SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O segundo dia da etapa discursiva da Fuvest 2026 levou referências da cultura pop, da música e do cotidiano para as provas. Os candidatos tiveram de analisar a trajetória do Homem-Aranha ao lançar sua teia para salvar uma pessoa, responder a uma questão sobre a doença de Parkinson revelada pelo ex-líder do Black Sabbath e calcular a força envolvida no salto de uma pipoca no momento em que estoura.

Confira a partir das 19h a correção e os comentários da prova ao vivo Nesta segunda (15), os vestibulandos responderam a 12 questões discursivas das disciplinas específicas de cada carreira. Cursos da área de exatas enfrentaram provas de matemática, física e química. Nas biológicas, caíram química e biologia. Nas humanas, história e geografia.

A taxa de abstenção no segundo dia foi de 6,86%. Considerando os dois dias da segunda fase, a média ficou em 6,40%, abaixo dos 6,67% registrados na edição passada.

Na questão inspirada no Homem-Aranha, a Fuvest descreveu o herói partindo do sétimo andar de um prédio, a 21 metros de altura, e se lançando com velocidade inicial nula, preso a uma teia, para resgatar uma pessoa a 1 metro do chão. O movimento foi tratado como pendular e envolveu conceitos de conservação de energia e colisão perfeitamente inelástica, já que os dois passam a se mover juntos após o resgate. Os candidatos precisaram calcular a velocidade do herói no ponto mais baixo da trajetória, a redução da velocidade após a colisão e a altura máxima atingida pelo conjunto.

Outra questão de física tratou do salto da pipoca. O enunciado foi baseado em um artigo publicado em 2024 na Revista Brasileira de Ensino de Física, que analisa o movimento vertical de pipocas após o estouro. A partir de um gráfico de posição em função do tempo, os alunos deveriam estimar o deslocamento máximo, compará-lo com um movimento sem resistência do ar e calcular a velocidade máxima de queda, considerando uma força de arrasto proporcional ao quadrado da velocidade.

A prova de biologia recorreu à música para contextualizar conteúdos do sistema nervoso. A Fuvest citou o anúncio feito em 2020 por Ozzy Osbourne de que havia sido diagnosticado com Parkinson. A partir disso, os candidatos precisaram identificar o tipo de célula responsável pela produção de dopamina, explicar a função dos neurotransmissores e reconhecer estruturas representadas em um esquema do sistema nervoso.

À Folha de S.Paulo o diretor-executivo da Fuvest, Gustavo Monaco, disse que o uso dessas referências faz parte da estratégia da banca. "Quando localizamos um ponto do programa que queremos avaliar, buscamos elementos que permitam ao estudante fazer a ligação com a vida real, com o cotidiano ou com referências da cultura, como o Homem-Aranha ou o filme 'De Volta para o Futuro'", afirma.

Em uma questão de química baseada na trilogia estrelada por Michael J. Fox, os candidatos analisaram a possibilidade de usar alumínio como combustível, a partir da reação do metal com hidróxido de sódio para a produção de hidrogênio. O exercício cobrou conceitos de oxidação, energia de combustão e tipos de ligação química no alumínio metálico e no óxido de alumínio, além de discutir a necessidade de fusão do óxido para a eletrólise.

Questões ambientais voltaram a aparecer em diferentes disciplinas. Em geografia, os candidatos analisaram mapas e dados sobre desmatamento e ocupação irregular na Amazônia Legal. Em física, a prova abordou o aproveitamento da energia solar. Já em geografia e biologia, as perguntas trataram das mudanças climáticas e de seus efeitos sobre os oceanos.

Para a coordenadora pedagógica do curso e colégio Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes, a prova manteve o nível esperado da segunda fase. "As questões foram claras e bem formuladas, mas exigiram preparo. Quem chegou até aqui e estudou conseguiu resolver", afirma.

Segundo ela, provas de geografia e de áreas da saúde cobraram compreensão de problemas ambientais atuais. Um dos exemplos foi o arquipélago de Tuvalu, no oceano Pacífico, ameaçado pela elevação do nível do mar. "O candidato precisava explicar o fenômeno, os impactos nas áreas litorâneas e possíveis ações ambientais e políticas", diz.

Também apareceram temas clássicos, como saneamento básico, abastecimento de água, esgoto, drenagem urbana e impactos ambientais em manguezais. Em geopolítica, uma questão analisou mapas com mudanças territoriais na região de Gaza e Israel, exigindo interpretação do contexto recente de guerra.

Em história, para o professor Felipe Mello, do Colégio Oficina do Estudante, a prova teve grau elevado de dificuldade, mas boa contextualização. "Mesmo com textos longos, o candidato conseguia resolver ao menos parte das questões pela interpretação dos excertos", afirma. Ele destaca ainda a diminuição de perguntas ligadas à história do Brasil.

A lista de obras literárias obrigatórias também foi explorada. Uma das questões abordou "Balada de Amor ao Vento", de Paulina Chiziane, relacionando o contexto histórico de Moçambique, a condição da mulher e estruturas de opressão social, religiosa e do trabalho.

Na avaliação de Antunes, a prova de química foi trabalhosa e contextualizada. "Foram situações do cotidiano, como o impacto do CO2 na produção de cacau e os riscos da mistura de produtos de limpeza", afirma.

Para o professor de física do Oficina do Estudante Pedro Gomes, a prova cobrou principalmente mecânica, com temas como cinemática, dinâmica, colisões e conservação de energia. Também houve questões de eletricidade, eletrostática e termodinâmica, com destaque para o ciclo do motor de Stirling

No primeiro dia da 2ª fase do vestibular, os estudantes encararam dez questões discursivas de língua portuguesa, literatura e gramática. Também foi aplicada a redação, cujo tema era "O perdão é um ato que pode ser condicionado ou limitado".

As questões abordaram assuntos ligados à crise climática, fotografia e literatura brasileira, com destaque para a obra do fotógrafo Sebastião Salgado, morto neste ano, e para os livros obrigatórios da lista do vestibular.

O segundo dia encerrou a aplicação da Fuvest 2026. Os portões foram abertos às 12h, e a prova começou às 13h.