SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aos 18 anos e direto do ensino médio, Lucas Vêncio conquistou o primeiro lugar no vestibular 2026 do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), um dos processos seletivos mais disputados do país. A confirmação veio por telefone no dia 12 de dezembro, por volta das 7h30, em casa, em uma ligação do reitor da instituição. Ele acordou a mãe para ouvir a notícia.
Morador de Goiânia, o estudante precisou de apenas duas tentativas ?a primeira ainda como treineiro? para liderar a lista de aprovados com a nota 8,66. O vestibular do ITA costuma exigir três ou quatro anos de preparação em alto nível. Para Lucas, que nunca cogitou medicina por "não ser sua praia", o resultado é fruto de esforço.
Antes de decidir que tentaria o instituto militar, ele já acumulava anos de estudo voltado às exatas. Incentivado pela família, sobretudo pela mãe, engenheira, participou desde cedo de olimpíadas científicas. "Me preparar para as competições não era estudar só para passar, mas para entender o conteúdo", afirma. O contato precoce com problemas mais abstratos moldou seu jeito de aprender e o diferenciou da maioria dos colegas.
A ideia de cursar engenharia ganhou forma no início do ensino médio, quando passou a pesquisar vestibulares. Entre as opções, o ITA se impôs pelo nível de exigência. No segundo ano, começou a estudar de forma autônoma, conciliando o currículo escolar com materiais encontrados na internet e livros clássicos usados por candidatos à instituição.
Criado em 1950, o ITA é uma das instituições militares de ensino superior mais seletivas do país. Localizado em São José dos Campos (SP), o instituto tem um vestibular de alto grau de dificuldade, voltado a candidatos com domínio avançado de matemática, física e química. O desafio atrai milhares de estudantes todos os anos.
No fim do ano passado, Lucas migrou para a turma preparatória do Colégio Arena, em Goiânia, uma das poucas com foco no ITA na cidade. A rotina passou a ser integralmente voltada ao vestibular. O maior salto entre a primeira e a segunda tentativa veio do aprofundamento dos conteúdos, sobretudo em química ?disciplina que havia provocado seu corte no ano anterior.
"Eu ainda estava com cabeça de ensino médio. Não tinha noção do quanto a prova exigia", afirma. O estudante diz que entrou diretamente em turmas voltadas à segunda fase e, no início, se sentiu perdido durante as aulas.
Antes de focar integralmente no instituto militar, Lucas dividia o tempo entre videogames, leitura de ficção e a convivência com a família. Desde criança, também se interessava por biografias de cientistas, como Einstein e Newton, em versões infantis. A preparação exigiu renúncias. Ele reduziu drasticamente a vida social, apesar do apoio constante dos pais.
No meio do ano, chegou a questionar se deveria continuar tentando o ITA. Pesaram dúvidas familiares e financeiras, além do receio de passar muitos anos em cursinho. Como plano B, prestou vestibular para o curso de inteligência artificial da UFG (Universidade Federal de Goiás), para garantir vaga caso não fosse aprovado no instituto militar.
Mais do que obsessão, ele aponta a curiosidade como motor da preparação. Costumava estudar até tópicos que não caem mais na prova. "Eu gostava de ver algumas coisas além do que é cobrado só para entender o assunto", diz.
O método de estudo priorizava a recuperação ativa da memória. Lucas estudava sem anotações e tentava reconstruir o conteúdo apenas com o que lembrava. Também explicava a matéria para si mesmo, como se estivesse ensinando outra pessoa, para identificar lacunas de compreensão.
Ao longo de 2025 os resultados confirmaram o desempenho. Ficou em primeiro lugar na AFA (Academia da Força Aérea), foi aprovado em primeiro no vestibular da UFG e terminou em terceiro no IME (Instituto Militar de Engenharia). Ainda assim, diz que não esperava liderar o ranking do ITA.
Além do domínio do conteúdo, o controle emocional pesou. Lucas treinou a gestão da ansiedade em simulados, com pausas, exercícios de respiração e pequenas saídas da sala para aliviar a tensão. A estratégia ajudou em uma edição que ele considerou especialmente densa em matemática.
A partir do terceiro ano no ITA, o estudante pretende optar por engenharia de computação. A decisão entre seguir carreira militar ou civil segue em aberto. Em janeiro, ele se muda para São José dos Campos, onde passará pelo período inicial de adaptação e inspeção de saúde.
Para quem pretende tentar o vestibular, o conselho é direto: construir uma base sólida e não pular etapas. "Os conteúdos iniciais parecem simples, mas sustentam todo o resto. Não deixe lacunas nem pule assuntos só porque parecem mais chatos."