Margarida Salomão acredita que Juiz de Fora precisa de reestruturação total
As modificações abrangem um novo plano de transporte, parceria com as polícias e remodelagem do sistema de educação
Repórter
12/9/2012
Encerram nesta quarta-feira, 12 de setembro, as entrevistas com os candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). O caderno especial sobre eleições traz nesta edição a entrevista com a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) Margarida Salomão. Professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Margarida foi reitora da instituição por dois mandatos, entre 1998 e 2006. No primeiro mandato do ex-prefeito Tarcísio Delgado (1983 a 1988), Margarida ocupou os cargos de secretária de Administração e secretária de Governo. Em 1988, foi candidata a vice-prefeita, juntamente com o professor Murilo Hinguel; e nas últimas eleições municipais, em 2008, candidatou-se pela primeira vez ao cargo de prefeita.
As perguntas feitas aos candidatos foram realizadas com base no caderno especial sobre eleições do Portal. Ao lado de José Roberto Maranhas, Margarida integra a coligação Juiz de Fora para Todos. Confira, abaixo, o bate-papo realizado com a candidata. Assista, ainda, ao vídeo acima gravado com a candidata.
ACESSA.com – Qual é a sua proposta para melhorar a questão do transporte para a cidade?
Margarida - Ênfase total ao transporte coletivo. Hoje Juiz de Fora tem mais ou menos na rua 50% da população levada por veículos individuais, e 50% viajando por ônibus. Segundo os técnicos, se 70% dos passageiros passarem a usar o transporte coletivo, a cidade será um paraíso. E por que o automóvel é tão utilizado na cidade? Porque o transporte coletivo funciona muito mal. Ele é mal planejado e mal gerido.
A infraestrutura viária da cidade está operando há 30 anos. Nesse período, passamos de uma frota de 40 mil veículos para 200 mil. É necessário que nos empenhemos em reestruturar o transporte coletivo com a maior competência técnica que nós conseguirmos. O Brasil e Juiz de Fora têm técnicos competentes e vamos trazê-los para nosso governo, para produzirem essa grande mudança no transporte público.
Ainda sobre o transporte coletivo, acredito que temos que fazer uma integração das linhas. Para isso, vamos fazer um estudo dos trajetos mais intensos, para indicar uma redistribuição das viagens. Então, a solução do trânsito em Juiz de Fora é viabilizar o transporte de tal modo que as pessoas prefiram deixar o carro em casa.
Também acho que uma forma de desobstruir, de forma definitiva, o sistema, é buscar a realização de um projeto já aprovado no Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] e já licitado. Que é a transposição do transporte de carga de Juiz de Fora para o anel ferroviário. Um arco que está projetado entre o Retiro e a Ponte Preta. E essa linha férrea, que atualmente é usada para o transporte de carga, seria usada para o transporte de passageiros. Seria o nosso metrô de superfície. É um grande projeto, com um custo mais elevado do que aqueles que a gente costuma identificar em Juiz de Fora. Mas, não obstante, é um projeto fundamental para que nós tenhamos uma desoneração das vias, em termos de transporte individual, e o uso de um meio que é sabidamente mais recomendável ecologicamente, mais barato, otimizando um recurso já disponível.
ACESSA.com – O que você pensa da implantação de sistema troncalizado? Haveria essa possibilidade?
Margarida - Não temos como implantar um sistema troncalizado nos termos em que se pensava no passado. O que nós temos que fazer é integrar, quer dizer, podemos ter uma linha fazendo a conexão Norte/Sul. Vamos adotar o bilhete único, pois essa medida é adotada com êxito em grandes cidades e nós podemos fazer em Juiz de Fora. Assim, teremos viagens regionais. A adoção do bilhete único e de corredores de ônibus irá tornar a viagem mais rápida e atrativa, fazendo com que as pessoas passem a andar de ônibus.
ACESSA.com – Juiz de Fora conta com projetos para a implantação de ciclovias, principalmente na região Norte. Seria uma solução para o problema do trânsito?
Margarida - É um dos meios que pode favorecer, além de ser uma medida ecologicamente correta. Mas temos o problema em Juiz de Fora do relevo, por isso acredito que na Zona Norte seria inviável. Claro que hoje existem bicicletas motorizadas, mas aí teríamos que ter um projeto global. Então, isso está dentro desta mudança sistêmica que a gente quer implantar. É viável, mas dentro de um redesenho do sistema.
ACESSA.com – O que falta para a melhoria da educação na cidade, no que tange os baixos salários dos professores? E possíveis projetos para esta área?
Margarida - Faltam três coisas. Universalizar o acesso à creche e à educação infantil. Isso é fundamental para preparar a criança dentro do sistema escolar.
A segunda coisa é voltar com os cursinhos populares e preparatórios para concursos. Também temos que casar o EJA [Educação de Jovens e Adultos] com a formação profissionalizante. Não adianta ficar reclamando que os jovens estão ociosos e, por isso, se interessam por drogas e dirigem-se à criminalidade. Como se isso fosse uma escolha de vida. Isso é, na verdade, uma falta de escolha.
E a terceira coisa é integralizar a educação fundamental com a implantação do contraturno. Isso foi feito em todas as cidades em que as prefeitas do PT governam. Este projeto consiste em a criança, depois da aula, usar equipamentos disponíveis na comunidade para o seu acompanhamento escolar, para que elas façam esporte, tenham alguma atividade cultural de música, dança, cinema e teatro.
Acessa.com - O baixo salário dos professores e profissionais da educação é apontado como um dos principais problemas. Qual seria uma possível solução para esse impasse?
Margarida - É um compromisso nosso cumprir a Lei do Piso Nacional. Esta lei é uma iniciativa do governo do PT. Então, não faz sentido que eu, uma candidata do PT, tenha dúvidas sobre a implantação da Lei do Piso. Com isso, acredito que iremos atrair pessoas qualificadas para a educação municipal e estaremos tratando os profissionais da educação com respeito. E certamente por causa disso, eles se sentirão mais estimulados e motivados para fazerem a sua árdua tarefa.
Acessa.com - Como fazer da cidade um polo integrado de desenvolvimento econômico? Visto que temos, por exemplo, o Expominas, distante e com infraestrutura precária.
Margarida - A primeira coisa que precisamos é de um anel rodoviário. Temos um aeroporto excelente em Goianá, que foi concebido para ser um aeroporto internacional de cargas, mas também pode ser de passageiros. Precisamos destravar a conexão do aeroporto com a BR-040. Pois assim, imediatamente, iremos viabilizar o Expominas.
Acho também que a gestão do Expominas deve ficar entregue a Juiz de Fora. É necessário municipalizar a gestão, inclusive com a participação da iniciativa privada. O Expominas é um local subutilizado. Se desatarmos esses nós, vamos melhorar o setor hoteleiro, de serviços e de transporte intermunicipais.
Acessa.com - Como explorar a possibilidade de crescimento do comércio para além da área central? Temos casos de bairros que desenvolvem essa atividade, como São Mateus, Benfica e Manoel Honório, mas que já registram fechamentos devido à falta de segurança e ao preço elevado dos alugueis, por exemplo.
Margarida - Temos que oferecer medidas para melhorar a segurança e assegurar condições de infraestrutura, como limpeza das áreas comerciais e iluminação pública. Sem isso, não temos nada. Teremos que garantir essas condições de infraestrutura, pois isso irá melhorar até mesmo o trânsito na região central, pois irá desonerá-lo. Também acredito que poderemos ter ferramentas fiscais que estimulem empreendimentos regionalizados.
Acessa.com - A saúde é apontada como um dos principais problemas da cidade. Qual é a visão da senhora a respeito deste segmento?
Margarida - A saúde é o grande clamor do juiz-forano no momento e terá tratamento prioritário no meu mandato. Entre as ações que vou aplicar durante o mandato, visando melhorias para esta área, está o investimento maciço nos postos de saúde, que passarão a funcionar das 8h às 20h, bem equipados e com profissionais diversificados para atender o cidadão de forma mais eficiente e mais ágil. Além disso, vou investir no Programa de Saúde da Família (PSF), incluindo dentistas nas equipes e expandindo a cobertura, que sofreu uma redução nos últimos anos em Juiz de Fora.
Acessa.com - O salário de profissionais da saúde é apontado como um problema, que acaba desencadeando outros. O que pode ser feito?
Margarida - Com relação ao baixo salário dos médicos e profissionais da área da saúde, é um grande problema que acaba desencadeando em outros tantos. O salário dos médicos do PSF em Juiz de Fora está abaixo da média do vencimento praticado em outros municípios. A alta rotatividade dos médicos, que buscam melhores salários, afeta diretamente o atendimento à população. Eu tenho assumido o compromisso de elaborar o plano de cargos e salários para os profissionais da saúde, melhorando suas remunerações.
Acessa.com - Quais seriam as medidas necessárias para a melhoria da segurança em Juiz de Fora?
Margarida - Teremos ações preventivas e educativas. E, claro, ações de intervenções, que são as repressivas, pois elas são necessárias para garantir que o cidadão sinta-se seguro.
Temos o plano de criar uma Secretaria de Defesa Social, para integrar as forças municipais, com as forças das polícias Militar, Civil e Federal. E integrá-la com a participação comunitária, de tal modo que a segurança seja um bem disponível para a cidade. Para a segurança ser algo prioritário, é preciso focar isso no próprio desenho do governo. Por isso, teremos uma Secretaria de Defesa coordenando essas entidades e melhorando a participação da própria Prefeitura.
Também teremos várias ações transversais para a juventude e os idosos. Coordenando áreas de cultura, educação e esporte. Vamos investir muito no esporte, pois é uma das melhores maneiras de afastar as pessoas da violência e ainda melhorar a saúde.
Retribuição para Juiz de Fora
José Roberto Maranhas é médico, com especialização em ortopedia. Durante toda a sua vida, o único período em que se afastou de Juiz de Fora foi durante a especialização no Rio de Janeiro. Apesar de ser filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), desde 1998, nunca exerceu um cargo político. Mas traz em seu currículo os cargos de presidente do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia Pública, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia e vice-presidente do Tupi Futebol Clube por vários períodos.
Em entrevista ao Portal ACESSA.com revela que resolveu ingressar no meio político para oferecer algo em troca à cidade. "Nós nascemos, vivemos e crescemos nessa terra, às vezes sem conhecer a própria cidade e sem poder fornecer a ela algo em troca. Quero retribuir tudo de bom que a cidade me trouxe. Realizar um serviço em prol da comunidade."
Maranhas ainda revela que a escolha para participar desta coligação foi ideológica. "Trabalho há 30 anos no serviço público e o PT tem objetivos sociais mais abrangentes e concretos. Se fosse outro partido, talvez não aceitaria."
Os textos são revisados por Mariana Benicá
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Luiz Cavalini Jr.
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