SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A temporada de verão, acompanhada das férias escolares e do recesso de fim de ano, é também época de viagens. Para mulheres que estão em fase de amamentação, isso pode impactar a rotina dos bebês, que são sensíveis às mudanças, e até a produção de leite.

O impacto de sair da rotina na amamentação é transitório e reversível, explica a ginecologista e obstetra Luiza Drummond. "A amamentação ajuda a acalmar o bebê e oferece segurança, é importante manter o que é essencial na rotina e flexibilizar o resto."

Nesse período, as mamadas podem ficar mais curtas ou até mesmo haver recusa, mas é importante ter flexibilidade e manter livre demanda sempre que possível, afirma, orientando que casos especiais podem ter orientações distintas.

Danielle Aparecida da Silva, gerente do banco de leite humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), diz que é normal estender o intervalo entre uma mamada e outra, mas que pular mamadas pode começar a afetar a oferta de nutrientes para o bebê, e diminuir também urina e fezes.

"Temos que pensar que estamos no verão, e esse leite vai matar a sede e hidratar o seu bebê. Então, no nessa época, a gente orienta as mulheres a não mudarem a frequência da amamentação."

Temos que pensar que estamos no verão, e esse leite vai matar a sede e hidratar o seu bebê. Então, nessa época, a gente orienta as mulheres a não mudarem a frequência da amamentação

gerente do banco de leite humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)

A dificuldade que o período acarreta pode fazer com que muitas mães se sintam inseguras, exaustas e com dúvidas, podendo até fazer com que queiram interromper a amamentação para as férias.

"É muito importante diferenciar o desejo real de desmame do cansaço. Se é somente o cansaço, podemos lançar mão de estratégias", diz Drummond. As especialistas dão dicas de como manter a amamentação de forma tranquila durante as viagens.

COMO AMAMENTAR TRANQUILAMENTE DURANTE VIAGENS

Quando estiver em viagens de carro, evite alimentar o bebê com pressa. "Sempre que possível, amamentar antes de iniciar o deslocamento, preferindo manter o bebê mais ereto durante e após a mamada, fazer pausas na estrada a cada duas horas e colocar a criança para arrotar com mais atenção", diz Drummond.

No avião, explica a ginecologista, a amamentação durante a decolagem e o pouso pode ser uma aliada para reduzir o desconforto da pressão dos ouvidos e acalmar o bebê.

Drummond recomenda que mães com crianças recém-nascidas, que estão no início da amamentação, devem evitar viagens longas, se possível, e manter a livre demanda, tentando evitar mamadeiras e chupetas e fórmulas.

"Para quem está mais adaptada, as férias costumam ser mais tranquilas, pois a produção já está mais estável, o bebê mama com mais eficácia e o corpo tolera melhor as variações. Desta forma, tem mais flexibilidade de horários, as viagens mais longas são possíveis", diz.

Algumas mães podem se sentir constrangidas e envergonhadas de amamentar em público, apesar de ser um direito tanto dela quanto do bebê. Nesses casos, é possível escolher locais mais tranquilos, cobrir os seios com uma manta leve e utilizar roupas que facilitem o momento.

Quando houver uma separação entre a mãe e o bebê por períodos mais longos, é possível extrair o leite ?tanto para manter a produção quanto para fazer um estoque para a manutenção da amamentação.

Drummond explica que dá para fazer a ordenha de duas formas: manualmente ou pela bomba extratora, lembrando de realizar uma higiene adequada no objeto.

O leite extraído pode ser armazenado em potes ou sacos descartáveis específicos para leite e armazenado em geladeira ou congelador. "O leite pode ficar em sacos esterilizados dentro da bolsa térmica com gelo por até 24 horas. Depois disso, é importante colocar na geladeira ou no freezer", diz Drummond, complementando que é necessário identificar o recipiente com data, horário e volume extraído.

Para saber se o leite armazenado está próprio para consumo, a ginecologista orienta observar se há grânulos persistentes, aspecto talhado (textura irregular), alteração importante da cor (amarelado escuro, esverdeado), cheiro forte ou azedo. Se tiver, este leite não está apropriado para o consumo. Se o leite ficou fora da geladeira por tempo excessivo, ou se foi reaquecido mais de uma vez, também deve ser descartado.

O consumo de bebidas alcoólicas passa pelo leite, portanto é necessário planejamento se não for possível evitar completamente a ingestão, diz a médica. "Se ingerir uma dose de bebida alcoólica, deve-se aguardar duas a três horas antes de amamentar. Quanto maior a quantidade ingerida, maior o intervalo necessário."

Quando a mulher está produzindo leite e não está amamentando, podem surgir as chamadas "pedras de leite", diz Silva. Se isso for recorrente, pode gerar um quadro infeccioso ou inflamatório, por isso a orientação é massagear e retirar o leite sempre que perceber o endurecimento.

"Quando retirar, armazene esse leite para oferecer em outro momento para o seu bebê, ou entre em contato com o banco de leite e doe esse leite para o banco de leite", recomenda. Silva diz que, para doação, em casos de locomoção para outra cidade, é possível perguntar ao banco de leite da sua cidade por referências no local de destino.

Ela também recomenda buscar os bancos de leite da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano para receber apoio relacionado à amamentação. Desde dúvidas ainda na gestação, ensinamentos de como é a melhor pega, posição, ensinar a retirada do leite, até a realização do desmame.