SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O programa de videomonitoramento da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o Smart Sampa, completou um ano de funcionamento neste mês com a maior parte dos gastos com câmeras e demais equipamentos direcionados à subprefeitura Sé, na região central da cidade.

No orçamento do programa, a Sé, que engloba oito distritos (Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Sé e Santa Cecília) recebe R$ 1,1 milhão dos cerca de R$ 7,7 milhões distribuídos mensalmente às subprefeituras para o funcionamento e manutenção do sistema de câmeras. O custeio total do programa é de R$ 10,8 milhões mensais, aproximadamente.

Em nota, a gestão Nunes afirmou que a definição dos locais contemplados por câmeras do programa "segue critérios técnicos estabelecidos em edital e considera índices de criminalidade, fluxo de pessoas e veículos, presença de equipamentos públicos municipais e características urbanas de cada região". Na Sé, de acordo com a gestão, além dos equipamentos, há gastos com a sala de situação que funciona na região central.

Segundo contrato com a empresa Smart City, o valor mensal das salas de situação do programa espalhadas pela cidade varia de R$ 10,2 mil a R$ 10,7 mil para cada. No orçamento, há também R$ 140,3 mil mensais reservados para a sala de monitoramento e R$ 59,3 mil para manter o centro administrativo, os dois instalados na Sé.

Subtraídos os custos adicionais com a estrutura, a região central ainda concentra o maior montante com equipamentos, de R$ 890 mil por mês.

Além do maior orçamento, a região também concentra o maior número de câmeras instaladas pela gestão municipal. São 2.200 unidades, segundo dados oficiais, 11,2% do total de equipamentos disponíveis em toda cidade. Por questões de segurança, a prefeitura não divulga a localização exata das câmeras, apenas os dados por subprefeitura.

Apesar de concentrar a maior fatia de investimentos, a região teve alta de furtos nos primeiros nove meses deste ano em comparação com o mesmo período no ano anterior. Foram 26,6 mil ocorrências registradas nas seis delegacias que atendem a maior parte da região central, 9,6% a mais do que em 2024.

As áreas da cidade divididas por subprefeituras não são necessariamente as mesmas atendidas pelos distritos policiais por não seguirem a mesma divisão territorial. Por isso, o indicador criminal na região é um retrato aproximado da falta de segurança da parte mais vigiada da cidade.

Investimentos em sistema de segurança por videomonitoramento também não se reverteram em queda dos furtos em Itaquera, na zona leste, segunda colocada no ranking de orçamento por subprefeituras do Smart Sampa.

Com cerca de R$ 500 mil por mês para operação das câmeras, o distrito policial da região registrou tendência de alta nos furtos entre janeiro e setembro deste ano em comparação com os mesmos meses em 2024.

Na situação oposta, áreas com recorde de roubos, como Capão Redondo e Campo Limpo, na zona sul, líderes de número de ocorrências neste ano, concentraram menos investimentos em câmeras.

A subprefeitura que abriga as duas localidades ocupa o sexto lugar na distribuição dos recursos do Smart Sampa com as câmeras, R$ 373,5 mil, um terço do destinado à subprefeitura Sé.

Campo Limpo recebe mais recursos para as câmeras de segurança do que Pinheiros, bairro nobre da capital que também sofre com a alta da violência. Com o oitavo orçamento do programa Smart Sampa entre as subprefeituras, o bairro na zona oeste recebe, em média, R$ 360,1 mil, acima de Vila Mariana e Lapa.

Para Pablo Nunes, coordenador do projeto O Panóptico, do CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), o modelo de distribuição de gastos do orçamento adotado pela gestão Nunes com o Smart Sampa segue mais uma orientação econômica e social do que atrelada ao comportamento criminal, baseada nos indicadores de violência.

"O Smart Sampa tem funcionado não necessariamente para reduzir indicadores de criminalidade, ou mesmo para aumentar a produtividade policial", diz. "Há falta de conexão entre o início do programa com uma redução significativa nos indicadores de criminalidade."

O coordenador explica que isso é reflexo de prioridade do uso das câmeras do Smart Sampa para cumprir mandados de prisão e encontrar foragidos da Justiça e, não necessariamente, para identificar flagrantes.

A instalação de câmeras de reconhecimento facial na região central foi uma das estratégias da prefeitura em parceria com o governo estadual para inibir a aglomeração de usuários de crack, conhecida como cracolândia.

Contratado em agosto de 2023, o programa tem sido a principal bandeira ligada à segurança urbana da gestão Nunes, que anuncia com frequência a quantidade de procurados identificados e presos pelas câmeras de reconhecimento facial.

O sistema com 40 mil câmeras em funcionamento auxiliou na prisão de 2.278 foragidos, 3.445 criminosos em flagrante e na localização de 119 pessoas desaparecidas, segundo a administração.

O prefeito tem priorizado a segurança urbana neste segundo mandato como uma aposta de plataforma política caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se torne candidato à Presidência e Nunes dispute o Palácio dos Bandeirantes.

A gestão pretende aumentar em 432% os gastos com monitoramento digital, segundo orçamento previsto para 2026 que ainda será votado pela Câmara de Vereadores.

Dos atuais R$ 45,2 milhões, a verba destinada para manutenção e operação das redes de monitoramento deve saltar para R$ 240,6 milhões.