SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério Público de São Paulo e a Polícia Civil fazem, na manhã desta sexta-feira (19), uma operação que visa desmontar um esquema que colocava caminhões roubados de volta em circulação nas vias do estado. O caso envolve suspeitas de receptação, adulteração de sinais identificadores de veículos, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica.

Segundo investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público), uma empresa com sede em Itapecerica da Serra (SP) falsificava a numeração identificadora nos chassis de reboques e semirreboques dos veículos, popularmente conhecidas como carretas.

Assim, de acordo com os promotores, carrocerias que haviam sido roubadas, furtadas ou estavam bloqueadas pela Justiça ganhavam nova numeração, como se fossem recém-fabricadas.

Policiais do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) e do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) cumprem mandados de busca e apreensão em sete endereços em Itapecerica da Serra, Cotia e na capital paulista. A Justiça também autorizou o bloqueio de R$ 5,8 milhões de empresas do grupo Rodotec, alvo da investigação, e de cinco pessoas investigadas.

A Operação Cacique do Asfalto, deflagrada nesta sexta, começou a partir de fiscalizações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) que identificaram chassis com sinais de adulteração dos números identificadores. As primeiras fiscalizações a identificar o problema são de 2019, e o caso mais recente foi registrado em julho deste ano.

Hoje, as fabricantes de carrocerias recebem os números de chassis diretamente da Secretaria Nacional de Trânsito para a produção dos veículos. Pela norma, a numeração é registrada num banco de dados do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) com todas as informações do veículo fabricado.

No entanto, segundo o Gaeco, a empresa usava a documentação para "esquentar" os reboques e semirreboques receptados. Além disso, havia também simulações de vendas a partir da emissão de notas fiscais com informações falsas.

O dono da Rodotec, Juscelino Matos de Oliveira, já foi alvo de outros inquéritos por receptação de produtos do crime e foi indiciado por associação ao tráfico de drogas no passado, segundo documento apresentado à Justiça. Ele tem ao menos uma condenação e duas denúncias por crimes tributários. O contador da empresa também já foi alvo de inquéritos por suspeita de receptação e estelionato.

A investigação teria encontrado indícios de que Juscelino usa laranjas para ocultar sua participação nas empresas do grupo. Um desses laranjas seria uma funcionária com salário de R$ 4.500 que passou a integrar o quadro societário no lugar de uma filha dele.

Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou transações bancárias atípicas da Rodotec, segundo uma representação apresentada à Justiça: pela conta da funcionária com salário de R$ 4.500, suspeita de ser laranja do dono da empresa, passaram mais de R$ 1 milhão em pouco mais de três meses.

O relatório aponta que a conta bancária da funcionária estaria sendo usada para a passagem de recursos da Rodotec devido a processos trabalhistas e de recuperação judicial. Há também registros de transações imobiliárias em nome da mesma funcionária, aponta o Gaeco. As transferências suspeitas teriam ocorrido de 2018 a 2022.

Além disso, o relatório do Coaf aponta que a conta bancária da Rodotec apresenta "liquidações de cobranças pulverizadas" e depósitos feitos em regiões fronteiriças do país, o que os promotores consideraram mais um indício de lavagem de dinheiro.