SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Salinas da Margarida é uma cidade de 15 mil habitantes que fica nas margens da baía de Todos-os-Santos e na barra do rio Paraguaçu, um dos mais importantes da Bahia. Era morada de indígenas tupinambás, que no século 16 foram expulsos pelos colonizadores que ali ergueram uma vila.

- Veja a qualidade das praias do litoral do Brasil

O clima pacato de cidade do interior é interrompido na alta estação, quando levas de visitantes seguem para as praias de Salinas, Conceição de Salinas e Encarnação em busca das águas calmas ?e agora limpas? de seu litoral.

Pela primeira vez em uma década, as três praias com monitoramento de balneabilidade em Salinas da Margarida foram classificadas como boas, ou seja, próprias para banho durante todas as medições.

O movimento de melhora da qualidade das águas foi registrado em outros pontos do litoral nordestino. Entre novembro de 2024 e outubro de 2025, o Nordeste ampliou o número praias classificadas como boas. Ao todo foram 157 praias boas contra 120 no mesmo período do ano anterior.

A Bahia viu o número de praias boas saltar de 13 para 24 dentre as 88 que tiveram monitoramento ao longo do último ano.

Além das três praias de Salinas da Margarida, entraram no rol das próprias em todas as medições praias como Ipitanga, Guarajuba e Subaúma, no Litoral Norte, Mutá, em Jaguaripe, além de praias como Coroa e Barra de Tairu, em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica.

Salvador, contudo, segue concentrando a maior proporção de praias impróprias do estado, a despeito de ter uma cobertura que chega a 88,5% dos imóveis. Apenas três praias foram consideradas boas no período: Ponta de Nossa Senhora, na Ilha dos Frades, e os dois pontos de monitoramento da Praia do Flamengo, na saída da cidade ao norte.

Outras 9 foram consideradas regulares, 11 ruins e 14 péssimas na capital baiana. Dentre as péssimas ?consideradas impróprias em mais da metade das medições? está o trecho da praia do Rio Vermelho em frente ao Largo Santana, onde acontecem as celebrações da Festa de Iemanjá em fevereiro.

Entre as praias com classificação péssima em todos os anos desde 2016 estão Armação, Boca do Rio, Patamares, Pedra Furada, Penha e Periperi.

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A Embasa, empresa estadual de água e saneamento, afirma que a balneabilidade das praias também tem relação com a água suja e o lixo que chegam pela rede de drenagem pluvial, de responsabilidade das prefeituras. "Quando há poluição em canais e bacias de drenagem, a origem está associada a lançamentos clandestinos realizados por imóveis", informou

A estatal destacou que tem 12 obras de esgotamento sanitário em andamento com investimentos de R$ 718 milhões. Também pontuou que efluente tratado é lançado de forma segura ao ambiente, seguindo os parâmetros estabelecidos pela legislação ambiental.

Os indicadores de balneabilidade são coletados pela Folha junto aos governos estaduais há dez anos. A reportagem seguiu normas federais no levantamento. Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de mil coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que classifica as praias a partir dos testes semanais. Nos dois extremos estão as boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias em mais da metade das medições.

Em 2025, a Bahia não realizou monitoramento de balneabilidade nas praias do sul e extremo-sul, incluindo as costas do Dendê, do Cacau, do Descobrimento e das Baleias. Desta forma, ficaram de fora do monitoramento destinos turísticos badalados como Porto Seguro, Morro de São Paulo, Ilhéus e Itacaré.

Dentre as demais praias, não houve medição entre os meses de junho e outubro. O Inema, órgão ambiental do estado, informou que o serviço de monitoramento foi interrompido por questões contratuais, sendo retomado em dezembro.

Além da Bahia, os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe também tiveram evolução no número de praias classificadas como boas. Pernambuco oscilou positivamente, saindo de zero para uma praia boa. Alagoas se manteve estável, enquanto Maranhão e Ceará tiveram menos praias boas. O Piauí não faz o monitoramento de suas praias.

A Paraíba saiu de 18 para 35 praias boas, apresentando evolução inclusive entre praias urbanas, como as de João Pessoa. Em 2024, a capital paraibana havia registrado apenas uma praia própria em todas as medições ?o trecho da praia do Bessa no final da avenida Governador Flávio Ribeiro Coutinho.

Neste ano, por sua vez, foram sete praias consideradas boas, incluindo os demais trechos da praia do Bessa, além das praias de Manaíra, Tambaú, Cabo Branco e Barra do Gramame. As demais praias foram classificadas como regulares, com exceção de Arraial e Jacarapé.

Em Pernambuco, foram monitoradas 26 praias e apenas Boa Viagem, no Recife, esteve própria em todas as medições. Ao todo, o estado teve dez praias avaliadas como regulares, sete com ruins e oito como péssimas.

Outros 26 trechos de praias deixaram de ter aferição da balneabilidade desde a pandemia da Covid-19. A CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco) havia prometido expandir a rede de coleta para 50 pontos de monitoramento até julho de 2025, mas não cumpriu.

Em nota, o órgão ambiental informou que vem trabalhando para melhorar e expandir o monitoramento da balneabilidade do litoral pernambucano. O cronograma de revisão prevê a retomada dos novos pontos de coleta, e atendimento integral da rede, a partir do final de fevereiro de 2026.

O Maranhão foi o estado com maior proporção de praias ruins ou péssimas dentre os estados nordestinos. Das 22 praias monitoradas ao longo de 2025, doze foram consideradas péssimas, nove ruins e uma regular. Nenhuma das praias avaliadas esteve própria em todas as medições.

A Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão destacou que balneabilidade das praias é afetada por fatores como o período chuvoso e o fato do litoral da ilha de São Luís estar em áreas de baía e estuários, com menor circulação e renovação das águas.

A Caema (Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão) disse ter um trabalho sistemático de interceptação e limpeza para evitar o despejo irregular de esgoto nas áreas de praia. Também destaca investimentos em quatro novas estações elevatórias de esgotos na ilha de São Luís.