SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Três dias após o início do apagão causado pela passagem de um ciclone extratropical, mais de 400 mil imóveis ainda enfrentam a falta de energia elétrica no estado de São Paulo neste sábado (13). Um deles é o de Leonir Ferreira, no Campo Limpo, zona sul da capital paulista.
Junto a vizinhos, o vendedor de pipas fez um protesto na última noite, incendiando sacos de lixo para chamar a atenção para a situação. "Palhaço, me sinto um palhaço. Como alguém vive assim, na escuridão?", questiona.
Pai de três crianças, Leonir diz que resolveu passar o fim de semana fora, na casa de uma tia em Osasco, na Grande São Paulo.
Em Artur Alvim, na zona leste, Cláudio Andrade e sua esposa, Pamela, fazem o mesmo movimento. No escuro há mais de 60 horas e sem comida em casa, pois toda ela estragou, o casal resolveu ir para Itanhaém, no litoral paulista, onde vivem parentes. "Pode parecer divertido, mas sair de casa forçadamente é um saco", diz Cláudio, professor de geografia num colégio a poucas quadras de sua casa e que também está sem energia.
Morador de Perdizes, na zona oeste da cidade, Paulo Chiotti conta que não pisa em seu apartamento desde quinta-feira (11). No grupo do condomínio, fica atento a informações sobre o retorno da luz. Por enquanto, nem sinal, diz. "Então, vou seguir fora de casa. Não quero passar mais raiva ainda", comenta o empresário, hospedado no apartamento de sua ex-namorada, no centro da cidade.
Mas este sábado tem sido também de alívio para alguns na capital. Muitos imóveis tiveram sua energia religada nesta madrugada ou manhã. Na Vila Mascote, na zona sul, os moradores gritavam de suas janelas em comemoração.
No Grajaú, no extremo-sul, um buzinaço tomou as ruas. Nem todos do maior distrito de São Paulo, no entanto, puderam comemorar. Seus bairros mais afastados, como o Jardim Lucélia, seguem no escuro. Parte de seus moradores tem buscado refúgio em parques, como o da praia do Sol, às margens da represa de Guarapiranga, e no Sesc Interlagos.
A situação é ainda pior na Vila Andrade, também na zona sul. Por lá, mais de 100 imóveis seguem sem energia. Um grupo de moradores tem compartilhado a situação nas redes sociais. Eles relatam perdas de alimentos e medicamentos por falta de refrigeração.
Sem resposta da Enel sobre previsão de ter o serviço restabelecido, eles convocaram reuniões com vereadores e pediram reforço da GCM (Guarda Civil Metropolitana), visto que roubos e furtos já foram registrados.
Moradores de um prédio no Jabaquara, na zona sul, afirmam que a Enel enviou um funcionário para cortar a luz de um apartamento por inadimplência. Isso apesar do condomínio estar sem energia desde quinta-feira.
A síndica profissional, Luciana Ribeiro, diz que a concessionária ignorou a urgência. "É inacreditável priorizar o corte de energia no meio de um prédio às escuras", afirma. Ela também critica a falta de equipe para o serviço essencial: "A Enel tem funcionários para cobrar, mas não para religar".
Em nota, a concessionária disse que não enviou equipe de corte para o endereço mencionado, e que os funcionários concentrados em ações para restabelecer a energia em toda a área de concessão.
O Tribunal de Justiça de São Paulo acatou um pedido do Ministério Público e determinou que a Enel restabeleça a energia elétrica para todos os clientes de sua área de concessão em São Paulo em até 12 horas, sob pena de multa horária de R$ 200 mil.
Além disso, a juíza Gisele Valle Monteiro da Rocha, da 31ª Vara Cível, determinou que a concessionária religue a energia de forma imediata ou no prazo máximo de quatro horas nas seguintes situações e locais:
Unidades hospitalares e serviços de saúde, incluindo as 114 unidades sem energia desde quinta-feira (11);
eletrodependentes cadastrados junto à concessionária, cuja vida depende do fornecimento contínuo;
instituições públicas essenciais, como delegacias, presídios e equipamentos de segurança;
Creches, escolas e espaços coletivos, especialmente em razão da realização de vestibulares e provas;
sistemas de abastecimento de água e saneamento, como instalações da Sabesp e condomínios com bombas elétricas;
locais que concentram pessoas vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiência.
Em nota divulgada na manhã deste sábado, a Enel não menciona a liminar, mas prevê que a situação será resolvida até o fim do domingo (14) -até então, a concessionária evitava dar um prazo para a volta total de energia.