Desligamento Emocional
Desligar-se do outro não é deixar de se importar, mas sim, deixar de viver em função do outro. Também não é deixar de preocupar com o seu sucesso e nem de deixar torcer para que tudo de bom aconteça, mas permitir que o outro lute pela própria conquista.
Este desligamento é muito difícil de se conseguir, é necessário uma autoreflexão e um exercício diário, nesta enorme conquista pessoal que é aprender ou reaprender a cuidar da própria vida sem depender do outro.
Existe uma enorme diferença entre dependência física e dependência financeira da dependência emocional. Este último é o pior deles.
Na dependência financeira, o desligamento pode ser feito a qualquer momento, a partir do instante em que se conquista a própria autonomia. A dependência física pode ser transferida de uma pessoa para outra ou até mesmo na utilização de um objeto como apoio. Mas na dependência emocional o processo é sutil, profundo e muito mais difícil.
A pessoa que não está pronta para o desligamento emocional dá mil desculpas ou outras tantas justificativas para permanecer no processo doentio que se encontra. Muitas vezes colocando-se na posição de altruísta e abnegado, quando na verdade ele próprio é o mais doente da relação.
O que leva uma pessoa a alimentar uma relação disfuncional? Como também o que impede uma pessoa de buscar ajuda na relação que adoece cada vez mais a cada dia?
Não será o momento de se autoanalisar para buscar as causas que me mantém neste tipo de relação? O que preciso fazer para olhar para dentro de mim e me tornar saudável diante de minha própria vida e parar de dar a desculpa de que preciso "proteger o outro"? O que é preciso para me conscientizar de que necessito procurar meus defeitos e corrigi-los ao invés de repreender e discutir com o outro?
Todos estes questionamentos devem ser feitos todos os dias dentro de nós, entendendo que o desligamento emocional é um processo que me ensina a viver cada dia como ele vem, e me entregar a este dia, desprogramando a ânsia de ajustar este dia aos meus desejos de forma obsessiva. E este processo é lento, pessoal e intransferível.
Nossa mente é uma máquina perfeita, tudo aquilo que repito constantemente torna-se uma programação mental e para reprogramar ou desprogramar, devo fazê-lo de forma lenta e consciente - mas firme - até conseguirmos atingir o desligamento emocional.
Isto vale para todos os hábitos negativos de nossa vida. Hábitos nocivos e destrutivos. Vícios de forma geral.
Não adianta usarmos paliativos, ou seja, encobrir a causa ao invés de atacá-la.
Desligar-se dos vícios fora de nós, como as substâncias químicas, alcoólicas, comestíveis e outros é muito difícil, mas desligar-se do outro costuma implicar em uma dificuldade ainda maior por tratar-se de ter que combater o que está dentro de mim e não fora.
Todos os grupos de mútuo ajuda adotam estes princípios:
1- Desligar-se não significa parar de se importar, significa que eu não posso fazer tudo pelo outro.
2- Desligar-se não é isolar do outro, é sim a aceitação de que não posso controlar o outro.
3- Desligar-se não é permitir que o outro continue com a doença, mas permitir que ele ou ela aprenda com as consequências naturais.
4- Desligar-se é admitir que não temos poder, o que significa que o futuro não está em minha mãos.
5- Desligar-se é não tentar culpar ou mudar o outro, é fazer o melhor de mim mesmo.
6- Desligar-se não é cuidar de outra pessoa, mas se importar com ela.
7- Desligar-se não é consertar, mas dar apoio.
8- Desligar-se não é julgar, é permitir que o outro seja um ser humano.
9- Desligar-se é não estar no meio, arranjando todas as situações, mas permitir, que os outros influenciem seus próprios destinos.
10- Desligar-se é não proteger, é permitir ao outro encarar a realidade.
11- Desligar-se não é negar o problema mas aceitá-lo.
12- Desligar-se é não repreender ou discutir, mas procurar meus próprios defeitos e corrigi-los.
13- Desligar-se não é ajustar aos meus desejos, mas viver cada dia como ele vem, e me entregar a esse dia.
14- Desligar-se é não se arrepender do passado, mas crescer e viver para o futuro.
15- Desligar-se é ter pelo menos medo e mais amor.
Enfim são princípios que devem e podem ser adotados em todos os dias de nossas vidas.
Ana Stuart
é psicóloga e terapeuta familiar
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