Sem pílulas e sem prescrições?

Nome do Colunista André Salles 5/10/2017

Em práticas ampliadas pela Antroposofia não se oferece serviços como uma solução para o mundo relacional dos homens. O foco é inverso: a observação (fenomenológica) do próprio homem para que assim ele possa conhecer a si mesmo e a tudo aquilo que o cerca, bem como desenvolver-se. As práticas atualmente ampliadas pela Antroposofia, se realmente dela nasceram, têm como objetivo o despertar da consciência do homem, algo bastante diferente de oferecer a ele uma "pílula" através de uma "prescrição".

Também em suas práticas deve-se observar a distinção entre realizar as práticas “em si mesmas” e a de acrescentar ao conhecimento um “algo” que não lhe pertence (um “algo” do mundo próprio). Assim deve nascer a Psicologia Antroposófica. Por meio do diálogo, a possibilidade do despertar para a “Verdade do Ser” que se “É”, que existe, antes de sua relação com o mundo exterior. Será que o conceito de liberdade de Rudolf Steiner não teria seus fundamentos nesta “Verdade do Ser”, como ser que existe antes de sua chegada ao mundo?

O risco nos dias atuais, com a multiplicidade do conhecimento, seja ele um conhecimento popular ou científico, no que diz respeito à ampliação Antroposófica, está justamente no momento em que o profissional, seja de qual área for, entra em contato com o conhecimento Antroposófico. Quando ele estabelece o seu primeiro contato com este conhecimento. Como o “ser interior” daquele que contata as práticas Antroposóficas e o imenso Conhecimento Antroposófico está configurado? Esta pergunta é importante para a reflexão, sobretudo para o Psicólogo. Em síntese, o Profissional está ou não está preparado para não acrescentar “algo” de seu mundo próprio de relações àquilo que a Antroposofia é em si mesma. Este tipo de engano foi expresso por Rudolf Steiner quando citou Goethe (Do ensaio Der Versuch als Vermittler von Object und Suibject (1793) em o Livro TEOSOFIA ao falar da natureza do homem. Goethe ali citado diz: “o homem está exposto a mil enganos, que por vezes o envergonham e lhe amarguram a vida” quando observado em sua relação com o mundo exterior.

Será que o profissional e seu arcabouço teórico, seja ele da Psicologia, Medicina ou outra prática profissional comum em nossos dias é capaz de deixar de apreciar as coisas “com relação a si mesmos” (Goethe -1793)? Para uma reflexão Antroposófica a respeito deste possível engano ou deste “acrescentar algo” às coisas, Rudolf Steiner nos ofereceu a possibilidade de uma observação em três níveis. Assim, para e por uma prática Antroposófica é importante refletir sobre o que é a psicosofia (Psicologia Antroposófica) naquilo em que remete à norma “do agrado e do desagrado” (Goethe -1793), “do que atrai e do que aborrece” (Goethe -1793), “do julgar, da simpatia e da antipatia” (Steiner). É crucial ao Profissional que amplia sua profissão pela Antroposofia, mesmo que impelido por, saber se ele faz ou se ele não faz da Antroposofia “seu mundo próprio” de forma a se expor a “mil enganos”.

Abaixo extraímos do Livro Teosofia de Rudolf Steiner elementos para uma reflexão do conhecimento e das práticas Antroposóficas. Que possamos, com estes princípios formulados por Rudolf Steiner, profissionalmente não estar expostos a “mil enganos”. Nada melhor: acreditamos estar livres destes enganos.

“Esse pensamento expresso por Goethe chama a atenção dos homens para três coisas. A primeira são os objetos cujas impressões lhe afluem continuamente pelos portais dos sentidos, objetos que ele apalpa, cheira, degusta, ouve e vê. A segunda são as impressões que esses objetos causam nela, e que sob forma de agrado ou desagrado, cobiça ou nojo, caracterizam-se pelo fato de ele achar um simpático e outro antipático, um útil e outro nocivo. E a terceira são os conhecimentos que ele alcança sobre os objetos ‘como se fossem um ente divino’, são os mistérios da atuação e da existência desses objetos que se lhe desvelam.”

“Esses três domínios distinguem-se nitidamente na vida humana; e assim o homem se apercebe de estar entretecido ao mundo de tríplice maneira. A primeira maneira é algo com que ele se depara, aceitando-o como fato dado; pela segunda maneira ele faz do mundo seu assunto próprio, algo que tem importância para ele; a terceira maneira ele considera como uma meta à qual deve aspirar incessantemente.”

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