O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante na madrugada desta segunda-feira (11) pelo estupro de uma paciente que estava dopada e passava por uma cesárea no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, município na Baixada Fluminense.
A prisão foi realizada depois que funcionários da unidade de saúde filmaram o anestesista colocando o pênis na boca da paciente durante a cirurgia. Após a divulgação do caso, uma segunda mulher se apresentou à polícia declarando também ter sido vítima de estupro pelo médico cinco dias antes.
Segundo a polícia, desconfiadas da postura do médico, enfermeiras do hospital decidiram usar um telefone celular para registrar o que ele fazia durante as cirurgias. O suspeito foi indiciado sob suspeita de estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de prisão.
Em nota, o advogado Hugo Novais, que defendia o anestesista, disse que só manifestaria sobre a acusação após ter acesso aos depoimentos e outros elementos de prova apresentados na audiência de custódia. Ele, contudo, deixou o caso no fim da tarde desta segunda e ainda não havia novo defensor constituído.
De acordo com a polícia, o médico ficou em silêncio durante seu depoimento. Nesta terça (12), após audiência de custódia, a Justiça deve decidir se converte a prisão em flagrante em preventiva ou se coloca o suspeito em liberdade.
Nas imagens, a paciente, uma mulher negra, aparece deitada na maca, inconsciente. Um lençol estendido sobre duas barras de ferro separa os demais médicos, que fazem a cesariana, de Bezerra, que está em pé próximo à cabeça da mulher.
Em determinado momento, ele retira o pênis de dentro da calça e o coloca na boca da paciente, enquanto olha para os lados seguidas vezes. A violência se estende por cerca de dez minutos. Ao fim, o anestesista limpa com um lenço o rosto da vítima e o próprio pênis.
A prisão foi realizada pela delegada Bárbara Lomba, da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti. Em imagem veiculada pela TV Globo, o médico manifesta surpresa quando a delegada anuncia sua prisão pelo crime de estupro.
Frascos do sedativo utilizado pelo suspeito foram apreendidos e funcionários do hospital prestaram depoimento na delegacia. As investigações seguem para apurar outras possíveis condutas criminosas do médico.
Até o momento a Polícia Civil ouviu três pessoas da equipe de enfermagem, o chefe dos anestesistas, o suspeito, um dos médicos presentes no centro cirúrgico e a segunda mulher que se apresentou como vítima na delegacia. Ainda será preciso coletar o depoimento da paciente que aparece nas filmagens sendo estuprada.
Segundo a delegada Barbara Lomba, à frente das investigações, as enfermeiras decidiram gravar a cirurgia porque tinham notado algumas atitudes incomuns de Bezerra.
Elas desconfiaram da tentativa de fazer uma barreira física para dificultar a visão da paciente, do procedimento de sedação atípico em cesáreas e de alguns movimentos do médico, que parecia estar manipulando o rosto das pacientes.
Após a divulgação do caso, uma mulher de 23 anos, também negra, se apresentou à delegacia afirmando que também foi vítima de estupro pelo médico durante uma cesária realizada no mesmo hospital, no dia 6 de julho. Sua mãe afirma que a filha saiu totalmente dopada do procedimento e que acordou apenas no dia seguinte à noite.
Ainda segundo a mãe, a filha acordou com uma substância branca no pescoço. Inicialmente, a família achou que era resultado de algum procedimento do hospital. Quando assistiu ao noticiário nesta segunda e viu que o médico havia sido preso, ela concluiu que sua filha também havia sido vítima de um estupro.
Em entrevista a jornalistas, a segunda vítima disse que está indignada porque o médico teria se aproveitado de um momento vulnerável para cometer o crime. Ela afirmou que deseja que o anestesista fique preso por muito tempo e que outras mulheres o denunciem.
A mãe da paciente disse que Bezerra chegou a passar na sala de cirurgia após a cesárea e agiu normalmente, como se nada tivesse acontecido. O marido da gestante não foi autorizado a acompanhar a cirurgia.
A delegada disse que Bezerra pode ter feito ainda mais vítimas. Só no domingo (10), a mesma equipe de enfermagem acompanhou outras duas cirurgias. O hospital vai ceder à polícia a relação das pacientes de cujas cirurgias ele participou e os relatos da equipe também poderão auxiliar nas investigações. Os prontuários poderão ajudar a identificar quais medicamentos foram utilizados e sua quantidade.
À frente da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti, Lomba afirma que ficou muito impressionada com o caso.
"Ninguém imaginava que pudesse ser dentro de um centro cirúrgico, praticado por um profissional que deveria estar zelando pela saúde da pacienre, dentro de um hospital dedicado ao atendimento de mulheres", diz.
"A pessoa na hora de ter um filho, totalmente nas mãos de um profissional de saúde, indefesa, exposta, fragilizada. Se ainda ficar provado que ele aplicava esse tipo de substância desnecessariamente só para sedar e cometer o crime É algo muito inacreditável, hediondo."
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde e a direção do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart afirmaram que foram acionadas pela equipe médica e reportaram o crime à Polícia Civil. Bezerra foi preso em flagrante no hospital.
Segundo a secretaria, o médico não é servidor do estado. "Ele tem título de especialista em anestesiologia, CRM [registro profissional] regular e prestava serviço há seis meses como pessoa jurídica para os hospitais estaduais da Mãe, da Mulher e Getúlio Vargas", diz nota do órgão.
O hospital afirma que abriu uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas e notificou o Cremerj (conselho regional de medicina do Rio de Janeiro).
Em nota, o conselho disse que abriu um procedimento cautelar para a suspensão imediata de Bezerra, devido à gravidade do caso. "Também está sendo instaurado processo ético-profissional, cuja sanção máxima é a cassação do exercício profissional do médico."
"Esse tipo de comportamento é um completo absurdo e estamos confiantes de que as autoridades competentes irão apurar o que de fato ocorreu e punir o médico com todo o rigor, caso fique comprovado o crime", diz trecho da nota publicada no site do órgão.
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