Volta ao mundo O juizforano Márcio Assis deu a volta ao mundo, comeu escorpião, morou em um templo budista e dormiu até na Muralha da China




Renata Cristina
Repórter
15/12/2006

 

Comer escorpião bem fritinho, dormir na Muralha da China, ver o Solstício em Stonehenge, morar em um templo budista, assistir a estréia do Brasil na Copa do Mundo. Não, não estamos falando de sonhos ao ganhar na loteria ou da história de um rico empresário. Esse roteiro exótico faz parte da vida do juizforano Márcio Lopes de Assis, que viajou com apenas duas mochilas e algumas peças de roupa, durante 11 meses pela América do Norte, Ásia e Europa.

E se é que, para esse aventureiro a história tem um começo, meio e fim, vamos tentar encurtar o caminho! Ele deixou a família em 2002 e seguiu para os Estados Unidos em busca de uma pós-graduação em Nova York. Arrumou emprego, juntou dinheiro e fez amigos. Tudo parecia perfeito. Até que, após três anos na terra do Tio Sam, resolveu dar a volta ao mundo, sem um roteiro pré-determinado, sem visto para nenhum país em que pretendia visitar. O resultado disso tudo foi um álbum de 13 mil fotos, com lugares, aventuras e lembranças de algumas experiências de tirar o fôlego.


 

A aventura
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Márcio saiu do extremo leste dos EUA para o oeste, até chegar no Hawaí, onde se encontrou com o amigo brasileiro, Ricardo Carter. Depois disso, só foi ver alguém conhecido após seis meses. "Conheci muita gente no caminho e não dava tempo de sentir saudades", reconhece.

Embora não tivesse um roteiro elaborado, a idéia inicial era cruzar a Sibéria até chegar na Rússia. Sua primeira parada saindo do Hawaí foi à Tailândia, por onde ficou dois meses. "Me apaixonei. A Tailândia é o Brasil da Ásia", define. Em meio às praias paradisíacas, o aventureiro viveu em uma ilha de pescadores, dormiu no chão e se alimentou de insetos pouco convencionais, como escorpiões, grilos, cigarras e aranhas. "Tinha gosto de baconzitos", conta sorrindo. Além do registro de um pôr-do-sol estonteante, uma de suas paixões, o viajante fez amigos de diversos países, com quem foi se encontrar nos destinos seguintes.

Durante sua temporada na Tailândia, Márcio ingressou em uma experiência para lá de transcendental. O jovem entrou em um monastério budista, deixando seus bens na portaria do templo e se entregou aos costumes e crenças da doutrina de Buda. "Fiquei durante quinze dias no mais absoluto silêncio", recorda. O que ele sentiu após essa pausa? "Uma paz de espírito incrível, principalmente, porque sou muito agitado", resume com influências da sabedoria oriental.

Diversos locais da China foram explorados pelo aventureiro que saiu de Hong Kong para o interior do país, de trem, e passou por diversas cidades até chegar em Pequim. Quando "conquistou" a Grande Muralha, teve uma idéia: dormir no símbolo maior do espírito nacional chinês. E foi isso que aconteceu.

"No final da tarde me escondi e esperei os guardas saírem de lá. Montei minha barraca e vi mais um pôr-do-sol maravilhoso", conta comemorando o fato de ter driblado os apavorantes guardas chineses.


Já na fronteira com a Rússia, Assis teve dificuldades para conseguir o visto e precisou ir diversas vezes fazer o requerimento. A autorização para visitar o país foi dada, mas por apenas 10 dias. A bordo do Transiberiano, o trem que atravessa a maior ferrovia do mundo, passando por oito fusos horários, Márcio chegou a Moscou. Na cidade, contou com a ajuda de uma amiga da rede de relacionamentos Hospitality Club e hospedou-se em sua casa. "Minha maior dificuldade de comunicação aconteceu em Moscou. Poucas pessoas falavam inglês e para entender o russo foi complicado", recorda.

De Moscou, o viajante partiu para Berlim com a intenção de ver algum jogo da Copa do Mundo. Márcio não só teve a sorte de conseguir o ingresso, mas de assistir à estréia da seleção brasileira na Copa. E como os ares da Sibéria ainda sopravam a favor da sorte, foi recebido por uma amiga, do amigo, daquele conhecido... aquelas coisas que só acontecem em filmes, mas que com ele tornaram-se comuns, devido a rede de infinita de amigos em torno do mundo. Resultado: a tal amiga entregou as chaves do apartamento em Berlim e foi viajar por uma semana. A hospedagem estava garantida no coração da Alemanha!

A passagem pela Copa 2006 estava cumprida e, é claro, que o nosso viajante não iria desistir no meio do caminho. Ainda lhe restava as grandes capitais da Europa, além dos românticos e saudosos vilarejos do Velho Continente. A Bélgica foi a porta de entrada para relembrar aquelas passagens dos livros de história, quando citavam burguesia e a nobreza, tão presentes na antiguíssima Bruxelas.

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De lá, foi preciso usar outro meio de transporte, contando com mais uma artmanha do ser humano: o Eurotúnel. Com apenas 20 minutos debaixo da água, o canal liga o norte europeu com a ilha da Grã Betanha. No caso de Márcio, o trem, chamado de Eurostar, carregou o ônibus que saiu de Bruxelas. Todo esse esforço da engenharia para chegar a cosmopolita Londres, cantada nos versos de Gilberto Gil.

Foi por London que o aventureiro se reencontrou com os amigos das ilhas da Tailândia, se lembra? Alguns neo zelandeses, chineses, alemães... e pelas terras da rainha Elizabeth passou por um outro momento transcendental: assistiu o solstício de verão nas pedras de Stonehenge. Não bastasse a oportunidade, já que o fenômeno só acontece duas vezes por ano - nos dias 21 ou 22 de junho e 21 ou 22 de dezembro, o aventureiro chegou no local, dirigindo um carro inglês. Após sete meses sem dirigir, Márcio teve que guiar na mão esquerda.

Em homenagem à sua mãe, que aniversariava na data, o viajante seguiu para Paris, fazendo o caminho inverso no Eurotúnel. "Ela adora Paris e resolvi percorrer todos os pontos da cidade fazendo fotos com o cartaz: Feliz Aniversário". Essa foi a forma que Márcio encontrou para matar um pouco da saudade da mãe.

A próxima parada seria em Madri, a caliente capital espanhola. Nesse momento, a aventura ganhou ares familiares, pois Márcio se encontrou com uma tia e primos que vivem há anos na cidade. Aproveitou para se aconchegar e sentir o calor das terras latinas. "Foi bom estar ali, com parte da minha família", admite. Por lá, percorreu os parques, as largas avenidas e as tradicionais touradas. E como um bom brasileiro foi visitar o estádio do Real Madrid.

 

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Depois de recarregar as energias com o calor da família, seguiu em direção à Barcelona e, logo após, explorou o sul do país. O próximo destino foi a terrinha de nossos irmãos "purtugueses", onde ficou por uma semana. Malas prontas, era a hora de voltar, abraçar a mãe preocupada, o pai orgulhoso, a irmã saudosa e muitos amigos. O retorno aconteceu no dia 23 de agosto deste ano. O que veio na bagagem? "A certeza de que todos os povos são iguais, mesmo com as suas diferenças culturais", conclui.

Para Márcio, uma coisa é certa: ainda há dois continentes inexplorados!

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