SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma nova espécie de sapinho da mata atlântica foi batizada em homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O artigo descrevendo as características do espécime e sua relação com as demais do gênero foi publicado na última quarta (10) no periódico PlOS One.

A espécie B. lulai recebeu uma nomenclatura própria por se distinguir das demais do gênero Brachycephalus, que inclui os chamados pingos-de-ouro, espécies diminutas de sapos (as fêmeas têm 13 mm de comprimento e os machos, 8 mm, em média) que vivem sob a folhagem no chão das florestas tropicais (serrapilheira).

O sapinho é endêmico da serra do Quiriri, um dos últimos redutos de mata atlântica da região nordeste de Santa Catarina, na divisa com o Paraná. Apesar de diminutos, eles possuem um canto bem característico, e foi isso que possibilitou o achado da nova espécie.

O trabalho foi feito por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), da UFPR (Universidade Federal do Paraná), do Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais e dos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido.

No estudo, os autores analisaram dados morfológicos, como coloração, tamanho e ossos do crânio e esqueleto, genéticos (obtidos a partir de quatro genes diferentes) e bioacústicos (comprimento e frequência de ondas do canto) de 32 indivíduos coletados em diversos pontos na serra.

Depois, os dados foram combinados em uma análise filogenética contendo membros do grupo B. pernix, que é o grupo de espécies que ocorre no sul da mata atlântica e que inclui espécies que compartilham características genéticas e morfológicas com a espécie nova.

"Na serra do Quiriri ocorrem três espécies: B. auroguttatus, B. quiririensis e agora B. lulai. B. quiririensis está restrita à extremidade norte da Serra, em uma área estimada de pouco mais de 1.300 hectares, enquanto B. auroguttatus, até onde sabemos, está restrito a uma única montanha um pouco mais ao sul, chamada Pedra da Tartaruga, de 400 hectares. Um pouco mais ao sul, na porção florestal da Serra, encontra-se a nova espécie, ocupando uma área estimada de 800 hectares", afirmou Márcio Pie, professor associado do departamento de zoologia da UFPR e autor correspondente do estudo.

Segundo ele, a homenagem a Lula ocorreu para chamar atenção para os desafios de preservar espécies de altitude. "Além disso, as espécies desse gênero, devido à sua miniaturização, não têm todos os dedos, o que leva a um aspecto em comum entre a nova espécie e o presidente", disse.

O gênero Brachycephalus tem mais de 40 espécies, sendo 37 delas descritas nos últimos 25 anos. "Nosso grupo estuda anfíbios de áreas de altitude da serra do Mar há mais de uma década, e descobrimos 13 (outro número sugestivo) das 45 espécies conhecidas do gênero, e provavelmente ainda há mais espécies para serem descobertas", acrescentou o pesquisador.

Como esses sapos são muito pequenos, sua área de vida é limitada, muitas vezes com uma única espécie habitando apenas um local --o que é conhecido como endemismo. Isto faz com que os sapinhos do gênero Brachycephalus sejam extremamente vulneráveis a perturbações do habitat, como as causadas por desmatamento e mudanças climáticas.

Por essa razão, os autores sugerem a criação de uma área de proteção ambiental para garantir a sobrevivência dessa e de outras espécies. A área seria chamada de Refúgio da Vida Silvestre Serra do Quiriri, compreendendo uma área de 6.600 hectares entre os municípios de Garuva e Campo Alegre (SC).

De acordo com os autores, o objetivo é garantir a proteção de B. lulai, "mas também de B. quiririensis, B. auroguttatus e Melanophryniscus biancae [uma outra espécie de sapo], além das florestas nebulares e campos de altitude", o tipo de ecossistema onde esses sapinhos vivem.

Como ele foi recém-descrito, o sapinho B. lulai não possui ainda um estado de conservação pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza, em inglês). As outras duas espécies, B. quiririensis e B. auroguttatus, podem sair do estado de criticamente reduzido para completamente recuperado. Nessa classificação, as populações de espécies são analisadas pelo seu potencial de recuperação.

"A forma mais efetiva de proteger as espécies e seus habitats, é por meio da criação de unidades de conservação. Por este motivo, vários ambientalistas têm proposto a criação do Parque Nacional da Serra do Quiriri/Araçatuba na região entre os estados de Santa Catarina e do Paraná. Isso permitiria a conservação não só dessas espécies de anfíbios, mas também muitas outras espécies endêmicas de plantas e animais", afirmou Pie.

O projeto teve apoio da Fundação Grupo Boticário, uma organização dedicada à conservação da biodiversidade.