SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mais de 48 horas após terem ficado sem energia, milhares de moradores de São Paulo continuam sem previsão de retorno do serviço. A Enel passou a classificar esses casos como "alta complexidade" e não informa mais prazo para solucionar o problema.

Cerca de 700 mil imóveis ainda enfrentam a falta de energia elétrica no estado de São Paulo após a passagem de um ciclone extratropical. A Folha questionou a Enel sobre a falta de previsão para o retorno do serviço, mas não teve resposta.

O publicitário Leonardo Carvalho, 46, mora em frente à praça Olavo Bilac, no Campos Elíseos, região central da cidade, e conta que está sem energia desde às 10h de quarta-feira (10).

"No primeiro dia, a Enel ainda dava alguma previsão de retorno, que foi mudando de hora em hora. Agora, já não há nenhuma previsão e não consigo falar com nenhum atendente por telefone, no site só sou atendido por bots. É desesperador", conta.

No primeiro dia, a Enel ainda dava alguma previsão de retorno, que foi mudando de hora em hora. Agora, já não há nenhuma previsão e não consigo falar com nenhum atendente por telefone, no site só sou atendido por bots. É desesperador

publicitário morador de Campos Elíseos, região central de SP

Ele diz ter recebido uma mensagem da Enel informando que o caso do prédio dele faz parte de um "grupo de ocorrências mais complexas, que exige um tempo maior de reparo". A concessionária diz ainda que uma equipe já está trabalhando para restaurar a energia na região.

"Eles falam que uma equipe está trabalhando no local, mas não vi ninguém", diz.

Rafael Bezerra, 45, mora no Campos Elíseos e também está há quase 48 horas sem energia e recebeu a mesma mensagem da Enel.

"Recebi diversas mensagens informando que a equipe já está no local, mas nunca apareceu ninguém", conta.

Ele é professor de inglês e conta ter perdido dois dias de trabalho, já que dá aulas online. "Tive um prejuízo enorme já pela incompetência da Enel em restabelecer um serviço que é essencial."

Na rua da Mooca, na zona leste, moradores também estão há dois dias sem energia e sem previsão de retorno. Eles têm comprado gelo para não perder os alimentos que precisam ser refrigerados.

"A gente vai fazendo o que pode para minimizar o prejuízo. Já comprei cinco sacos de gelo e mesmo assim perdi alguns alimentos. Estou vendo de entrar com uma ação contra a Enel para ser ressarcida", disse Tamires Santos, 32.

A gente vai fazendo o que pode para minimizar o prejuízo. Já comprei cinco sacos de gelo e mesmo assim perdi alguns alimentos. Estou vendo de entrar com uma ação contra a Enel para ser ressarcida

vendedora da Mooca, zona leste de SP

A jornalista Talissa Silva, 27, também está desde a manhã de quarta sem energia em sua casa na rua Major Diogo, na Bela Vista, regão central de São Paulo. Ela diz ter recebido diversas mensagens da Enel, informando que uma equipe está no local para retomar o serviço e até agora nada foi feito.

"Desde quarta à noite, eles dizem que há uma equipe no local, mas ninguém viu nenhum funcionário ou carro da Enel. Já são mais de 48 horas sem energia e a comunicação é péssima", conta. Ela teve que sair de casa e ir para uma amiga para conseguir trabalhar.

A vendedora Luana Gregio, 39, também está sem energia em sua casa no Parque São Lucas, na zona leste da capital. Ela conta que as ruas do entorno já tiveram o serviço restabelecido, menos a sua rua.

"Não entendo como podem resolver várias ruas e deixar uma sem energia. Eles não dão previsão de retorno e eu não consigo nem abrir outro chamado de reclamação mais. Me sinto de mãos atadas."

Ela mora com a mãe de 79 anos, que tem problemas de saúde, e diz estar passando por várias dificuldades. "Eu não posso deixar ela tomar banho frio, então tenho dado banho de caneca. Já perdi vários alimentos que havia comprado para as refeições da minha mãe. É um desrespeito enorme, ainda mais com uma senhora com a saúde debilitada."

A auxiliar administrativa Isabel Lopes, 20, está sem luz desde às 16h30 de quarta-feira na Vila Maria, zona norte de São Paulo. Ela conta que sua mãe trabalha em home office e tem ido à casa de familiares para conseguir exercer a profissão. Além disso, seu avô, que mora no mesmo quintal, é portador de diabetes e costuma guardar a insulina na geladeira.

"Minha mãe ligou lá [na Enel] algumas vezes e a atendente disse que está dando prioridade a quem usa aparelhos em casa, porém, disse, sem empatia alguma, que ?insulina dá pra se preservar de outras formas, só comprar gelo?. Insulina tem uma temperatura adequada para se aplicar, e cada caneta custa em torno de R$ 100 a R$ 300", relata.

Já a estudante Dajelmar Isabela, 18, não tem energia desde às 10h de quarta no Jardim Donária, zona norte, e diz que boa parte de suas comidas na geladeira estragara . Ela tem precisado comprar marmitas e não consegue lavar sua roupa. "Tenho uma alergia no corpo e devo tomar banho com água morna, o que não sido possível devido a essa questão", diz.

A contadora Patrícia Gambeta, 52, mora em um condomínio de casas na Mooca que está sem luz desde às 13h de quarta. "Trabalho em home office, então não consigo atender os clientes conforme me chamam, pois para conseguir internet e banho, tenho que ir pra casa de parentes".

Ela conta que perdeu tudo que estava na geladeira, e que o portão de entrada de veículos só funciona no modo manual. "Isso nos obriga a descer do carro para abrir, o que deixa todo o condomínio vulnerável aos ladrões", afirma.