RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Depois de quase uma década com classificação entre ruim e péssima, a praia do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, apresentou uma leve melhora na qualidade da água no balanço anual de balneabilidade feito pela Folha.
Veja a qualidade das praias do litoral do Brasil Neste ano, os três pontos monitorados no bairro passaram a ser classificados como regulares -um avanço tímido para uma das praias mais famosas do país, mas que ainda inspira cautela.
Dados do Inea (Instituto Estadual do Ambiente) mostram que, de novembro de 2024 a outubro deste ano, o trecho em frente à rua Rita Ludolf teve 10,9% das amostras consideradas impróprias para banho. Na altura da rua Bartolomeu Mitre, o índice chegou a 16,4%. Já o ponto da avenida Afrânio de Melo Franco registrou 21,9% de resultados negativos, o mais próximo do limite que separa a classificação regular da ruim.
Na prática, os números ajudam a explicar uma cena comum numa tarde de calor intenso de dezembro: praia lotada, famílias no mar e turistas entrando na água sem saber exatamente qual é a condição do banho.
"Eu jamais imaginaria que o Leblon tivesse esse histórico. A praia é famosa no mundo inteiro, é bonita, cheia de gente. Para quem vem de fora, parece tudo perfeito", disse o argentino Juan Martínez, 41, que visitava o Rio com a família, e disse ter se surpreendido ao saber da avaliação da água. "A gente entra no mar sem imaginar que exista esse tipo de problema", contou.
Entre os cariocas, a melhora recente até anima, mas não elimina a desconfiança. A publicitária Renata Moreira, 34, mora no bairro e frequenta a praia com frequência, mas diz que evita o banho em determinadas situações. "Saber que melhorou dá um certo alívio, mas não entro tranquila."
Para o professor do Instituto de Biologia da UFRJ Rodolfo Paranhos, a cautela faz sentido. Segundo ele, a melhora registrada em 2025 não representa uma mudança estrutural. "Quando a gente analisa os dados do Inea ao longo dos anos, o Leblon oscila. Em alguns períodos melhora, em outros, piora. Não há uma tendência clara de recuperação", afirmou.
O cenário foi mais crítico de 2019 a 2022, período em que a praia recebeu classificação péssima de forma consecutiva, o que significa que permaneceu imprópria para banho em mais da metade das medições realizadas no ano. O trecho da altura da rua Afrânio de Melo Franco aparece de forma recorrente entre os piores da cidade.
"É uma situação instável. Com os dados que a gente tem hoje, eu não diria que o Leblon está recuperado", disse Paranhos.
A vulnerabilidade, ele explica, está ligada à presença de canais que despejam água contaminada no mar e ao impacto das chuvas. "Depois de chuva forte, não é recomendável ir à praia. A água da chuva lava toda a bacia de drenagem e acaba misturando esgoto com a água que chega ao mar. Isso acontece no Rio e em praticamente todas as cidades do mundo", afirma Paranhos.
O Inea reconhece que o trecho da rua Afrânio de Melo Franco é o mais prejudicado por estar próximo à foz do canal do Jardim de Alah, responsável pela troca de água entre o mar e a lagoa Rodrigo de Freitas.
Em nota, a Secretaria estadual de Ambiente e Sustentabilidade disse que a melhora da praia do Leblon está associada à otimização de estruturas e dispositivos na área de captação dos canais, com tratamento e posterior lançamento pelo emissário submarino de Ipanema. Segundo a pasta, essas ações foram, em sua maioria, implementadas após a concessão do saneamento básico, com investimentos das novas concessionárias.
No panorama do estado, o levantamento mostra que, em 2025, 69 praias melhoraram sua classificação em relação ao ano anterior, enquanto 47 pioraram. Ao todo, 66 praias foram consideradas próprias para banho, e 200 apareceram como impróprias em algum momento do ano.
A classificação anual considera medições semanais realizadas ao longo de um ano inteiro, seguindo normas federais e critérios da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Conforme esse método, uma praia é considerada ruim quando fica imprópria entre 25% e 50% do tempo na avaliação anual. A classificação péssima é aplicada quando o índice de medições desfavoráveis supera 50%. Nos dois extremos estão as praias boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias na maioria delas.