SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O som da sirene alerta para o movimento da gigantesca máquina instalada a quase 25 metros de profundidade na zona leste de São Paulo. Começaram nesta segunda-feira (29) as escavações da segunda etapa da primeira fase da expansão da linha 2-verde do metrô de São Paulo.
A máquina, de 2.700 toneladas e cerca de 100 metros de comprimento, começou a perfurar a partir da futura estação Penha, com destino à Vila Formosa, também na zona leste paulistana.
Nesta etapa das escavações, durante aproximadamente um ano, o tatuzão, como é chamada a tuneladora, irá percorrer o caminho de três estações em construção: Aricanduva, Guilherme Giorgi e Santa Isabel.
Os trabalhos terminam no Complexo Rapadura, futura estrutura de manutenção, entre outras funções, após a estação Santa Isabel.
Nesta primeira etapa, a expansão vai ligar a Vila Prudente à Penha, com cerca de 8 quilômetros de extensão e oito estações. A expectativa é beneficiar mais de 300 mil passageiros por dia. A obra está prevista para terminar em 2028.
Também está em construção uma nova estação da linha 11-coral na Penha ao lado.
Devido à passagem da tuneladora sob os trilhos, esse trecho da linha 11 foi interditado nesta segunda-feira até 7 de janeiro, quando o tatuzão já deverá ter passado pelos 18 metros críticos por causa da malha ferroviária.
Neste início, a máquina escavou apenas 1,5 metro. Parece pouco, mas foi o suficiente para romper a parede de concreto no fim da estação ?nesta terça (30) a ferramenta da roda de corte será trocada para a operação em terreno argiloso.
A reportagem acompanhou com exclusividade, do interior da tuneladora, parte do primeiro dia de escavações, considerado mais cauteloso devido à retomada do uso do tatuzão, que foi desmontado em maio, remontado e voltou a ser operado nesta segunda-feira.
Também em virtude da série de ajustes que precisam ser feitos, explica Aldo José Frati, gerente de empreendimento de metrô, da empresa estatal.
Foram instalados ainda os primeiros metros de aduelas, os anéis de concreto que revestem os túneis por onde passarão os trens.
Fabricados em Itaquera, na zona leste e transportados até o canteiro de obras na Penha em caminhões, os anéis têm 21 posições e são instalados em poucos minutos pela própria tuneladora.
Uma espécie de robô hidráulico giratório leva as peças de concreto até o local exato na parte escavada. Funcionários da obra ajudam no ajuste e na fixação.
Após a passagem sob os trilhos da CPTM e quando entrar em operação plena, a máquina deverá escavar cerca de 15 metros por dia, explica Frati. A próxima parada está programada para meados de fevereiro próximo.
Ao todo, 50 pessoas trabalham por turno nas escavações, que ocorrem 24 horas por dia ?haverá interrupção durante a virada do ano.
O material retirado é levado por meio de esteiras até uma área externa do canteiro de obras, onde líquido e sólido são separados para descarte.
Sensores medem a densidade do que está sendo tirado da frente. "Isso permite que vejamos se estão corretos os parâmetros estabelecidos durante o projeto", afirma o gerente. "Se ele [material encontrado] é mais ou menos denso do que o previsto."
A tuneladora conta com uma câmara hiperbárica para pressurizar o interior quando a operação estiver em ambiente fechado, o que ainda não ocorre. O equipamento é usado para controlar a pressão, por exemplo, se houver necessidade de manutenção durante a escavação.
"Tem um controle da pressão para trabalhadores não sofrerem os efeitos dela", diz Frati.
A cabine de controle tem monitores que mostram, inclusive, o posicionamento da roda de corte. A engenheira Sherry Romanholi, primeira mulher da América Latina a pilotar um tatuzão, é um das responsáveis pelo controle da máquina.
Fabricada na China e batizada como Cora Coralina, em homenagem à poeta goiana ?é tradição colocar nomes de mulheres históricas em tuneladoras?, a máquina custou 40 milhões de euros (cerca de R$ 262,4 milhões, no câmbio atual) ao consórcio responsável pela obra, segundo o Metrô.
A roda de corte, de 11,66 metros de diâmetro, é considerada a maior do tipo em operação na América Latina.
Ela começou a escavar no segundo semestre de 2023, a profundidades entre 30 metros e 50 metros.
Em maio passado, quando chegou ao Complexo Rapadura, foi desmontada e transportada por caminhões até a Penha, onde começou a fazer o caminho de volta nesta segunda-feira.
Segundo o Metrô, ele não seguiu direto para que se consiga fazer outras instalações nos trechos já escavados, como montagem de trilhos e sistemas, o que não seria possível com o tatuzão em ação.
As obras fazem parte do projeto de expansão da linha 2-verde, que ligará a estação Vila Prudente à Penha, na linha 3-vermelha. Segundo o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), o custo estimado é de R$ 15 bilhões.
A expansão tornará a linha 2-verde a mais extensa do sistema metroviário de São Paulo, com 23 quilômetros.
Serão mais cinco estações: Penha, Tiquatira, Fernão Dias, Ponte Grande e Dutra, com 6 km de extensão. A entrega está prevista para 2032.