SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após reclamações de moradores e autuações ambientais, a fabricante de lã de vidro Isover, do grupo Saint-Gobain, firmou um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o Ministério Público de São Paulo e a Cetesb que prevê o encerramento gradual das atividades industriais de sua unidade em Santo Amaro, na zona sul da capital.

O acordo foi assinado em 22 de dezembro e estabelece que a produção será encerrada até julho de 2026, com desmobilização completa da planta até 2028. Neste período, deve funcionar apenas como centro de distribuição.

Instalada no bairro desde 1951, a fábrica permaneceu em funcionamento mesmo após a região passar por intenso adensamento urbano, com a construção de condomínios residenciais e casas no entorno. Em nota, a empresa Isover, que faz parte do grupo Saint-Gobain, confirma o encerramento da produção de lã de vidro na unidade.

Moradores relataram incômodos causados por odores, ruídos e emissão de poluentes, o que resultou na abertura de um inquérito civil pelo Ministério Público e em fiscalizações da Cetesb.

Entre 2023 e 2025, a companhia acumulou autos de infração, principalmente por emissão de odores perceptíveis fora dos limites da propriedade e por descumprimento de penalidades anteriores.

A empresa afirma que "a decisão foi tomada após um longo processo de diálogo com a vizinhança e órgãos competentes e fiscalizadores e da assinatura de um TAC firmado junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo". Também destaca que opera há mais de 70 anos no local, "em conformidade legal, atendimento aos critérios de sustentabilidade e segurança da saúde humana estabelecidos por entidades nacionais e internacionais".

Pelo TAC, a Saint-Gobain se compromete a encerrar a produção de lã de vidro, que envolve as etapas de fibragem, cura em estufa e operação do forno de fusão, até 4 de julho de 2026, com desligamento definitivo do forno até 31 de julho do mesmo ano.

A Isover afirma ainda que o encerramento da produção será realizado aos poucos afim de minimizar os impactos para as mais de cem famílias de colaboradores diretos -a empresa calcula que possui cem empregados diretos e outros 50 indiretos.

Também cita que realizou esforços para manter uma boa convivência com a comunidade de seu entorno, como melhorias no isolamento acústico da fábrica; investimento em tecnologia para minimizar a emissão de vapor de água; paralisação das atividades da fábrica aos finais de semana; descontinuidade de descarregamentos noturnos e programa de comunicação com a comunidade de Santo Amaro.

Até lá, a empresa deverá manter os sistemas de controle ambiental em plena operação, cumprir limites de emissão de poluentes e apresentar relatórios periódicos à Cetesb e ao Ministério Público.

O acordo também prevê um plano de gerenciamento de áreas contaminadas, com etapas de investigação, diagnóstico e remediação do solo, além da desmontagem dos equipamentos e destinação adequada dos resíduos industriais. Em caso de descumprimento das obrigações, a empresa estará sujeita a multa diária de R$ 10 mil, corrigida monetariamente.

No documento, a empresa sustenta que a operação sempre foi segura e afirma não ter comprovação de danos à saúde de seus trabalhadores, com base em laudos médicos e atestados ocupacionais apresentados no inquérito.

A pressão por uma solução envolveu diferentes instâncias do poder público. Denúncias encaminhadas por moradores motivaram reuniões com a subprefeitura de Santo Amaro, a Cetesb e o Ministério Público, além de uma audiência pública realizada ao longo de 2025.

A vereadora Renata Falzoni (PSB) acompanhou as discussões e afirmou que o acordo atende a uma demanda antiga da população do entorno por redução dos impactos ambientais da fábrica.

"A desativação da fábrica beneficia diretamente a vida e a saúde da população do entorno, além de representar uma grande vitória no combate às mudanças climáticas e pela qualidade do ar na capital paulista", diz ela.

A vereadora destaca que o bairro conviveu com "uma fumaça tóxica, que ocasiona diversos transtornos e problemas respiratórios. Essa decisão é um alívio para os cerca de 50 mil cidadãos afetados, especialmente crianças e idosos".

Com a assinatura do TAC, o Ministério Público deverá promover o arquivamento do inquérito civil, mantendo apenas o acompanhamento do cumprimento das obrigações assumidas pela empresa. O destino da área ocupada pela fábrica após o encerramento das atividades ainda não foi definido e deverá ser discutido em etapas posteriores do processo de descomissionamento.