SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de o diabetes e a hipertensão serem apontados pelo Ministério da Saúde como os principais fatores de risco para a doença renal crônica, apenas 10% dos brasileiros sabem que o mau controle dessas condições pode causar problemas nos rins ou no coração. O dado é de uma pesquisa Datafolha encomendada pela Astrazeneca e divulgada na quinta-feira (11).

Embora 99% dos entrevistados afirmem já ter ouvido falar sobre diabetes, a maioria desconhece suas complicações. O levantamento, realizado entre 8 e 12 de setembro de 2025, ouviu 2.005 pessoas presencialmente (1.034 mulheres e 971 homens) em 113 municípios de todas as regiões do país.

As complicações do diabetes mais lembradas foram amputações (27%) e perda da visão (23%). Segundo o endocrinologista Luis Henrique Canani, coordenador do departamento de doenças renais da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), alterações na retina e doença renal "costumam caminhar lado a lado".

"É muito frequente que quem tem doença renal por diabetes também apresente alguma alteração ocular, e o inverso também é verdadeiro. Mas a visão chama mais atenção e causa medo, enquanto o rim não dá sintomas até estar muito comprometido", explica o professor da Faculdade de Medicina da UFRGS.

Canani ressalta que amputações são complicações menos comuns e tardias, embora causem maior impacto por comprometerem a funcionalidade.

O Ministério da Saúde estima que 6,7% da população adulta brasileira tenha doença renal crônica, com prevalência três vezes maior entre idosos. Já a hipertensão, também fator relevante para problemas nos rins, afeta 27,9% dos brasileiros, segundo o Vigitel 2023.

A doença renal crônica é caracterizada pela lesão progressiva e irreversível dos rins, que perdem a capacidade de filtrar o sangue e eliminar resíduos pela urina. Os sintomas, como inchaço e alterações no xixi, costumam surgir apenas em fases avançadas. O diabetes e a hipertensão são as condições que mais lesionam, de forma contínua e silenciosa, os vasos sanguíneos e os filtros dos rins.

"No censo de 2024 do IBGE, 29% dos pacientes que chegaram à diálise tinham hipertensão e diabetes", diz o nefrologista Carlos Koga, do Einstein Hospital Israelita.

Segundo ele, a doença renal poderia ser diagnosticada precocemente com exames simples e disponíveis no SUS: creatinina no sangue e albumina ou creatinina na urina. Pessoas com diabetes e hipertensão devem fazer esses testes anualmente.

"Se esperarmos os sintomas, já perdemos décadas de doença", afirma. Entre os sinais tardios estão espuma na urina, inchaço, pressão alta, mal-estar e náuseas.

O SUS possui diretrizes que recomendam rastreamento para grupos de risco, sendo eles as pessoas diabéticas e hipertensas, além de idosos, pessoas com histórico familiar e pacientes com doenças cardiovasculares.

Mesmo assim, entre os participantes da pesquisa Datafolha com diagnóstico de diabetes e/ou hipertensão, 31% disseram nunca ter recebido orientações médicas sobre prevenção de complicações; 61% gostariam de tirar dúvidas com especialistas sobre alimentação e riscos cardíacos e renais.

De acordo com André Pimentel, nefrologista e diretor técnico da ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante), há duas principais formas de manifestação da doença renal em diabéticos. A primeira é a perda de proteína pela urina (albuminúria). A segunda é a redução da taxa de filtração glomerular, medida que mostra o quanto os rins conseguem filtrar o sangue por minuto.

"Se o paciente começa a apresentar albuminúria ou queda da taxa de filtração, isso indica evolução para doença renal diabética", afirma.

Para ele, o desconhecimento da população ocorre devido a atenção excessiva à glicemia e a ausência de exames de rotina. "Se o paciente não faz exames, nunca saberá que tem comprometimento renal", diz.

A prevenção depende do controle dos fatores de risco, muitos deles modificáveis, como obesidade, sedentarismo, tabagismo e hipertensão. Reduzir o peso com mudanças no estilo de vida, atividade física e medicamentos diminui significativamente o risco de progressão da doença renal.

Pimentel destaca ainda que, nos últimos anos, houve uma mudança importante no tratamento da doença renal causada pelo diabetes.

"Por 30 anos, basicicamente contávamos com dieta, controle glicêmico e controle da pressão para tentar frear a evolução da doença renal diabética. Agora temos medicamentos comprovados para retardar a progressão, reduzir a perda de proteína na urina e proteger o coração."

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