SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa da Universidade de Tóquio descobriu que uma planta típica do Japão imita o odor de formigas feridas ou mortas por aranhas para atrair uma espécie de mosca que serve como polinizadora.
O estudo conduzido pelo professor Ko Mochizuki saiu em outubro deste ano na revista Current Biology.
É a primeira vez que são encontradas evidências de formigas como modelo de mimetização, e o achado pode contribuir para o entendimento da adaptação sensorial com fins reprodutivos.
A mosca atraída é cleptoparasita -rouba restos de alimentos capturados por outro predador. Quando a Vincetoxicum nakaianum, um tipo de erva japonesa, libera o cheiro da caça, as moscas pousam nas folhas pensando encontrar a presa abatida. Depois, vão embora levando, para além da frustração, o pólen do vegetal.
Mochizuki conta que é difícil identificar esse mecanismo por causa da diversidade ecológica. Existem espécies que simulam frutas, por exemplo. Agora, imitar formigas machucadas por aranhas é muito específico.
"O primeiro obstáculo é que analisar os aromas florais é complicado", conta o docente. "É preciso usar cromatografia gasosa-espectrometria de massas (GC-MS), que não foi amplamente introduzida no campo da ecologia. Há também o obstáculo de adquirir um equipamento tão caro. Tive a sorte de superar isso porque uma doação generosa me permitiu adquirir um GC-MS para o meu laboratório."
Outra questão é que, como explica o botânico, nem sequer era conhecido que moscas cleptoparasitas consumiam formigas. "Quando vi moscas cloropídeas reunindo-se nos espécimes de Vincetoxicum nakaianum, comecei a suspeitar que as flores pudessem estar imitando algum tipo de inseto ferido."
Tanto é que a descoberta é fruto do acaso. O estudioso pesquisava outra coisa quando reparou a frequência constante de mosquinhas. "Porém, não importa o quanto eu observava, não conseguia identificar os polinizadores, o que me deixou perdido."
Foi aí que decidiu testar o experimento. "No ano seguinte, observei muitas moscas cloropídeas visitando as flores da V. nakaianum que floresciam no jardim botânico. Essa observação fortuita marcou o começo da minha pesquisa."
Para isso, foram feitas análises químicas dos aromas florais. Mas foi impossível, em um primeiro momento, provar que as próprias formigas servem como potenciais recursos alimentares para essas moscas. Além disso, na revisão por pares foi apontado que não havia sido demonstrado se os cloropídeos polinizadores eram realmente cleptoparasitas.
Acontece que inexistia bibliografia sobre a relação notada. Mochizuki precisou recorrer a vídeos de amadores nas redes sociais. Ele combinava palavras-chave como "aranha", "formiga" e "moscas" para encontrar registros fotográficos. "A experiência me mostrou que para compreender complexas relações ecológicas é essencial consultar pesquisas sistemáticas de cientistas profissionais, mas também as observações de amadores. Ambos jogam um importante papel revelando a vida escondida das flores", afirmou ele.
"Para preencher essas lacunas, recorri a recursos online, como blogs e redes sociais. No Japão, há uma forte comunidade de entusiastas de insetos, e muitos amadores publicam observações detalhadas. Graças a esse contexto cultural, consegui acessar informações cruciais que formaram uma parte importante da lógica do meu artigo."