SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O padre Júlio Lancellotti disse nesta terça-feira (16) que recebeu com "espírito de obediência e resiliência" a decisão do cardeal arcebispo Dom Odílio, da Arquidiocese de São Paulo, que o proibiu de transmitir missas e determinou a suspensão de suas atividades nas redes sociais.

Lancellotti conversou com a reportagem na paróquia de São Miguel Arcanjo, na zona leste de SP, onde atua há mais de 40 anos. "Como sou padre, preciso atender às determinações do bispo." Segundo ele, a conversa foi "muito protocolar, muito respeitosa".

A decisão de Dom Odílio foi noticiada pela coluna da jornalista Mônica Bergamo.

A entrevista precisou ser interrompida porque o telefone do padre tocou ?era talvez a centésima ligação que recebeu na manhã desta terça, em suas contas.

Do outro lado da linha estava a deputada federal Érika Hilton, que ligou para manifestar apoio a Lancellotti.

Como ela, disse o padre, outras várias personalidades telefonaram para ele ao serem informados da decisão do arcebispo. Preferiu não dar nomes.

Lancellotti não entrou no mérito da decisão da arquidiocese. Mas evitou um assunto que até então não tinha problema algum para discutir: a política.

Questionado pela Folha sobre sua avaliação para as eleições do ano que vem, foi sucinto. "É sobre isso que eu prefiro não comentar. Para não causar mais acirramento", declarou. "Isso sempre incomoda."

Ele declarou, por outro lado, que poderá sentir falta das transmissões.

"As redes digitais eram de certa forma uma prestação de contas daquilo que se estava fazendo, mostrando as atividades diárias com a população de rua. Por isso eram tantas as publicações."

Segundo ele, as celebrações religiosas que ministrava chegavam a ter 6.000 espectadores simultâneos e a atingir 15 mil visualizações até o final do dia.

Gente do mundo todo assistia. "De Portugal, dos Estados Unidos, do Japão e até da China", disse o padre, cujas missas ministradas no ambiente digital atraíam também brasileiros de outras regiões, como o Nordeste.

A decisão do arcebispo não o afasta da paróquia, mas a transferência é uma possibilidade, afirmou o padre em conversa com a reportagem.

"Os padres têm um tempo de permanência na paróquia. A idade de permanência é de 75 anos, e eu completo neste mês 77 anos. Há padres mais velhos, mas esta não é uma decisão que cabe somente a mim", disse.

Lancellotti segue celebrando missas enquanto isso ?mas somente no modelo presencial.

"Nós sabemos que a missa presencial é insubstituível. A preferência da liturgia é de que ela seja presencial."