SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A circulação de um novo subclado do vírus influenza A H3N2, identificado pela letra K, levou a OMS (Organização Mundial da Saúde) a emitir um alerta internacional. Segundo especialistas e entidades de saúde, porém, não se trata de um vírus mais grave, nem de uma situação inédita, e não há motivo para pânico neste momento.

O Ministério da Saúde define a gripe como uma infecção aguda do sistema respiratório, provocada pelo vírus da influenza, com grande potencial de transmissão. Segundo a infectologista e virologista clínica Nancy Bellei, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o vírus influenza A apresenta dois subtipos principais que infectam humanos: o H1N1, conhecido desde a pandemia de 2009, e o H3N2.

Quais são os tipos de influenza?

Segundo o Ministério da Saúde, o influenza A infecta humanos e diversas espécies animais, como aves, suínos e mamíferos marinhos, sendo as aves migratórias importantes na disseminação global. Os subtipos H1N1 e H3N2 circulam sazonalmente em humanos.

O influenza B infecta exclusivamente seres humanos, não possui subtipos e circula em duas linhagens principais: Victoria e Yamagata. Segundo Bellei, a linhagem Yamagata não tem sido detectada nos sistemas de vigilância global desde a pandemia da Covid-19.

Já o influenza C infecta humanos e suínos, é pouco frequente, costuma causar infecções leves e não está associado a epidemias. Em 2011 foi identificado o influenza D, isolado em suínos e bovinos, sem evidência de infecção ou doença em humanos.

O que é o vírus H3N2?

O H3N2 é um dos subtipos do vírus influenza A e se caracteriza por sofrer mutações frequentes ao longo do tempo. Por causa dessa alta taxa de mutação, quase todos os anos é necessário atualizar a formulação da vacina para que ela continue oferecendo proteção contra as versões mais recentes do vírus.

O que são linhagens, clados e subclados?

Dentro de um mesmo subtipo do vírus influenza, como o H3N2, o vírus acumula mutações ao longo do tempo. Esses conjuntos de mutações dão origem a linhagens genéticas dentro do subtipo, identificadas por códigos como 3C.2a. Com novas mutações sucessivas dentro dessas linhagens, surgem os clados, que são ramificações mais recentes --como os clados J e K.

Em alguns casos, esses clados continuam evoluindo e dão origem a subclados, formados por vírus geneticamente ainda mais próximos entre si.

O que é o subclado K?

O chamado subclado K é, na prática, um subclado mais recente do vírus influenza A H3N2, derivado de um clado anterior conhecido como J2. Ou seja, trata-se de uma evolução dentro da mesma ramificação genética do vírus, e não de um subtipo novo ou de uma variante completamente diferente.

A vacina contra gripe usada em 2024, tanto no hemisfério sul quanto no hemisfério norte, foi formulada com base em vírus do clado J.

É possível diferenciar os tipos apenas pelos sintomas?

Segundo Nancy Bellei, não há como saber se uma pessoa está infectada pelo H1N1, pelo H3N2 ou por um subclado mais recente, como o K, apenas com base nos sintomas. A identificação só é possível por meio de testes laboratoriais.

Por que o alerta chamou atenção?

A OMS, por meio da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), emitiu um alerta para informar os países sobre o aumento da circulação do vírus influenza A (H3N2) subclado K em diferentes regiões do mundo, com crescimento rápido na Europa e em países da Ásia.

A entidade recomenda reforçar a vigilância, a vacinação, especialmente entre idosos e pessoas com fatores de risco, e a preparação dos serviços de saúde. Até o momento, não houve aumento da gravidade dos casos, embora temporadas dominadas pelo H3N2 costumem ter maior impacto entre pessoas da terceira idade.

O subclado K também vem sendo detectado nos Estados Unidos e no Canadá, enquanto não há registro de circulação sustentada na América do Sul.

Segundo a Opas, o cenário pode antecipar a temporada de gripe no hemisfério sul e no Brasil em 2026, cujo pico costuma ocorrer entre junho e agosto.

Há casos no Brasil?

No Brasil, até agora, não há epidemia em curso relacionada ao subclado K. O Ministério da Saúde confirmou na quinta-feira (18) quatro casos no Brasil, sendo um caso no Pará, associado a uma viagem internacional, e três em Mato Grosso do Sul, que estão em investigação para confirmar a origem.

O subclado K é mais grave?

"Não é porque o vírus é do subclado K que ele é mais grave. Os sintomas são os mesmos da gripe comum", diz a infectologista Nancy Bellei, que também é membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Quais são os sintomas?

Os sintomas incluem febre de início súbito, dor de garganta, tosse, dores musculares, dor de cabeça e cansaço, iguais aos de outros tipos de gripe.

Segundo Sumire Sakabe, infectologista do Hospital Nove de Julho, a gravidade tende a ser maior em crianças pequenas, idosos e pessoas com comorbidades, como doenças cardíacas, pulmonares e diabetes. Nesses casos, a infecção pode levar a complicações como pneumonia bacteriana secundária, internações e, em casos mais graves, óbito.

"A influenza pode evoluir com gravidade e óbito, particularmente nas pessoas mais susceptíveis. Por este motivo, é importante manter a vacina em dia, evitar contato com pessoas doentes, usar máscara quando sintomas respiratórios, manter higiene das mãos e cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar", diz.

Existe tratamento?

A infectologista destaca que o cenário atual exige atenção, mas não pânico. "O Brasil não está vivendo uma epidemia desse subclado. Além disso, existe tratamento com medicamento antiviral eficaz contra a influenza, disponível no SUS para grupos de risco e também nas farmácias", afirma.

O tratamento é mais efetivo quando iniciado nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas.

Como se prevenir?

Como medidas de prevenção, Bellei reforça lições aprendidas durante a pandemia da Covid-19. Pessoas com sintomas respiratórios devem usar máscara para evitar transmitir o vírus. Grupos de risco que apresentem febre súbita e sintomas gripais devem procurar atendimento médico rapidamente para diagnóstico e tratamento.

A vacina protege contra a gripe K?

Os dados disponíveis no momento sugerem que a imunização continua a proteger contra doença grave, especialmente entre pessoas mais vulneráveis, segundo o infectologista Sumire Sakabe.

O Ministério da Saúde diz que a vacina contra a influenza ofertada pelo SUS protege contra formas graves da doença causadas pelo vírus Influenza A (H3N2), incluindo o subclado K.

"Apesar das mutações genéticas desse subclado, a composição da vacina segue eficaz na redução de casos graves, hospitalizações e óbitos."

Na quinta-feira (18), o Ministério da Saúde anunciou a intensificação da vigilância de casos no país, com identificação e diagnóstico precoces, investigação e notificação imediata de eventos respiratórios incomuns, além do fortalecimento das medidas de prevenção.