inicial, a manutenção contínua é um fator importante que o consumidor deve considerar. Troca de óleo, velas, filtros e consumo de combustível são despesas recorrentes que podem não compensar para quem pretende usar o gerador de forma esporádica. O custo-benefício deve ser analisado, especialmente para quem não enfrenta quedas de energia frequentes", disse Rubens Faria.

FALTA DE ENERGIA JÁ ULTRAPASSA 24H

Até ontem a noite, eram 2,2 milhões de clientes sem energia. De acordo com dados da Enel, atualizados às 12h43 de hoje, esse número diminuiu para 1,38 milhão. Equipes técnicas teriam trabalhado durante a madrugada para resolver a situação.

Só na capital paulista, são mais de 940 mil unidades consumidoras sem o serviço. Isso significa que quase 20% da cidade foi afetada, uma vez que a concessionária atende 5,8 milhões de imóveis no território.

A falta de energia também afetou o abastecimento de água. Na capital, foram impactadas as seguintes regiões: Americanópolis, Cangaíba, Parelheiros, Parque do Carmo, Parque Savoy, Sacomã, Vila Clara, Vila Formosa e Vila Romana.

CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que 218 semáforos estão apagados pela falta de energia. O trânsito em São Paulo na manhã de hoje superou 570 km de lentidão às 10h. Só na zona oeste são 179 km de lentidão, o que significa que 31% da área de tráfego da região está com problema, acima do normal registrado no mesmo horário em outros dias.

Ventania continua relativamente intensa na manhã de hoje e atrapalha o restabelecimento da normalidade. A Defesa Civil informou que os ventos, na capital, estavam com velocidade de 72,4 km/h até às 13h, e deram uma amenizada em relação a ontem, quando passou de 90 km/h.

Até às 13h47 de hoje, os bombeiros atenderam 205 chamados para quedas de árvores. Durante o dia de ontem, as equipes receberam 1.642 ocorrências desse tipo, além de 26 chamados para desabamentos e cinco para alagamentos.