Artigo
Neofobia - A dif?cil aceita??o dos novos sabores
::: 13/11/2003

Estudos sobre comportamento alimentar de crian?as pequenas mostraram existir, no estabelecimento de prefer?ncias alimentares, influ?ncias de fatores heredit?rios e ambientais. A percep??o dos sabores ? tamb?m fruto de experi?ncias, sendo resultado de uma s?rie complexa de est?mulos que se alternam com a experimenta??o. Fatores psico-sociais influenciam as experi?ncias alimentares, proporcionando a aprendizagem inicial para a sensa??o da fome e da saciedade e para a percep??o dos sabores.

A chamada ?neofobia? ? uma caracter?stica muito observada em pr?-escolares (crian?as de 1 a 6 anos) e significa a relut?ncia em consumir novos alimentos, considerados inicialmente estranhos. Estudos mostram que a rejei??o precoce pode ser alterada com a experi?ncia, indicando que muitos dos alimentos que as crian?as rejeitam inicialmente poder?o acabar sendo aceitos se a crian?a tiver ampla oportunidade de provar o alimento em condi?es favor?veis. Nessa perspectiva, a rejei??o precoce a novos alimentos pode ser considerada como um exerc?cio de adapta??o.

Ao inv?s de refletir uma falta de colabora??o ou negativismo, a rejei??o a novos alimentos pela crian?a pode ser encarada como uma resposta normal e at? mesmo uma adapta??o.

A neofobia alimentar pode ser reduzida por m?todos de aprendizagem na alimenta??o que permitem que a crian?a aprenda sobre fome e saciedade, subst?ncias comest?veis, sabores dos alimentos e quantidade de alimentos que deve ser consumida.


Como evitar
Estudos sobre a exposi??o repetida de novos alimentos com crian?as pr?-escolares mostraram que n?o basta apenas ver ou sentir o cheiro; ? necess?rio que a crian?a prove o alimento para que se produza o condicionamento, aumentando a aceita??o do mesmo. Geralmente, isso ocorre ap?s 12 a 15 apresenta?es do alimento. Com isso, podemos deduzir que n?o se deve desistir de oferecer um alimento a uma crian?a devido ?s recusas iniciais. A insist?ncia, ou seja, a exposi??o repetida pode contribuir para redu??o da neofobia caracter?stica do pr?-escolar. O H?bito de ver um alimento sempre ? mesa, fazendo parte da alimenta??o da fam?lia, ? um fator que favorece a aceita??o do mesmo.

Nas atitudes e estrat?gias dos pais no sentido da oferta dos alimentos, muitas evid?ncias sugerem que os alimentos com baixa palatabilidade, mas de alto valor nutritivo, como os vegetais, costumam ser oferecidos em contexto negativo, atrav?s de estrat?gias coercitivas, enquanto os alimentos de alta palatabilidade, embora de baixo valor nutricional (doces, balas etc) costumam ser oferecidos em contexto positivo (dias de festas, momentos de lazer, intervalos de escola etc), potencializando-se a prefer?ncia por esses alimentos.

As conseq??ncias fisiol?gicas da ingest?o tamb?m influenciam os padr?es de aceita??o do alimento pelas crian?as e tais conseq??ncias influem, tamb?m, na prefer?ncia alimentar, na sele??o dos alimentos e na quantidade de alimento que as crian?as comem. De maneira semelhante, as crian?as tamb?m adquirem prefer?ncias por alimentos quando formam associa?es entre as caracter?sticas sensoriais dos alimentos (sabor, principalmente) e as conseq??ncias positivas p?s-ingest?o, tais como a saciedade da fome quando se consome alimento com alto valor cal?rico.

A pronta disponibilidade de alimentos com elevado teor de gordura, a associa??o consistente destes alimentos com contextos sociais positivos e a predisposi??o das crian?as em estabelecer prefer?ncias por alimentos com elevado teor de gordura e calorias, podem contribuir para os problemas atuais da maior incid?ncia da obesidade infantil.

Educa??o ? fundamental
Pesquisa feita na d?cada de 30 mostrou que as crian?as novas possuem uma capacidade inata de regular a ingest?o de alimentos, ou seja, a crian?a tem capacidade de ?saber? o quanto deve comer, entendendo-se quantidade como a satisfa??o de suas necessidades cal?ricas, embora n?o tenham a mesma habilidade em selecionar alimentos de qualidade. Demonstrou-se, igualmente, que essa auto-regula??o da quantidade de alimentos ingeridos pode ter rela??o estreita com a obesidade infantil.

Crian?as que apresentaram uma regula??o da quantidade de alimentos ingeridos menos precisa tinham maior quantidade de gordura corporal, ou seja, apresentavam maior tend?ncia ? obesidade. Observou-se tamb?m que aquelas crian?as que tinham um melhor controle sobre a ingest?o de alimentos eram filhas de pais que relataram pr?ticas de alimenta??o mais flex?veis.

H? diferen?a entre saciedade f?sica e saciedade ps?quica. Normalmente, os alimentos s?o ingeridos at? se obter sensa??o de plenitude g?strica, de acordo com a capacidade funcional do est?mago. Indiv?duos motivados por tens?es ps?quicas continuam ingerindo alimentos at? alcan?arem al?vio da tens?o, isto ?, saciedade ps?quica.

As estrat?gias utilizadas pelos pais na alimenta??o da crian?a podem influenciar o peso da mesma, podendo levar at? a um ganho de peso excessivo. Geralmente isso se deve a pr?ticas de indu??o, como o ?encorajamento para comer?. Resultados de pesquisas mostraram que crian?as de peso normal recebem, geralmente, mais verbaliza?es neutras sobre os alimentos do que crian?as com sobrepeso. Outros estudos mostraram que alguns pais se mostram mais preocupados com a quantidade ingerida de alimentos, e n?o com o desenvolvimento de um comportamento alimentar adequado.

O grau de controle externo exercido pelos pais pode impedir que a crian?a aprenda sobre a sensa??o da fome e da saciedade, afetando o seu pr?prio controle de ingest?o alimentar, resultando, assim, em altera?es de seu peso. Resumindo, um controle restritivo e r?gido por parte dos pais tende a prejudicar a capacidade da crian?a em se auto-regular. Inversamente, pr?ticas de controle mais livres por parte dos pais promovem o desenvolvimento do amor-pr?prio e do autocontrole nas crian?as.

A adequada introdu??o dos novos alimentos no primeiro ano de vida, com uma correta socializa??o alimentar a partir desse per?odo, bem como a disponibilidade de variados alimentos saud?veis em ambiente familiar agrad?vel, permite ? crian?a iniciar a aquisi??o das prefer?ncias alimentares respons?veis pela determina??o do seu padr?o alimentar.



Oferecemos, abaixo, algumas sugest?es que poder?o ajudar os pais na forma??o de bons h?bitos alimentares em seus filhos:



1- Colocar pouca quantidade de comida no prato e garantir a repeti??o quando solicitada. Crian?as nessa fase se adaptam melhor com pequenas por?es de alimentos oferecidas v?rias vezes ao dia (5 a 6 refei?es).

2- Manter um bom intervalo entre as refei?es, dando tempo para que a crian?a sinta fome. Intervalos curtos geram recusas mais freq?entes, o que compromete a aceita??o de determinados alimentos.

3- Evitar dar comida na boca. A crian?a deve participar ativamente do ato de comer.

4- Se um alimento ? recusado, substituir por outro equivalente. Alguns dias depois, oferecer o alimento recusado novamente.

5- A crian?a tende ? imita??o: todas as atitudes de quem prepara e de quem oferece a refei??o devem ser positivas e favor?veis para a forma??o de bons h?bitos.

6- N?o for?ar a crian?a a comer nem utilizar a refei??o como recompensa; essas pr?ticas podem criar resist?ncias dif?ceis de serem superadas.



7- N?o facilitar o acesso a balas, doces e guloseimas.

8- Evitar alimentos gordurosos, a?ucarados e excessivamente temperados (exemplo: conservas e embutidos).

9- A recusa a alimentos pode vir de outros aspectos que n?o o sabor: temperatura elevada, cheiro desagrad?vel ou forte, misturas de alimentos, temperos, tipo de corte etc.

10- Algumas causas normais de varia?es no apetite: maior ou menor grau de temperatura ambiental, maior ou menor atividade f?sica, maior ou menor excita??o ps?quica, digest?o mais r?pida ou mais lenta da refei??o anterior etc.



11- Outras causas: alimenta??o mon?tona, condi?es desfavor?veis de vida (como a restri??o ao ar livre e falta de exposi??o ao sol), car?ncias vitam?nicas etc.


Cristina Garcia Lopes
? nutricionista formada
pela Universidade Federal de Vi?osa.
Saiba mais clicando aqui.

Sobre quais temas (da ?rea de nutri??o) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A nutricionista Cristina Lopes aguarda suas sugest?es no e-mail nutricao@jfservice.com.br